Está meio que em voga agora ser luciferiano, o que me parece um tanto incômodo e interessante ao mesmo tempo. Interessante porque realmente o luciferianismo em suas diferentes vertentes e tradições tem ganhado voz nos meios de comunicação, e incômodo porque isso tem gerado muitos enganos de cultuação, especialmente quando confundido com o diabolismo.
Você lê aqui:
O que é Luciferianismo
Existem várias formas de culto dentro do que é chamado Luciferianismo: Luciferianismo Gnóstico, Luciferianismo Filosófico (também chamado de agnóstico ou ateísta por alguns), Quimbanda Luciferiana, Goetia Luciferiana, Luciferianismo Ritualístico Ahrimanico, Luciferianismo Satúrnico, Luciferianismo Pagão, e a lista continua por aí, cada um com seus bons e maus representantes.
Algumas destas vertentes podem fazer bem para você, outras não, algumas se misturam bem na vida da pessoa, outras não. Isso depende principalmente do indivíduo. Lúcifer como portador da Luz é o que ilumina a individualidade de cada um.
A apoteose no luciferianismo é um conceito esotérico que tem ligação direta com o que para C.G. Jung se chamava individuação, se não como resultado pelo menos como caminho, e é uma grande conquista e prática diária. Uma prática não linear, por sinal.
O conhecimento e a experiência é a chave que liga a engrenagem no sistema da mão esquerda. Foi assim com todos os grandes magos ao longo da história.
Os caras sujaram as mãos, evocaram seres desconhecidos, fizeram rituais estranhos para eles próprios e foram precursores de diversos sistemas mágicos. Testaram grimórios antigos e incompletos. Quem tem medo de “sujar as mãos” não deve nem tentar se enviezar pela magia, muito menos pelos caminhos da mão esquerda.
Essa capacidade de “sujar as mãos” para calejar e ver o que podemos captar é uma virtude luciferiana que pode por vezes parecer confusa, mas quem acha que “perde sua mente’’ com estas experiências não está preparado para este caminho; que escolha outros, há muitos.
O luciferiano é um ser complexo, capaz de compreender mais de uma realidade e agir de forma múltipla, é por isso que no luciferianismo o principal é ter coerência, e não moral.
A moral Luciferiana: Coerência
A coerência é a ética nascida do interior, da verdade pessoal, já a moral é uma imposição de regras externas e valores grupais com o fim de se obter controle sobre alguma coisa.
Sociedades, empresas, famílias e grupos em geral precisam de moral. A moral une as pessoas de naturezas e impulsos diferentes em objetivos iguais. A “pessoa massa”, que é a maioria, é um ser que precisa de moral.
A moral tem seu próprio valor , e não queremos nem tentamos atacar a moral de qualquer psicoesfera em que estejamos. Nos individuar, ou seja, nos tornarmos independentes dentro da moral, implica em ter uma alternativa de igual ou maior valor, e mais um vez, a isso chamo de Coerência. No Thelema se chama de Vontade.
O individuado, ou o ser que busca o conhecimento de si de forma independente, é o único candidato da sociedade à ser um luciferiano que, como se vê, é um caminho mais solitário e independente, e por isso é tão difícil definir um luciferiano e o luciferianismo como se define uma religião ou um grupo de pessoas afins.
O luciferiano tem por dever conhecer diversos tipos de luciferianismo e gnoses, de forma a montar sua própria morada, ou imagem de Lucifer, em meio à tantas de suas faces e suas máscaras deíficas.
Os caminhos luciferianos citados são todos válidos e todos tem boas e más representações. A peneira e a alquimia destes elementos quem faz é aquele que chamamos de luciferiano.
Apesar de não podermos definir bem o Luciferiano, pois ele é algo único, podemos no entanto definir bem o que não é luciferiano, mas acredita, se diz e se passa por um.
Diabolismo Moderno: Caricaturas e sombras
A internet está cheia de fetiches góticos, fãs das trevas e da escuridão, que se dizem luciferianos, sem saber que este arquétipo trevoso de Lúcifer é apenas uma egrégora com este nome, que sequer faz parte do luciferianismo.
Se eu digo que não faz parte do luciferianismo é porque faz parte de outra egrégora, e pasme, é da egrégora de religiões fundamentalistas, especialmente a cristã.
Quando você procura por alguma meditação luciferiana no youtube por exemplo, o que mais encontra são vozes guturais e distônicas, gente que entoa enn como se estivesse vomitando, ou sons de filme de terror. Ao se deparar com isso, saiba que você não está em contato com nenhum tipo de Luciferianismo, você está em contato com uma prática cristã católica muito antiga chamada diabolismo.
O diabolismo foi muito comum na Igreja Católica medieval, especialmente nos séculos XIV e XV; era intensamente praticado por frades carmelitas e franciscanos na Itália, era um fetiche na França, e até mesmo na Espanha e em Portugal se embrenhou rapidamente dentro do curandeirismo popular.
Existem vários estudos sobre o diabolismo, porque dele surgiram duas coisas muito importantes. A “Santa Inquisição” e a demonologia que explicamos aqui.
Como todos os deuses de fora eram diabos, então todos começavam a entrar no “panteão” diabolista, e logo a Igreja começou a criar tribunais incriminatórios para combater esta expansão; juntava-se a isso as heresias de que comandar demônios para assuntos mundanos seria parte da liturgia.
Daí surgiu a Inquisição, como resposta avassaladora, trazendo consigo a demonologia com corruptelas de nomes de deuses pagãos como diabos, e práticas de tortura que botaram o terror por longo tempo no mundo ocidental.
O diabolismo é uma prática respeitável, teve seus “milagres” e testemunhos, e continuou presente de forma velada no curandeirismo e em diversos tipos de magia popular.
Os problemas são dois: Primeiro é que isso não é luciferianismo, apesar de se utilizar o nome Lucifer; segundo que o diabolismo moderno perdeu sua essência religiosa e base esotérica cristã, sendo hoje uma caricatura aguada do que já foi.
Fora de seu sistema católico, onde simbolizava uma “mão esquerda cristã”, o diabolismo fica limitado à imaturidades e deformações sombrias, sons pesados e coisas trevosas, geralmente como resposta-revolta contra a fé cristã.
Neste aspecto o diabolismo moderno é o contrário do Luciferianismo. O Luciferianismo é um caminho ativo de independência e individuação, de iniciações e descobertas. O diabolismo moderno (fora do cristianismo) é apenas uma reação, revoltada e perdida, uma contra-cultura com base em algo de fora.
O que não podemos fazer é fechar os olhos sem dizer à todos os ventos, o diabolismo não é luciferiano, e quem pratica o diabolismo está praticando uma forma de cristianismo, provavelmente revoltado com a fé de seus pais, por isso tanta escuridão e necessidade de feiúra e deformação para chocar a si mesmo e quem assiste.
O luciferianismo pode não ser bem definido, mas com certeza não é uma forma de diabolismo, pois seja praticado de forma feia ou bonita, nunca será reativo à crença de ninguém.
Fiat Lux, Ave Lux.
Adendo: Exemplos
À título de curiosidade, veja uma “meditação” que se diz “luciferiana”, mas está claramente na energia do diabolismo:
Veja agora dois vídeos de meditação que estão mais na energia Luciferiana: