Você aprenderá:
O Mistério da sabedoria
É fato que eu fui o médium mais jovem de um grande e famoso Templo Espírita (que tinha umbanda) no Rio de Janeiro. Aos meus dezenove anos fui reconhecido medium e ganhei um cartão para desenvolvimento mediúnico enquanto passava pelo corrente.
Fiz o desenvolvimento com total dedicação e intensidade (deixei uma faculdade para me dedicar só à isso) para começar logo a trabalhar, já que sabia que meu tempo ali seria curto, eu logo me descobriria em outros caminhos e iria para muito longe.
Desde aquele tempo, há mais de quinze anos atrás, eu recebia uma entidade que hoje reconheço como um dos fundadores do Grupo das Vozes; um grupo de ascetas, místicos e santos que tiveram de aprender tudo novamente, pois nada aprendido na dor ou na falta pode ser definitivo.
Uma das primeiras -e possivelmente a mais repetida- de todas as mensagens deste ser era sobre o Mistério da Sabedoria e o conhecimento. Eu repetia essa mensagem mas as pessoas ao redor pareciam não entender.
Soava mais como uma advertência pessoal, já que eu era muito jovem, tinha boa aparência (era bem mais sarado e cabeludo do que o gordinho que estou hoje), chamava atenção favorável do público feminino que ia ao templo e tinha participação disputada em atendimentos.
Mas a verdade é que era um dos ensinamentos mais valiosos à que tive acesso, e também deve ser para você. O ensinamento é sobre o Mistério da Sabedoria se retroalimentar, ou seja, comer a si mesmo como a serpente da renovação.

A instrução é de que quanto mais se sabe, mais se pode saber, portanto mais se deve buscar. Quanto mais você compreende algo, mais qualificado se torna a aprender outras coisas, pois sua compreensão aumenta.
A possibilidade de conhecimento quando não é constantemente exercitada se torna um defeito, o de intelectualizar as coisas. Portanto quem mais conhece, mais tem a obrigação de conhecer, buscar, captar e desenvolver, pois “pode”.
Por isso a vaidade intelectual não faz o menor sentido, já que quanto mais se sabe mais se tem a saber, e uma pessoa realmente inteligente, neste sentido, sabe menos que o mais burro dos alunos, pois este pouco tem a saber dentro de sua capacidade.
Se você tem um copo de água de 300ml e enche com 280ml, então você tem um copo que parece cheio. Mas se o que você tem agora não é um copo, e sim uma caixa d’agua, jogar 280ml de água ali só deixa claro para todos quão seco e vazio você é.
Quem mais tem capacidade de compreender não pode se envaidecer, pois a sua capacidade de captar aumenta, logo a possibilidade de auto congratulação se anula a cada nova descoberta, pois são desbloqueadas novas possibilidades e necessidades.

Com isso, a minha primeira instrução, que moldou quem sou, e que pode ser muito importante para você, termina dizendo: O objetivo esotérico é ser um ótimo aprendiz, não buscar ser ou se intitular como um “mestre”.
O bom aprendiz é aquele que continua praticando, descobrindo e conhecendo, ou seja, ele exercita o Mistério da Sabedoria. O bom aprendiz choca os ovos do conhecimento, não deita sobre eles. O bom aprendiz cruza o limiar, mas não para na porta. Ele entra, constrói e continua.
Até mesmo na questão de ensinar, o que você precisa não é de um mestre, mas de um aprendiz melhor (ou mais avançado) do que você em determinada coisa.
Quem aprende bem, ensina fácil. Quem caminha é um guia melhor do que quem estuda o mapa.
O objetivo, portanto, de todo ensinamento e aprendizado esotérico não é de se intitular um Mestre, mas de ser o melhor Aprendiz possível. Só os bons aprendizes realmente tem o que ensinar.
É difícil que alguém saiba das minhas iniciações e títulos, e geralmente quem sabe são videntes e espíritos em consultas, e não amigos, consulentes e meu público. Isso não significa que eu seja “humilde”. Não sou.
Eu tenho total consciência de meu valor e do valor único do meu conteúdo, que ainda será muito reconhecido, mas é justamente por isso que o que importa para mim é o conteúdo em si, pois é dali que vem o valor que eu percebo, não da forma como alguém me chama ou me trata.
Também desde cedo aprendi a compassivamente ignorar qualquer coisa (e pessoa) que não esteja no meu interesse, e vaidosamente desprezar qualquer coisa (e pessoa) que não me faça bem.
Então não se trata de ser legal, “gente boa” ou humilde. Se trata de focar no que funciona, no que é interessante e no que pode realmente acrescentar na sua vida e na daqueles que tem acesso à você.
Não sou um grande exemplo para tudo, tenho medos, dúvidas e já fiz escolhas erradas também, além de recalcar uma requintada crueldade destinada ao que percebo como injusto, mesquinho ou violento; mas se puder lhe ensinar algo de mim mesmo, pegue isso, pois é algo que será essencial nos próximos anos no cenário espiritualista e no seu próprio caminho.
Quem não tiver esta postura, em alguns anos, vai ser totalmente atropelado pela onda de “especialistas” e marketeiros que cada vez mais inunda o cenário esotérico moderno, mesmo em cultos restritos à “iniciados”.

A Imagem do Mestre
O Mestre no Passado
A imagem do Mestre é algo poderoso pois vem diretamente de um arquétipo muito ferido e vilipendiado hoje em dia, do qual a sociedade moderna (especialmente as ocidentais) tem uma profunda carência: O arquétipo do Pai.
Para saber mais sobre a energia deste arquétipo, nós escrevemos só sobre isso neste artigo, e é realmente essencial estar de bem com sua energia masculina e paterna, seja você de que gênero for.
O mestre, envolto nesta energia, é o que recebe, adota, acolhe, educa e ensina. Enquanto que no Ocidente historicamente o mestre era um líder e um professor temporário, no Oriente era realmente a representação da fonte do conhecimento, poder e proteção.

Isso acontece principalmente porque no Oriente os ensinamentos tem base tântrica. Tantra que no primeiro coração da Ásia (Índia, que deu lugar à China) significa em sânscrito “teia” ou “tecer”. Tantra é basicamente conhecimento passado dentro de uma tradição, entre mestre e discípulo.
Devido à natureza tântrica do Oriente, por muitos anos os mestres eram a ligação do discípulo com o sagrado, com a Verdade e com a sabedoria. Eles eram protegidos, louvados como deidades encarnadas, respeitados como superiores e valorizados como seres da maior importância.
Era um orgulho ser discípulo do mestre “x”, e quando alguém falasse mal do seu mestre estava falando mal de sua tradição, das raízes dos ensinamentos que vão moldar quem você será no futuro, e sim, isso era motivo para brigas, guerras e mortes.
Até bem pouco tempo, no Japão, tanto para artes marciais, religião, filosofia e ocultismo (coisas que no Oriente sempre andaram juntas), os alunos disputavam para ver quem seriam os Uchideshi de seus mestres.

Os uchideshi eram os que viviam à serviço do mestre, disputavam para atender o telefone da casa dele, deixar o tatame sempre limpo, ajudar o mestre a se limpar pela manhã e velar por seu sono de noite. A ideia era estar o mais próximo possível da sua única “fonte de conhecimento”.
Os mestres tiveram um papel histórico imprescindível em todas as tradições e conhecimentos orientais, e se hoje eu sei algo destas coisas, é porque houve muitos mestres, discípulos e uchideshis que protegeram e mantiveram suas tradições à duras custas por muitos séculos.
Longe de negar a existência dos grandes mestres e gurus, de desqualificá-los ou faltar com o respeito, reconhecemos seu papel e até falamos sobre como reconhecer um guru neste artigo.
O mestre era um portal que abria e permitia que o conhecimento se tornasse disponível, e os discípulos eram fiéis guardiões do mestre presente, eles mesmos mestres no futuro. Mestre e discípulos criavam as tradições, e as tradições são eternas.
É importante, no entanto, ver como a imagem do mestre foi se modificando ao longo dos tempos, e especialmente nos últimos cem anos no Oriente.
Uma das primeiras coisas que se estabeleceu na Tailândia, onde o conhecimento é passado entre tradições e o sobrenatural é totalmente comum, é que um bom mestre deveria aprender o máximo possível, com outros mestres, mesmo fora de sua linhagem.
O meu guia e sustentador dentro do sistema tailandês de magia, Ajarn Best (sobre quem escrevemos tudo aqui), era chamado de “best” não apenas porque seu nome era Bes, mas porque ele estudava tudo que podia com vários mestres diferentes, e costumava executar o que aprendia melhor do que aqueles que o ensinavam.
Ajarn Best deixou seu mestre Luang Phor Moon, com todas as suas bênçãos e indicações, e foi aprender com os Suea Saming(os magos tigres) do norte da Tailândia, os encantadores de Bhurma, com o maior necromante dos últimos tempos da Ásia (Phor Sala Tan), e em peregrinações frequentes no Laos e pelo Camboja.
Ajarn Best nunca quis ser mestre, ser adorado em vida ou ostentar títulos e certificados. Ele era um excelente aprendiz, o melhor (Best), e por isso se tornou uma figura lendária no ocultismo asiático (e por seus milagres e feitos sobrenaturais, claro).
Ajarn Best não tinha diplomas, carteirinhas nem se chamava por seus títulos iniciáticos. Hoje em dia é difícil saber quais amuletos seus são verdadeiros (feitos por ele), pois ele não registrava sua arte, nem recebia mercadores ou institutos comerciais de talismãs em seu Samnak (templo).

O excesso de “mestres” no ocidente, títulos e pompas de “sabe tudo” contrasta com o cenário ocultista asiático hoje em dia.
A imagem do verdadeiro mestre hoje, na Tailândia e pode-se dizer na Ásia Ocultista, se divide em duas, totalmente opostas inclusive:
1 – a de um guardião de conhecimentos, disposto à aprender e se aperfeiçoar mais, ensinando o que lhe foi passado de forma prática e aplicável, e se renovando o tempo todo.
2 – um idoso cheio de segredos que levará para o túmulo, por exigir uma hierarquia institucional com total obediência para ensinar, e pela falta de interessados em aprender.
Os magos tailandeses são um grande exemplo da junção de tradição (respeito pelo instrutor, pelo mestre que é aquele que te ensina determinada coisa) com o moderno (mobilidade sem dogma nem pretensas fidelidades ou adorações pessoais; facilidade de comunicação e informação).
Devemos aprender com os mestres tailandeses mais esta lição, pois disto pode depender nossa sanidade e o futuro daqueles que entrarem em contato com o cenário ocultista que estamos fazendo neste momento.
O Mestre no Presente
Hoje surgem mestres aos borbotões. Toda semana na internet temos novos especialistas das mais diversas vertentes, pessoas que descobriram A Verdade, que discordam pomposamente de algumas coisas, e concordam parcialmente (porque são inteligentes demais) com outras.
Parece que a imagem de mestre ou de mago poderoso é essencial para trazer alguma autoridade para o que dizem e justificar seus preços. É a imagem e não o conteúdo que se vende.
Alguns são pessoas de conteúdo realmente bom, mas que se corrompem se cercando de discípulos puxa-saco com elogios à sua sabedoria infalível e fidelidade à seu conhecimento “universal”.
A imagem do mestre não é só sustentada hoje em dia pela necessidade de se vender bem, mas por uma carência aguda por parte de quem precisa se sentir discípulo.
É realmente cômodo imaginar ou acreditar que se descobriu alguém que sabe mais do que os outros, alguém que descobriu a verdade e tem autoridade de julgamento e infalibilidade de ideias, e agora se aprende com ele.
É por si só uma vaidade gostosa sentir-se parte de um círculo único, privilegiado por ter contato com determinada pessoa que sabe de tudo, e cuja imagem de sabe-tudo deve ser então protegida pois nos garante uma falsa segurança e senso de exclusividade.

Grupos que visam apenas a autoridade de alguém são relações vampíricas e inevitáveis no Ocultismo (eu ja fiz parte de uns três), mas sempre terminam da mesma forma, ou com decepção ou com sentimento de perda de tempo.
O que leva as pessoas a quererem ter mestres infalíveis é a necessidade de se sentirem promovidas e autorizadas por alguém, colecionar certezas e versões das coisas, algo nada saudável muito menos mágicko.
Aliás, lamento informar, pois já tive e tenho muitos mestres (bons): Quanto mais certezas universais e críticas à outros um “mestre” demonstra, maior é a chance dele ser apenas uma pessoa patologicamente necessitada de ajuda e atenção.
O que leva as pessoas a se esconderem na imagem de mestres é a necessidade de auto afirmação intelectual e espiritual. A imagem de mestre é como um megafone que aumenta o poder da voz de quem fala, mas o que importa realmente é a mensagem. Quanto mais exclusiva e dificil ela for, menos eficaz para a vida real.
O verdadeiro mestre é aquele com quem você realmente aprende coisas úteis e práticas para sua vida, e isso inclui coisas por fazer e coisas para não fazer. O verdadeiro mestre para você é alguém que tenha vivido as suas dores e questões e não alguém que as transcendeu intelectualmente ou espiritualmente.
O verdadeiro mestre vai ter coisas para te ensinar, mas diversas outras para continuar aprendendo. É impossível ser”mestre” em todas as áreas da vida.
É por isso que a imagem do mestre está hoje em dia defasada, morta, apenas empalhada como um bicho antigo, sem brilho nem vida, nem mesmo a necessidade de ser.
O mestre moderno deve ser na verdade o melhor aprendiz, e este sim, vale a pena ser reconhecido, divulgado, protegido e remunerado, sempre que encontrado na sua vida.
Seu mestre deve ser um aprendiz melhor (mesmo que temporariamente) do que você. Qualquer outra versão de mestre ou guru não nos serve mais nestes tempos.
Diplomas, títulos e carteirinhas
Algumas pessoas procuram por instrução, caminho e esclarecimento da mesma forma que procuram um diagnóstico e receita médica, ou uma construtora para montar uma casa.
Acontece que, ao contrário de outras áreas da vida, o oculto só pode ser medido por experiências e o que se tira delas. É por isso que nada além do conteúdo de alguém (afinal pelos frutos se conhece a árvore) pode ser levado em consideração quando se fala do espiritual.
É verdade que o esotérico é ainda restrito, e que o reconhecimento daqueles que já provaram seu conteúdo pode ser um indicativo importante, mas é apenas um deles. Não basta.
Fora que o cenário ocultista e esotérico sempre foi, em todas as épocas, dividido em grupos de apoio fechados, onde cada um contribui de forma muito definida para o reconhecimento do outro, costumando por isso, a ser mais fechado em “panelinhas” e grupinhos de mais do mesmo.
Prova disso foi o modo como, há pouco tempo atrás, a comunidade Ocultista (em seus maiores representantes e mídias, com poucas excessões) foi enganada pela imagem de alguém que se dizia satanista luciferiano judeu maçom balcã médium teólogo e mestre em todas estas áreas.
Títulos espalhafatosos, promessas, documentos (falsos), carros alugados e luxo simulado agora já não terão o mesmo efeito. Podemos usar o veneno como vacina se soubermos ler o que isto nos ensinou.
O que realmente você deve buscar dentro do ocultismo são respostas à melhores questões e o seu caminho de prosperidade pessoal, não títulos, diplomas ou carteiras (mesmo que façam parte disso algumas vezes).

Mestre é todo aquele que pode lhe passar conhecimento, e mago é todo aquele que pode te ajudar a acessar a sua própria magia. Conhecimento e Magia devem ser sempre os seus objetivos, assim você vai evitar de cair no papo de 90% de gente que vive da imagem de mestre.
Quando a busca se dá por títulos acontece como nas artes marciais, quando em busca de promoções, faixas e diplomas se entra por caminhos superficiais e se vende algo massificado e sem essência, algo que aconteceu com a imensa maior parte da tradição Oriental que foi ao Ocidente.
Outro problema recente é da facilidade com que se pode criar instituições, cursos e até mesmo empresas “religiosas”, muitas das quais sem qualquer fundamento ou história senão a contada por seu fundador.
De que adiantam títulos e associações comprovadas desta forma?
Devemos ter sempre o cuidado de não dormir sobre promessas, histórias e aparências de grandiosidade. Quanto mais “títulos” e promessas uma pessoa se cercar, mais cuidado você deve ter.
Capacidade Prática: A verdadeira autoridade.
Como dito antes, existem coisas na vida em que não se pode comprovar autoridade por papel, tempo de prática, título, associação ou formação.
A Magia neste caso aparece muito mais próxima ao esporte e à arte do que às ciências exatas. Um jogador de futebol se observa em campo; mesmo um técnico é julgado pelas escolhas que faz e o modo que orienta seu time, não por papéis.
Magia é arte, é performance. Sem experiência prática que gere conclusões, perguntas e exemplos, de pouco ou absolutamente de nada vale. É como um diploma de dança, só tem sentido se dançar, e dançar bem.

A experiência está no cerne da magia, do contrário se pode ser um bom teórico, mas dificilmente um bom teórico é alguém que pode auxiliar na prática. A teoria alimenta o cérebro e dá uma noção de sabedoria, mas uma noção tão falsa quanto a masturbação simulando um ato sexual.
É por isso que no Mente Magicka utilizamos tanto a expressão “masturbação mental”, pois é disso que se trata a mania de grandeza de mestres e discípulos nos dias de hoje.
Terminamos este artigo concluindo não só que os mestres dos nossos tempos devem ser os melhores aprendizes, mas que os bons discípulos são aqueles que souberem ultrapassar sua própria vaidade e carência para não cair em adoração à “falsos ídolos”.
Estamos iniciando um tempo novo no esoterismo, e a imagem do mestre, como conhecíamos há pouco, está morta. O mestre morreu. É preciso, para nossa própria sanidade, e para criar uma relação saudável com o Oculto, que tenhamos cada vez mais, excelentes aprendizes para nos ensinar o que aprendem e praticam.
Do contrário, estaremos fadados cada vez mais à mestres superficiais e discípulos fracos, e a teia estará quebrada de qualquer maneira.
Quem faz o caminho é o caminhante.
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É na energia da troca, e somente nela, que qualquer prosperidade se torna possível.
Fiat Lux!