Começo essa instrução correndo o alto risco de decepcionar você. A maioria das pessoas hoje em dia ao ler o nome Thaumiel não tem ideia do que se trata, mas os que entendem podem se sentir enganados e até ofendidos por serem esclarecidos neste texto.
Isso porque esta instrução não é sobre invocação, pactos, trevosismo, nem velas e altares. É sobre a compreensão prática de uma força das sombras, algo que existe no espelho do abismo de nosso inconsciente.

Se está preparado(a) para cruzar o abismo e ganhar um conhecimento que pode fazer diferença PRÁTICA na sua vida e não só teórica, vamos juntos!
Aprenda aqui:
Árvore da Morte: O que diabos é Qliphot?
Fui uma criança que viveu – sobreviveu – nos anos noventa, e as coisas ainda eram um pouco “únicas” por lá; um dos meus primeiros brinquedos foi uma imitação de máquina fotográfica que quando colocada contra a luz do sol, cada vez que eu clicava no botão aparecia uma imagem diferente.
Todas as imagens eram horrendas e muito mais realistas que as que pude encontrar hoje na internet; continham dinossauros e monstros, e como qualquer criança dos anos noventa eu adorava aquilo.
Ficava horas na janela, contra o sol, vendo monstros gigantes e bestas voadoras, e a imagem que mais me dava arrepios era a de um dragão de duas cabeças.
Um dragão que parecia realmente estar na janela, com olhos vermelhos e duas cabeças de boca aberta como que dando um berro ameaçador e desesperado ao mesmo tempo, era o mais próximo do que eu poderia chamar de “demônio”.
Agora, como um adulto ocultista e sobrevivente dos anos noventa, apresento um dragão de duas cabeças que deve provocar o mesmo senso de adoração, espanto, pavor e atenção que aquela imagem perdida da minha infância, na janela da minha memória.
Para começar esta instrução eu vou te passar, daquela forma rápida que usamos no Mente Magicka, as noções básicas para você não ficar igual um balão murcho boiando no esgoto enquanto entramos de árvore da vida e árvore da morte. Vamos lá!
Saiba que as Sephirot são os caminhos da Árvore da Vida na Kabbalah, são os pontos de força desta árvore divina, cada qual com um nome e potências ligados à determinado planeta e símbolos que resumem todo o Universo à partir da terra.

Saiba agora que as Qliphot são os caminhos da Árvore da Morte, estudada e representada na Sitra Ahra, são pontos de força desta árvore sombria que desce para baixo das raízes, ao contrário da árvore da vida, e cada qual tem um nome e potência ligados à “deuses demônios” e conceitos humanos da nossa natureza e seus excessos.

Thaumiel é o nome de uma Qlifa (singular de Qliphot, que é plural), que como expliquei é meio que uma “sephirot das sombras”. Enquanto que as sephirot são caminhos claros, conscientes e universais, as Qliphot são caminhos sombrios, inconscientes, particulares e únicos de cada alma. São tipo os “segredos sujos” do teu espírito nas vivências dele.
Nas Sephirot se faz o trabalho de sublimação em direção ao divino e também a canalização do que vem do astral para materializar na terra.
Nas Qliphot se faz o trabalho de exploração e extração do inconsciente (que tem ligação com todas as nossas consciências de outros corpos) de forças mais bestiais, individuais e “excessos” que trazemos dentro de nós para materializar e compreender essas forças de forma palpável, e quem sabe com isso controlá-las ao mesmo tempo que as expressamos.

Pelo mesmo motivo que alguém desabafa e conta seus podres e fraquezas; que se realiza uma fantasia sexual ou transa com alguém para ver “no que dá”; que se fica bêbado, que se dança de forma ridícula até não aguentar mais; que se dá uma chance para quem pode não valer a pena; desafia algo ou alguém que parece mais forte, ou se salta de para-quedas.
Existem coisas que só podem ser esclarecidas, compreendidas e vividas quando colocadas para fora, nem que seja uma vez. Existem coisas que só podem ser chamadas de “experiência” ao serem experienciadas, não adianta ler sobre elas, imaginar nem julgar. A Árvore da Morte com seus caminhos de excessos e perigos é exatamente isso para o espiritualista, esteja consciente dela ou não.
A Árvore da Vida e a Árvore da Morte estão presentes na evolução de TODOS NÓS em direção ao nosso Eu Superior, Consciência Divina, Sagrado Anjo Guardião, Lúcifer, Eu Divino, ou como quiser chamar seu Corpo Átmico.
A representação cabalística e a Sitra Ahra (conhecimento da árvore da morte) são formas de ilustrar isso de maneira a tirar a informação do campo abstrato e tornar mais palpável, consciente, para a gente poder lidar com essas forças com um pouquinho mais de clareza.
Agora que você entendeu vamos falar de Thaumiel, o devorador de cabeças.
Thaumiel, as duas cabeças de Deus:
Thaumiel nas Qliphot é a coroa da árvore da morte, é a cabeça, é o que seria Keter (a Divindade) da árvore da vida. É simplesmente a dualidade de tudo.
Eu sei que pode parecer uma tremenda pretensão falar logo sobre ele, mas espere aí…ninguém sabe se a árvore vai para baixo ou vem de baixo, e Thaumiel pode ser, para a sua surpresa, o primeiro dos grandes desafios e excessos que a alma do(a) ocultista – aquele(a) que se candidata à consciência – pode encontrar.

Thaumiel é a cabeça da árvore, a cabeça “das suas trevas”. Ele é representado por um gigantesco dragão que tem duas cabeças que se mordem uma à outra em constante conflito. Ele é também o devorador de cabeças, de consciências.
É muito interessante o tanto de referências e ligações que contém em Thaumiel. O Poder Regente (o deus demônio) desta Qlifa é Lucifer, e adiante vamos falar mais sobre ele aqui.
O dragão é um símbolo muito importante no Oriente: é o trazedor do fogo, da luz e da civilização; é quem permite ao ser humano se tornar mais humano, consciente, mas ao mesmo tempo é o que ensinou o ser humano a se defender e desde então vivemos em guerra.

O dragão que é a estrela do Oriente, tem duas cabeças num corpo só, uma preta e uma branca, e vivem em constante conflito que gera a harmonia, e é dessa simbologia que surgiu o Yin e Yang, que é base do ocultismo, filosofia, esoterismo e cultura orientais.
Diz-se inclusive que o símbolo Tai Ji (a bola do Yin e Yang) foi herança de Fu Hsi, o deus dragão humanóide de quem estávamos falando, a estrela do Oriente, que trouxe também o fogo para a humanidade.

Para você que curte algo mais trevoso e já está balançando a cabeça procurando por algo sombrio, não se preocupe. O Yin e Yang do Tai Ji não é apenas um símbolo de escolas de Kung Fu e livros de filosofia com frases de efeito.
É literalmente a representação da dualidade que permite as coisas existirem pois só tem forma aquilo que tem limites, separação do resto; é o jogo de luzes e sombras que existe na vida e na história do seu espírito. É o despertar da consciência, quando se percebe que não existe trevas sem luz, nem luz sem trevas.
Esta percepção não se dá jamais de forma pacífica ou metafórica, ela é sempre literal, caótica e pode ser até mesmo enlouquecedora para muita gente.
Isso porque no Dragão Yin e Yang, que é a Estrela do Oriente, que é a estrela da manhã, que é Lucifer, que é regente de Thaumiel, as duas cabeças se mordem e se conflitam como representação de tudo que existe, ou seja, tudo do que se tem consciência, porque algo só existe para você após você tomar consciência disso.
A Síntese da criação é feita através de duas forças que se opõem, e ela nasce – como toda síntese – do contraste de tese e antítese.
Thaumiel é portanto o princípio da criação e tudo que existe (Divindade), por isso é o que separa, individualiza, não existe nada senão o Eu exaltado que reconhece as coisas e elas passam a existir.
Thaumiel é o contraditório e o duvidoso, é aquilo que faz total sentido, mas pode ser uma total “viagem na maionese”; é aquilo que pode ter sido canalizado de uma sabedoria maior e dévica, ou apenas tirado da parte baixo-traseira do corpo de quem ensina.
Se você sente essa confusão ao ler esta instrução, estamos no caminho certo…
As trevas de Thaumiel, O Devorador
Como sempre nas Qliphot, Thaumiel não é só simbologia, mas um efeito prático na vida de toda pessoa, e principalmente quem se atreve pelas vias da magia, espiritualidade, ocultismo, esoterismo, etc…
O efeito prático de Thaumiel é provocar a consciência. Isso porque toda Qliphot provoca, influi, cutuca e por vezes ameaça ou simplesmente invade a nossa vida. Veja, provocar não é dar, não é oferecer, não é sugerir, nem mesmo resultar.
A influência de Qliphot é sempre provocativa, e por isso elas devem ser estudadas na prática e na percepção, do contrário elas simplesmente nos jogam de um lado para o outro como bonecos de pano nas mãos de crianças hiperativas.
Pode não ser para todos, mas para muita gente que se inicia ou pretende iniciar em algum caminho esotérico (de magia e consciência), Thaumiel não é o último desafio, mas a primeira sombra, o primeiro provocador, pois é o que está em sua cabeça.
Thaumiel não é apenas um “provocador” de dúvidas, pois a dúvida e o questionamento, ao contrário, é uma virtude luciferiana, portanto é a parte boa na Qliphot, é a característica de seu Poder Regente.
Enquanto força provocativa, Thaumiel se torna um perigo real e extremamente presente em nosso meio, e devora as nossas mentes através de suas duas cabeças draconianas.

A primeira cabeça de Thaumiel provoca e devora o inseguro. É aquele que toca o conhecimento e encolhe. Busca validação externa, transfere a responsabilidade para guias, entidades, e tradições.
Tem medo de assumir responsabilidade espiritual por si mesmo, pelo próprio caminho, pelas suas escolhas; é uma vítima, um eterno aluno, um necessitado de alguem para chamar de “guia”.
Esse tipo devora a própria força. Ele se ajoelha antes mesmo de entender diante do quê. Na linguagem de Thaumiel: “Não tenho, não sou. Alguém pense por mim. Alguém me dê. Alguém me ajude. Alguém me salve. Alguém me proteja. Alguém me ilumine.”
A segunda cabeça de Thaumiel devora a mente do adepto e o transforma no megalomaníaco em duas formas, aquele que tem Complexo do Salvador, do Mestre, e acha que outras pessoas tem o dever de ouvir suas instruções e elogiar seus caprichos; também aquele que acha que não precisa de instrução alguma.
É aquele que toca o conhecimento e infla. Se vê como escolhido, acha que veio “iluminar” ou “salvar” os outros. Se coloca como mestre, guia, protetor. Usa linguagem de autoridade sem estrutura interna.
Esse tipo devora os outros. Usa o conhecimento como armadura narcísica, como máscara caricata de um eu doente, o oposto do Eu exaltado. Na linguagem de Thaumiel: “Eu sei a SUA verdade. Eu guio. Eu mando. Eu que protejo. Não se vai até lá senão por mim, comigo.”
Enquanto que na árvore da vida temos o abismo em Daath, que é o salto para o Conhecimento para se chegar em Keter (a coroa da vida), na ávore da morte temos no mesmo lugar, no abismo para chegar em Thaumiel, a qlifa Belial que significa “queda”, ou seja, não há opção, já se caiu no abismo.
Isso significa que cairemos quase que inevitavelmente nas mordidas de pelo menos uma das duas cabeças devoradoras de Thaumiel, e seremos provocados a nos erguer deste abismo inevitável (Belial), seja em nós mesmos, seja na influência daqueles com os quais nos associamos.
Thaumiel nos provoca a cair na soberba ou na insegurança, e se formos para lá, ele devora nossa mente. A consciência desta qlifa deve nos permitir questionar, duvidar e ponderar, em nós mesmos e nos outros, mas sem cair na insegurança que invalida a conclusão nem na soberba que impede o aprendizado. Essa é a parte de “poder” de Thaumiel e este poder não tem outro nome senão…
Lucifer: O Poder de Thaumiel
O Poder Regente de Thaumiel é Lucifer. Tem gente que fala “lúcifer” e outros “lucifér”, e eu posso garantir que ele não está dando a mínima para onde você coloca a sílaba tônica, eu mesmo falo diferente toda vez.
Como Poder Regente de uma qlifa, Lucifer é o “segredo” por trás de tudo que a envolve. Ele é a causa e também a solução de Thaumiel.

Lucifer, o nome assim pronunciado, surgiu de uma tradução propositalmente hostil ao culto comum da Estrela da Alvorada no paganismo em diversos povos, que também é a mais brilhante na noite escura e isso já explicamos aqui.
Representado na dualidade macho-fêmea do Deus criador do nosso mundo Ashtar Chemosh com seu feminino Ishtar (fertilidade) para os moabitas e comum no oriente médio, também com Eosphoros e Phosphorus para os gregos, irmãos que representavam a estrela vênus, um no alto da noite, outro na aurora e em muitas outras formas, nomes e mitos.
É, no entanto, no mito judaico e no cristianismo esotérico que temos base para a maior parte da imagem que fazemos hoje de Lucifer, quando não no dogma das religiões cristãs que tomam a alegoria esotérica por fatos, como quem toma uma fofoca por informação e uma opinião por verdade.
No esoterismo judaico-cristão, temos Lucifer como a serpente, símbolo da fertilidade e do medo, do desconhecido. O desconhecido, aquilo que não era revelado e portanto não existia, aparece para a mulher e a seduz à provar do fruto proibido da árvore da vida, o fruto da morte.
Esse é o fruto que permite a alma a ter várias vidas em corpos perecíveis, mas nesta alegoria o homem não sabia disso, pois já se julgava perfeito, uno com a divindade, Adam Kadmon.
Foi após comer o fruto e tomar consciência de sua nudez, de sua separação com o Divino, que o homem ao se sentir traído foi acusado de traição, e assim percebeu que ao invés de no topo da árvore da vida, estava em contato com a ávore da morte, Thaumiel, Lucifer.
A acusação da traição em cima de quem se sente traído é típica do sistema de culpa e punição que favorece sempre ao mais dominante, ao qual nos opomos frontalmente no Luciferianismo, como já explicamos aqui.
A culpa foi o verdadeiro pecado da humanidade, o que impediu a tomada de consciência, e assim Adam Kadmon se transformou em Adam Belial, o homem caído. Belial significa “vazio” ou “sem”, algo que só poderia ter sido percebido ao entrar em contato com a Consciência, e o vazio passou a existir.

Adam Belial (o caído) é a consciência que, culpada, se separa de Adam Kadmon (o perfeito) numa dolorosa dualidade que é característica de Thaumiel.
Lucifer criou a humanidade ao criar a separação, e a individualidade é portanto a virtude de Lucifer e o antídoto de Thaumiel.
Neste mito é curioso – e bonito – que o próprio trazedor da Luz tenha caído inevitavelmente no vazio eterno (Belial), no abismo de sua própria ousadia, sendo punido por sua ação iluminadora. O mesmo mito base do deus solar seria explorado na imagem crística.
A “queda de Lucifer “ representa a saída de um sistema, a criação de uma nova consciência, a soberania total, a total individualidade, e a consciência quase sempre é dolorosa. Sofremos pelo que sabemos, pelo que descobrimos, seja uma descoberta da falta de algo ou de presença negativa.
Na espiritualidade moderna é curioso – e doloroso -, ver tanta gente falar de “apoteose” e se tornar deus, sem sequer ter iniciado o processo básico para a individuação, se tornar indivíduo, princípio de Thaumiel.
Em Thaumiel é que somos desafiados à buscar Lucifer, a consciência, em nossa nudez, tirando dos nossos desejos, traumas e terrores inconscientes, aquilo que nos impede de nos tornarmos indivíduos, seres únicos, separados do resto, mas completos em nós mesmos (Kadmon) e não vazios (Belial).
Na vida prática, se individuar é conflitar até viver em harmonia com as próprias vontades, gostos, prazeres, terrores, defeitos…e isso pode soar fácil, mas é esmagadoramente difícil seguir o próprio caminho num mundo dominado por Matrizes de poder. É preciso realmente encarar o monstro gigante de duas cabeças.
Harmonia consigo x Thaumiel
Harmonia não é começar pelo começo, já que Thaumiel, a última qlifa, pode vir primeiro. Não é ficar neutro em relação à tudo, porque a individualidade necessariamente perturba aquilo que se opõe a ela.
Harmonia é ter um destino certo e convicto, é na hora ou na área de ser humilde ser humilde, na hora de ser orgulhoso, ser orgulhoso. Humildade é a tolerância ao erro e não negação do que se tem e se sabe. Orgulho é o reconhecimento de suas forças como úteis para o meio em que se propõem expressar.
Humildade e Orgulho são duas virtudes que devemos aprender em Thaumiel, para nos opor à soberba e à insegurança não só no caminho espiritual, na vida mesmo, em todas as áreas.
Ter humildade e orgulho nos obriga ao auto conhecimento que é base do luciferianismo e de toda a ideia de Lucifer, que o primeiro homem não entendeu, se encheu de culpa e desespero no mito judaico.
A “queda” indica falta de equilíbrio, e é isso que temos como virtude em Thaumiel, o chão, o solo, a base, o contrário do abismo, do cair, do “sem” (belial) que já passou.
Mergulhando nas próprias trevas: Ninguém é equilibrado
Sem o reconhecimento das próprias trevas não existe o caminho de Thaumiel, e se está totalmente exposto às trevas do mesmo.
É por isso que Thaumiel é uma provocação à se conhecer mais de si mesmo, algo que foi dito ser o princípio da sabedoria.
Thaumiel pode ser o início de tudo, e não o final de algum processo. Ele é a necessidade básica de equilíbrio, a chave que iniciou a filosofia, o amor por Sophia, o saber, que é o fogo trazido por Lucifer.

É gerando teses e antíteses que temos a criação de tudo no universo, a síntese. É na busca do equilíbrio e da harmonia através do auto conhecimento, e isso que é Thaumiel, isso que é luciferianismo.
Na tese e antítese da sua própria vida, suas contradições e certezas, suas virtudes e erros, que você chega a se criar, a ser quem é, a se tornar indivíduo. Esta é a chave de Thaumiel.
Espero que você tenha entendido mais sobre esta Qlifa e sobre Luciferianismo também. Existe MUITO MAIS por saber, e por isso eu convido você à se juntar ao Círculo Secreto onde temos aulas e encontros todo mês, estudamos e explicamos muito mais sobre isso e várias coisas práticas da espiritualidade.
Nos vemos numa próxima instrução, vídeo, aula, curso ou consulta!
Eu sou Martin, o Frater Aquarius, e partilho destas águas com você,
Fiat Lux!
