Psicografias e o vazio da nova era

Que a “nova era” da espiritualidade tem diversos movimentos comerciais, isso é fato já há muito tempo; gurus de pensamento positivo, de promessas de riqueza através do pensamento, de espiritualidade fácil e cheia de palavras de efeito bonitas mas vazias, que por si só não significam nada.

O curioso porém é de como isso tem afetado os mais diversos campos que já foram sérios, e práticas que já foram respeitadas por mudar a vida de diversas pessoas, e ser um canal entre o mundo físico em que vivemos e as diversas camadas de realidades ocultas que existem.

Uma das muitas práticas que sofreu com isso foi a da psicografia. Algo que popularizou a espiritualidade e especialmente o espiritismo pelas mãos de médiuns excepcionais, com sua tarefa de consolação, como Chico Xavier e Divaldo Franco, na mesma época em que pipocavam fenômenos que atestavam a vida após a morte como a psicopictografia com Gasparetto e as operações espirituais assustadoras que podiam ser vistas ao vivo.

Já depois do auge das psicografias e “provas materiais” de comunicação com os que já não estão em nosso plano, começou-se uma leva de psicografias “curiosas” para chamar a atenção. A intenção parece sempre boa, eles não pedem “dinheiro” diretamente ou quaisquer vantagens, mas viajam totalmente em histórias sem fundamento para aparecer, especialmente após algum acontecimento como a morte de um famoso.

Waldo Vieira que teve contato com o espírito da sua mãe antes dela reencarnar, disse que mesmo após a reencarnação dela, continuavam pulando psicografias e mais psicografias dela, claro, falando mal dele por ter “abandonado a seara sagrada” da religião espírita. As psicografias ficaram cada vez mais convenientes e espalhafatosas para quem as escreve.

É possível encontrar diversas dessas psicografias na internet. Ao contrário das psicografias antigas que vários médiuns que trabalhavam na consolação recebiam, estas novas não trazem qualquer informação relevante ou íntima de quem partiu, apenas repetem a crença dos ditos médiuns narrando suas ideias e expectativas pessoais sobre o pós-encarnação.

O pior tipo no entanto, mais comum e moderno é o tipo de “psicografia” que segue a linha do açucar espiritual. São textos cheios de palavras “açucaradas” como “Amor”, “Pai”, “Deus”, “Luz”, “Liberdade”, “Comunhão”, “Fraternidade”, “Amor”, “Cristo”, “Bondade”, “Amor”, “Paz”, e já falamos “Amor”?

Pode parecer muito bonito, mas a verdade é que quanto mais palavras apelativas e conceitos abstratos como estes aparecem, maiores as chances da “psicografia” não significar rigorosamente NADA.

Apesar disso ser uma vergonha, a maioria das pessoas que dizem receber estas psicografias não são charlatães ou mal intencionadas. Eles estão de fato expressando o que consideram como religião.

O problema é que ao longo da história grandes barbáries foram cometidas em nome destes mesmos conceitos abstratos (amor, paz, Deus), justamente porque eles tem o significado de quem interpreta. Logo, o conteúdo é sim, vazio.

Espíritos “modernos” estarem utilizando mãos humanas para criar mensagens vazias, pessoais (para o “médium” somente), e sem qualquer conteúdo aplicável, é de fato uma das decadências da espiritualidade moderna.

Isso porque à partir daí se iniciam cultos pessoais sem qualquer eficácia, e textos sem qualquer instrução para quem lê, resultando sim, numa espiritualidade masturbatória, utilizada para nos fazer sentir bem, iluminados e bons.

O problema de quem se sente bem, iluminado e bom, sem de fato estar trilhando algo significativo para a própria vida, ou ACRESCENTANDO CONTEÚDO que pode melhorar a vida de quem lê, e explicar de fato algumas coisas, é que este tipo de espiritualidade faz com que nos afastemos dos caminhos desafiadores e de auto-observação que a nossa espiritualidade de fato exige de nós.

Espiritualidade é trabalhar a CONSCIÊNCIA e a sua percepção pessoal do oculto. Religião é se reunir com o que é sagrado para você, após descobrir o que é sagrado na sua vida. Psicografia é informação dada por consciências que podem acrescentar à nossa inteligência, com informações práticas, sejam elas pessoais ou gerais, mas de forma que possam ser aplicadas, nem que seja para explicar algo oculto.

Não se deixe enganar no caminho da espiritualidade e da magia, nem pelos que prometem luzes, nem pelos que prometem riquezas. Como diz a frase sagrada bíblica, “a árvore se conhece por seus frutos”. Tudo que ajuda a frutificar na sua vida é bom. É sagrado. O que não ajuda, atrapalha.

Num mundo corrido, super estimulador, ansioso e lotado de informação, muitas são as vezes em que menos é mais, e mais vale um pássaro voando do que vinte na mão, afinal a natureza do pássaro deveria ser voar, e a da psicografia deveria ser instruir.

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