Você já percebeu que existe uma nova forma de espiritualidade, de gurus e mestres que parecem ter saído direto do Marketing Digital? De propagandas que falam direto com você, mas para o seu eu mais primitivo, como se você fosse um boboca robotizado?
Isso juntamente com o espiritualismo raso, superficial, formam a espiritualidade capitalista, ou o marketing espiritual. Vamos dissecar isso neste artigo, e conto com você até o final dele, para que consiga entender e se situar, bem como também formar a sua própria opinião sobre este tema essencial para nós, espiritualistas modernos.
Você aprende sobre:
O Movimento Gratiluz: Espiritualidade água com açucar
No século passado, especialmente à partir da exposição do ocultismo e das ordens esotéricas, que de secretas passaram para “restritas”, uma onda mística tomou conta do ocidente a partir da década de 60, com grandes expositores, artistas e até conceitos orientais sendo inseridos nas mídias, na literatura e atingindo grande parte do público jovem.

Naquela época, espiritualidade virou parte da moda, entre quem acreditava e praticava, e entre quem queria apenas engajar com a turma.
Hoje vivemos o auge de um segundo boom impulsionado pela internet, que descende diretamente daquele que explodiu há mais de sessenta anos atrás. O de hoje, no entanto, é muito mais bem traduzido e exposto por gente mais competente e bem instruída, com muito mais conteúdo.
A exposição da espiritualidade é uma moeda de duas faces. Por um lado ela é excelente, e nunca foi tão fácil ter acesso à materiais esotéricos e profundos, a maioria em inglês, mas vários já em português.
Hoje você tem mais informações sobre espiritualidade e magia disponíveis do que os maiores magos da história, com suas vastas bibliotecas pessoais, puderam imaginar ter acesso.
O outro lado da moeda é que a massificação de qualquer coisa torna aquilo diluído, frágil e muitas vezes deformado em tentativas de adaptação pública, diretamente ligadas à auto-promoção e a ser “alguém” que deva ser ouvido, que tem voz e vez.
Foi essa massificação da espiritualidade que criou, por exemplo, os novos Gratiluz. Uma galera que vende e consome informações rasas, adaptadas, quebradas e sem base, mas que se revestem em positivismo tóxico, ativismo político agressivo ou marketing exagerado. Muitas vezes tudo isso junto.
Espiritualidade fast food: É preciso ser rápido mas não superficial
Uma das premissas da espiritualidade capitalista é lucrar e fazer seu nome, em cima de informações superficiais, confundindo simbologias e misturando arquétipos num caldeirão de masturbação mental, onde quem consome se sente bem, mas sempre insatisfeito.
É possível sim, dinamizar a informação espiritualista-esotérica, e é necessário. Temos ótimos introdutores que fazem isso, e eu considero inclusive ser minha missão, me tornar um deles.
Hoje o mundo é mais dinâmico, super-estimulador. Os dias são mais curtos e temos mais compromissos, escolhas, laços afetivos e informação. Dinamizar, adaptar, traduzir e facilitar a espiritualidade é a nova forma de ser espiritualista num mundo com menos mestres, dogmas, doutrinas mas muito mais acesso.
O problema é que o caminho para se cumprir desta forma é muito corrupto, pois para ser rápido e dar “resultado” depende de likes, números, engajamento, patrocínio e fazer média com muita gente, grupos e empresas; uma galera que tem interesses que não necessariamente a espiritualização e a evolução daqueles que podem ter acesso ao seu trabalho.
Lei da atração: Se não deu certo a culpa é tua!
Um dos clássicos que inauguram o marketing gratiluz é sem dúvida a forma que se trata a manifestação e a realização, que chamam de “lei da atração”. Este é um método perfeito de marketing, em primeiro lugar, porque é um grande estímulo mental ficar imaginando coisas boas e esperar que elas aconteçam por causa disso.
Segundo, porque quem consome se sente bem com isso, e quando focamos em coisas positivas ou no que queremos ao invés de nos problemas e obstáculos opressores, ganhamos propósito e as coisas tendem a melhorar até pela forma como as vemos, numa nova perspectiva.
É claro que existe manifestação, e que toda magia começa na mente. O conceito de manifestar através da Vontade é o cerne da magia em todo lugar do mundo, e técnicas de manifestação e mentalização existem desde os primórdios em todo canto.
O problema é quando isso se reduz à imaginações diárias, fingir que já aconteceu, e parar de duvidar, tentando eliminar todo medo e preocupação em relação àquilo. Isso é simplesmente impossível, mas garante a venda de mais produtos e mais livros sobre o tema.
O marketing da lei da atração ainda se defende de forma agressiva com o conceito de que se não deu certo, a culpa é sua.
Chega a ser vexaminoso, e eu tenho certeza que a pessoa fica ainda mais longe da riqueza quando pensa que pessoas prósperas, ricas mesmo, venceram todas as suas crenças limitantes; superaram seus traumas e limitações mentais herdadas dos ancestrais e aprendidas com os pais; deixaram de ter medo de seu potencial, e não ligam mais para o fracasso ou o erro.

Ter essa ideia em relação à riqueza é, num sentido lógico, garantir ficar pobre para sempre. Quem pode fazer tudo isso para depois ter dinheiro? É quase virar um buddha para ganhar prosperidade depois.
Na verdade, pessoas ricas tem crenças limitantes, adoecem, tem mágoas, medos e vários detestam os pais, mesmo os herdeiros. Mas se você pratica a lei da atração e ainda tem problemas financeiros, ha, meu irmão, minha irmã…é porque você ainda não perdoou seu pai abusivo, e ainda age muitas vezes com medo.
O marketing e os conceitos gratiluz são realmente uma palhaçada.
Marketing na espiritualidade
Marketing Digital:
Algo que deveria ser considerado crime, não por ser eficiente, e sim por explorar a fraqueza das pessoas, e todos temos momentos de fraqueza, é o marketing digital.
Se não for um crime, que pelo menos seja considerado algo nada nobre, e que nós espiritualistas, devemos ter a nobreza de evitar em nossos cursos e divulgações.
O marketing digital em si, já é um desafio à inteligência de qualquer ser razoavelmente equilibrado. As técnicas e os conceitos são toscos, e simplesmente servem para iludir as pessoas. E eu vou te mostrar jajá como é.
Antes, devemos primeiro nos atentar do motivo de o marketing digital funcionar, ainda hoje, mesmo com conceitos que tratam o ouvinte como alguém estúpido: A gente fica burro quando está com dor. E é nisso que se baseia o marketing digital, na dor das pessoas.
Vou te confessar algo pessoal, pois você está me lendo, então já somos amigos. Eu já fracassei na internet antes, e foi um fracasso retumbante. Antes de criar o Mente Magicka, eu investi num canal chamado “Mente Aberta”, que não focava em nada espiritualista, e sim nos meus conhecimentos de psicologia e sexualidade.
Eu havia decidido que não falaria nada de espiritualidade, pois “não tinha mercado”, e sim que iria resolver as questões afetivas das pessoas.
Era uma época muito difícil da minha vida, eu era recém casado, havia perdido o emprego e sofrido uma brutal injustiça que faria qualquer homem cair de joelhos e duvidar da própria existência.
Eu tinha pouco dinheiro, mas decidi investir tudo em um curso “milagroso” de um cara que prometia “livrar você da CLT”, “te colocar no mercado online”, “fazer sua marca”, tudo isso num “curso completo, que é como uma universidade na internet”.
Eu investi, na época, dois mil reais, que era praticamente o que eu tinha no banco, nos cursos dele. Eu não era burro, mas porque paguei todo o dinheiro que tinha no banco, já construindo família, para um curso de internet?
Porque doía, doía muito ser recém casado e ver minha esposa indo trabalhar e eu ficando em casa para limpar as coisas. Doía muito não poder dar algo de bom para ela, e viver sem perspectiva de qualquer melhora. Doía demais quando perguntavam o que o marido dela fazia, e ela dizia que eu estava criando uma “empresa”.
Então um dia eu vi um vídeo de um cara legal, bem sucedido na internet com vídeos engraçados, e sabe o que ele fez? Utilizou a dor de um cara frustrado para vender, o que é típico do Marketing Digital.

Técnicas sujas do marketing digital:
Trate a pessoa como uma besta. A pessoas ficam burras quando sentem dor:
1: Você faz uma “chamada”, algo gratuito em forma de vídeos, geralmente com investimento de tráfego pago para atingir potenciais alvos na rede social. Fale da dor que a pessoa está sentindo e apresente uma isca, uma solução, e claro, vai ser de graça, é só se cadastrar.
“Você está cansado de pegar ônibus, de viver uma vida dependente de salário; você que tem muito conteúdo, mas não se sente valorizado, você está perdendo tempo! Você que ta desempregado, não tem grana, você que não aguenta mais depender dos outros! A nova forma de ganhar dinheiro e ser livre é na internet!”
“Eu vou te mostrar que tem como ganhar dinheiro da sua casa, independente do mercado de trabalho, do seu espaço geográfico, e só com o que você já sabe. E como? De graça! Isso mesmo, é só você se cadastrar para assistir este(s) vídeo(s) e você vai descobrir.”
2: Cria-se empatia com o ouvinte nos vídeos-introdução. Você parabeniza a pessoa, faz ela se sentir pelo menos bem por ter esperança e não ter desistido, o que não deixa de ser uma virtude. Então você demonstra que passou pelo mesmo que a pessoa, ou algo semelhante.
Os objetivos são dois: Lembrar que a pessoa tem uma dor, algo a ser solucionado, e dizer que você também já esteve ali, que você entende totalmente. Mas…algo mudou!
“Primeiramente parabéns por você estar aqui, você já está acima de 99% das pessoas, você está querendo mudar, e deu seu primeiro passo! Você acredita! É muito importante acreditar, quem não acredita nem começou ainda o seu caminho para a liberdade e o sucesso. Então solta a hashtag aê, #EUACREDITO, pois você não vai parar!”
“Eu passei pelo mesmo que você. Minha esposa, na época namorada, me via pegando ônibus, estudando, trabalhando, e eu só tinha dinheiro para levar ela, no máximo, para comer um pastel. Não sabia o que fazer…trabalhava mais de doze horas por dia e a gente quase não se via.”
3: Diga como tudo mudou na sua vida. Que você descobriu algo que foi “a chave” que abriu uma porta emperrada. É importante que o ouvinte perceba isso como uma “virada de chave”, uma “espada desenterrada” um “bote salvador”, pois é isso que uma pessoa com dor e frustrada está procurando.
“Foi quando eu comecei a fazer X, eu descobri isso, aprendi, e no começo foi difícil viu…eu apanhei muito, passei muito tempo aperfeiçoando e descartando o que não funcionava. Eu já errei muito, fiquei desesperado, mas à partir do momento que eu aperfeiçoei o método cacetóvsky, tudo mudou para mim.”
4: Apresente “provas”, mesmo que absurdas, quem “precisa” acreditar, vai acreditar.
“Minha vida mudou! E do zero, em meses esse foi meu saldo… Eu mostrei isso para o meu irmão, e a vida dele mudou também, mais rápido que a minha, pois ele não teve que cometer os mesmos erros que eu. Não é verdade, Rosercley?”
(Rosercley aparece num vídeo agradecendo ao irmão, falando também sobre a dor dele, que é parecida com a sua, e de como ele saiu dessa, agradecendo muito. Ele se emociona, da um chorinho, e diz que você está em boas mãos).
A palhaçada continua por aí, tem gente que antes mesmo de se lançar, já teve “alunos”, sabe Deus de onde…mas eles aparecem em depoimentos emocionados.
5: Fale sobre o método sem revelar nenhuma técnica, ou no máximo uma ou duas que façam sentido, mas que não solucionem nada. Você balança o biscoito na cara do cachorrinho babando, mas não entrega ainda, ele ainda tem que obedecer à alguns comandos.
“Você agora mesmo, abre seu instagram…e comece…primeiro passo: Procure um nome grande, alguém que está dentro do nicho que você se interessa. Abre os seguidores dele. Pega as primeiras 15-20 pessoas, segue, des-segue e segue de novo!”
“Veja como algumas pessoas já começaram a te seguir de volta, e gente do seu nicho! Isso aí, é só UMA única coisinha, tem muito mais como gatilhos da atenção, fazer vídeos mágicos, roteiros irresistíveis e diversos segredos para você engajar essa gente no seu novo trabalho. Mande o seu chefe ir se fo#@r, peça demissão, e espere o vídeo de amanhã, é amanhã que a sua vida começa a mudar na internet!”
6: Agora você apresenta um produto, já passaram horas com toda a palhaçada anterior, a pessoa já está lubrificada, e agora você enfia um curso, uma mentoria ou alguma coisa pela goela dela. Nem precisa explicar demais, os que chegaram até aqui já estão com a “carne amaciada”.
“Galera, é por isso que o método Cacetóvsky foi criado. É um método completo, tem tudo que você precisa do início até o fim, do 0 ao 100, aliás, ao um milhão, pois é isso que eu ganhei como já te mostrei, e o Rosercley fez muito mais! Você não precisa ter nenhum conhecimento, eu vou te guiar pela mão!”
“Olha o que tem dentro do método Cacetóvsky: gatilhos de atenção para que você nunca mais seja ignorado na internet; criador de conteúdo IA, que vai te dar ideias do seu nicho; curso profissional de edição para você fazer tudo sozinho; Resolva tudo no Celular, para você que não tem equipamento e estes outros 23 métodos infalíveis para se projetar e nunca mais ser ignorado nem ficar desvalorizado na internet”.
7: Apresente brindes, dê um presente, finja vantagem.
“Mas não é só isso, você está aqui, no quarto dia de vídeo, e já viu a minha cara bolachuda por quatro horas, eu vou te dar um presente, já que você está aqui! Você merece um presente. Você gosta de presente? Escreve aí então, hashtag #eumereçopresente.”
“Eu vou te dar 500 reais! Você quer ganhar quinhentos reais? Quinhentão para começar a mudar a sua vida! Então segura…lá vai…”
“Mas espera, eu não vou te dar um presente não, eu vou te dar DOIS, isso mesmo! DOIS PRESENTES! Primeiro, se você adquirir o método Cacetóvsky, você vai adquirir também o método japonês Noku. É isso, cara, você leva o Cacetóvsky e eu te darei Noku, totalmente de graça, um curso que custava mais de dois mil reais! Se quer descobrir como potencializar o Cacetóvsky até dez vezes, Noku é onde vai encontrar.”
”E agora eu vou te dar quinhentos reais! Você vai ter quinhentos reais de desconto para adquirir Cacetovsky-Noku, os dois cursos! Noku já vai sair de graça, mas Cacetóvsky ao invés de mil reais, será quinhentos, quinhentos reais! E você pode parcelar no cartão! Isso mesmo, QUINHENTOS REAIS, em 12x de 49,90 (seu burro).”
8: Não deixe a pessoa pensar por muito tempo, gere uma ameaça de escassez, a pessoa vai PERDER se não comprar. É duro nessa fase a pessoa desistir da esperança que ganhou até aqui, iludida pela sua abobrinha. Ela já está até mais burra por ter te ouvido por tanto tempo. Ataque:
“Mas galera…isso é uma excessão! Estes presentes só estarão disponíveis durante três dias! Após isso o preço vai voltar ao normal, você vai perder seu presente de quinhentos reais. O curso vai fechar também ao atingir 300 pessoas, pois o grupo do telegram vai ficar muito cheio, e a gente preza pela qualidade do grupo.”
”Não perca tempo, só nestes três dias tem o presente de 500 reais, e ainda Noku de graça! Use o cupom #tomeiNOKU ao realizar a sua compra parcelada em 12 vezes de 49 reais. Cara, 49 reais é um hamburguer. Deixa de comer um hamburguer no mês e começa a resolver a sua vida!”
Pronto. Curso comprado. É extremamente idiota, e só de ler isso, a gente se sente burro. É um desafio à inteligencia do ser humano, e tem quem ache que funciona porque fala de gatilhos mentais e psicologia secreta.
Não! Isso funciona porque manipula e ilude alguém que tem a necessidade de acreditar em algo, pois não tem nenhuma outra alternativa. E sempre tem gente assim, pois todos passamos por momentos de fragilidade em diversas áreas ao longo da vida, o que nos torna vulneráveis à este tipo cruel de manipulação através da burrice.
Para quem está curioso sobre o curso que eu comprei na época:
Os cursos eram superficiais, a maioria nem era dado por ele, mas por “especialistas” desconhecidos, e tinha uma ou duas horas de duração. Não era uma faculdade, e tudo que eu aprendia era básico, e nada que todo mundo já trabalhando na internet não soubesse.
Eu aprendi a criar roteiros e gravava, editava, fazia o design da Thumbnail e postava num processo exaustivo, mas ninguém assistia ou tinha acesso à isso fora da minha família.
Para alguém casado isso era um papel ridículo, mas ficou totalmente insustentável quando minha esposa ficou grávida, estávamos esperando um bebê. Comecei eventualmente a trabalhar quando minha esposa já estava entrando no sexto mês de gravidez (ufa).
Projeto finalizado, ainda hoje recebo um bombardeio de propagandas que tentam me manipular em uma nova “dor” ou desejo: de ter meu conteúdo reconhecido, sair do meu trabalho nas empresas para viver do meu conteúdo, minha arte.
Não caio, mas me sinto tentado até hoje a aprender a ter um “vulcão de seguidores”, aplicando alguns “gatilhos simplíssimos que farão o algoritmo trabalhar a meu favor, e parar de entregar meus posts para apenas dez pessoas”.
A gente fica burro quando quer muito alguma coisa, principalmente quando este desejo dói, pois estamos no começo de algum processo.

Marketing Digital do Espiritualista Gratiluz:
Tudo o que foi exposto aqui se aplica ao movimento gratiluz espiritualista. São as mesmas técnicas, as mesmas coisas, as vezes não na mesma ordem, mas sempre presentes.
Não estou falando mal do conteúdo de quem aplica estas técnicas emburrecedoras, as vezes são espiritualistas genuínos com conteúdo bom! Conheço várias pessoas ótimas que utilizam de técnicas torpes para vender seu conteúdo. Conteúdo que realmente pode mudar vidas.
O problema neste caso é o método que já se impregnou dentro da espiritualidade, transformando conhecimento em cursos (isso é bom), cursos em produtos (isso é inevitável), e produtos em marketing manipulador (isso é um absurdo).
Falar de um encontro espiritualista, uma palestra, um curso ou qualquer coisa do gênero utilizando marketing digital deveria descredibilizar imediatamente o seu autor, por melhor que seja.
Fazer isso sem apresentar um preço CLARO, então, deveria ser a mesma coisa, pois ocultar preços é uma forma de constranger as pessoas a perguntar e dizer que não podem ou não vão comprar após a resposta. Exige um investimento emocional e uma necessidade de se expor.
Isso também é manipulação. Se somos espiritualistas, podemos até manipular uns aos outros, mas com boas magias, trabalhos, conhecimento e empatia. O resto…apenas nos desqualifica.
Marketing na Magia Oriental:
Infelizmente não é só na espiritualidade ocidental que as técnicas manipuladoras de Marketing se fazem presentes. Aqui no Oriente também!
Já faz alguns anos (uns dez anos) que se criou um imenso mercado em cima do budismo esotérico tibetano, e outro maior ainda em cima dos talismãs e práticas tailandesas. O mercado de talismãs da Tailândia cresceu tanto que está difícil agora encontrar algo bom e realmente eficiente.
Muitas coisas são feitas em massa, em altas quantidades, ignorando detalhes, rituais e Magia.

Na própria Tailândia o mercado de talismãs e peças mágicas está tão saturado, que os nativos já evitam de comprar se não for das mãos diretas de um mestre cujo nome não esteja nos grandes mercados. Dizem que estas peças modernas, a maior parte enviada para a China não possuem qualquer eficácia. Eu assino embaixo.
Antes de existir o Black Friday do mundo ocidental, já havia o 11/11 da China, o dia das compras em Novembro. Tudo tem pelo menos 20% de desconto ou à cada 200 “reais” que você gasta, você recebe 30 de desconto.
É claro que as coisas esotéricas e ocultas seriam influenciadas por isso também. Anúncios de talismãs e práticas que prometem muito mas ocultam os preços; descontos e leve “três pague um”.
Eu vi há poucos dias atrás (que foi 11/11), uma “promoção” por exemplo, que por 200 yuanes você levava qualquer talismã de qualquer preço, sortido. Isso pode ser interessante para quem como eu, é um colecionador de “macumbas”, e mexe com necromancia e todo resto.
Mas no sistema Tailandês, tradicionalmente, para você adquirir um talismã, este deveria ser recomendado por algum mestre do sistema. Muitas vezes é feito um mapa energético da pessoa para obter esta recomendação, isso porque muita gente não pode trazer “prai” (necromancia) no corpo.
Pessoas com muita energia Yin, precisam de energia Yang e não mais Yin, ou energia obscura. Já pessoas com excesso de energia Yang, como eu, que são mais “bobões”, costumam precisar de mais energia Yin e uns espíritos espertinhos do seu lado, para trazer à tona seu lado mais safadinho e progredir na vida.
Isso também varia. Às vezes pessoas com energia Yang tem uma baixa, e precisam repor isso com mais energia Yang e evitar Yin, ou seja, evitar necromancia e focar nas energias das deidades-entidades. E o mesmo ocorre com o contrário, ou seja, neste sistema, ser guiado por alguém que tenha o conhecimento antes de adquirir coisas é essencial.
Isso é totalmente ignorado, e muitas pessoas irão receber talismãs e energias que não tem “nada a ver” com o momento que estão vivendo, ou com seu campo energético de agora.
Veja como o lado espiritual é solenemente ignorado em prol do marketing. Isso também é uma forma de capitalismo espiritual, e não é beneficial para a maioria, podendo inclusive ser prejudicial para muitos.
Espiritualidade não combina com marketing…mas então qual seria a solução?
Devemos então dar de graça?Não!
Sempre existiu uma ligação da fé e do sacerdócio com a remuneração. O pajé não era menos importante numa tribo do que o guerreiro mais forte, até pelo contrário. Ele era quem aconselhava até mesmo o Cacique. E isto, falando em termos indígenas.
Não era diferente na Sibéria, nem mesmo entre os povos celtas ou africanos. Todas as culturas tribais sempre tiveram apreço e cuidado por seus sacerdotes, aqueles que os conectavam com o Sagrado.
Com o advento das grandes civilizações, foram criados grupos religiosos detentores de poder material; no ocidente cristão isso foi conhecido como “clero”. À medida que as instituições religiosas foram sendo criadas os sacerdotes se tornaram também asseguradores de fidelidade e organização para seus governantes.
Um conceito clássico do oriente e do confucianismo (que é absolutista e divide a sociedade em castas muito definidas) é educar seus filhos na sua fé, pois é sempre mais difícil se voltar contra os deuses de seus pais, e logo contra os governantes dos mesmos, a menos que você seja aquariano.
Hoje não vivemos mais em tribo, e as instituições religiosas perderam sua força na maior parte do mundo. A espiritualidade hoje depende mais da ética pessoal de nós, os novos pajés. E então vem o conceito contrário, do outro extremo, igualmente perigoso:
“Dai de graça o que de graça recebestes”:
Um conceito egoísta e ligado estritamente à quem acredita no sofrimento e na escassez como caminho espiritual. Pois tirando os totalmente ignorantes, todos sabemos que NADA É DE GRAÇA.
Eu, como sensitivo empata, sei que nada foi de graça em meu desenvolvimento. Mesmo um dom para se desenvolver requer sacrifícios que custam valor, que se transformaria em dinheiro e outros bens.
O fato de todo empata ser um “taquipensênico” (tdah) por exemplo, me tirou de muitas aulas, cursos e atrasou imensamente minha vida acadêmica. Eu tive de priorizar minha vida espiritual. Isso me fez abrir mão de muita coisa e investir em outras, isso custa tempo e renúncias, o que por si só é valor, e dinheiro é valor materializado.
Uma pessoa que dê “de graça” seus dons se desprotege e se condena à pobreza. Um cantor com ótima voz, um jogador de futebol talentoso, um corredor muito rápido, são exemplos de dons tanto quanto qualquer outro dom espiritual. Estas pessoas teriam de dar de graça?
Se você não acredita em pobreza e sofrimento como caminhos espirituais, e eu claramente não acredito, não seja hipócrita com os outros. Além das renúncias, para desenvolver qualquer dom espiritual hoje em dia é preciso estudá-los, procurá-los, e pagar pelas informações e treinamentos. Muitas vezes viajar, deixar empregos e coisas do gênero.
Os tempos mudaram e não estamos mais vivendo como em séculos atrás, onde a informação espiritual era escassa, gratuita e parte da cultura onde se estava inserido.
Caso não queira prosperar no mundo, vire monge. Aliás, recebi há alguns anos atrás um ensinamento valioso de um monge santo da Tailândia; Imagine que eu tive a oportunidade de perguntar qualquer coisa para este “santo”, entre tantas pessoas que gostariam apenas de vê-lo, e o que eu perguntei foi…
“Por que vocês não tem cabelo?”
Isso mesmo. Era um teste. Um bom espiritualista deve saber transformar uma pergunta estúpida em uma informação interessante e foi o que ele fez:
“O monge corta todo cabelo, porque cabelo é chatice. Se eu tiver cabelo vou querer ter o cabelo mais bonito possível, e vou gastar tempo e energia cortando o cabelo e arrumando um penteado legal para ele. Se eu tiver vida afetiva (sexual), vou querer ter a mulher mais bonita possível, ou talvez eu quisesse ter várias delas. Gastaria tempo e energia com isso. Se eu vestisse roupas normais, eu gostaria de me vestir com as roupas da moda, eu ia querer ser elegante. Passaria horas para me vestir e sair de casa, e gastaria tempo e energia com isso. Mas eu decidi me dedicar todo à assuntos transcendentais, por isso sou um monge careca.”
Brilhante, não é mesmo? Com bom humor e educação, ele me explicou simplesmente todo o sentido da vida monástica em dois minutos. E é isso mesmo. Existe este caminho. O monge santo corta o cabelo, não por cabelo ser ruim, mas porque se você tem cabelo deve fazer o MELHOR nele, ou trazer uns chapeuzinhos legais como eu.

Se você tem vida afetiva, deve procurar o tipo de pessoa que te encanta, que você gosta, e não simplesmente ficar com alguém para obter uma migalha de sexo, ou escapar da solidão, isso é muito pouco. Se você está no mundo, e é espiritualista, então deve fazer o melhor para expressar seu espírito na matéria.
Isso significa, queira o melhor, procure o seu melhor ou vire um monge. Não virou monge, não saiu do mundo? Não fez voto de castidade? Então pare de tentar fugir da solidão ou ficar com quem “rolou” e vá aprender a abordar, ser rejeitado sem desespero e eventualmente você vai ficar com o seu tipo, o tipo que te encanta.
Só depois disso me venha falar de Kundalini, de energia sexual, senão o que você fala tem o mesmo valor do conteúdo da caixa de areia do seu gato.
Construiu família, não virou monge? Seja um bom espiritualista então, dê a melhor vida possível para seus familiares, seus filhos, cônjuge, ou não se considere espiritualista, pois você está fazendo isso errado.
Você está utilizando a espiritualidade para fugir de responsabilidades, vontades e aprendizados essenciais no mundo caso você ignore os bens materiais, finja desprezá-los, mas continue vivendo da matéria. Vire monge ou tome vergonha na cara e pare de fingir virtude!
Nós aqui estamos e aqui estaremos enquanto aqui estivermos, portanto, faça seu melhor, no mundo, do mundo, para o mundo.
A prosperidade financeira, e até mesmo a riqueza, portanto, se tornam totalmente espirituais quando o caminho espiritual que você escolheu é no mundo que os proporciona e é movido por estas coisas.
Fechar os olhos para meditar, aprender mantras e querer entender conceitos filosóficos enquanto seu filho, sua família, precisam de mais para viver bem, é uma vergonha e não uma virtude. Caso queira que isso seja virtude, resolva suas questões primeiro (que você escolheu), ou vire monge, frade, eremita, coisa do gênero.
E é por isso que mantras, meditações e deidades no budismo esotérico e na espiritualidade oriental são tão ligados às coisas terrenas, com deidades de riqueza, sedução e proteção física, por exemplo.
Pois no oriente nada espiritual faz sentido sem poder “prático”, no mundo em que você vive. É por isso que iniciações eram pagas com pó de ouro pelos tibetanos, para aprender sobre as deidades que fariam a diferença em sua vida prática.
A espiritualidade oriental é muito materialista pois não admite a separação matéria-espírito como coisas opostas nem muito diferentes, e sim complementares. Eu sou orientalista.
Agora, o que se vende no ocidente sobre espiritualidade oriental é uma aberração gratiluz, especialmente quando se mistura tudo com filosofia, ascetismo e sacanagem sagrada (que no ocidente ousam chamar de tantra).
Dar de graça, portanto, é uma hipocrisia para crescer através do sofrimento enquanto se finge virtude. Não existe aprendizado no sofrimento, o mundo está cheio de sofrimento e não se torna melhor por causa disso.
Países que convivem com a guerra, a fome e a destruição, não estão mais cheios de gente virtuosa no final do dia, e sim de gente que sofre.
Quem torna o sofrimento aprendizado somos NÓS, seres humanos, e isso é importante pois muito do sofrimento neste plano de existência é inevitável. É uma capacidade humana fazer sentido e aprender com isso. Este sentido brota no sofrimento, bem como na alegria.
Se você está sofrendo, normal, aprenda com o sofrimento e traga sentido e empatia para isso. Se você está tendo prazer, normal, aprenda com o prazer, e traga gratidão e empatia para isso, traga presença. Isso é colocar sentido nas coisas.
Sentido = Coerência = Espiritualidade
A romantização do sofrimento vem de uma raiz masoquista (o masoquismo é ligado ao prazer para muita gente esquisita), um certo prazer no sofrimento, no ser dominado, e também na crença do ascetismo, uma violência com o corpo para agradar ao espírito.
Eu trabalho com o Grupo das Vozes, e ali encontrei espíritos maravilhosos das mais diversas origens, uma das primeiras coisas que me foi dita foi que eles foram ascetas, santos e mestres, a maioria, mas que tiveram que aprender de novo. A dor obriga a aprender de novo o que foi marcado por agonia.
Portanto o ser humano não aprende com o sofrimento nem com a alegria e sim com o sentido que dá para estas coisas. Para dar sentido é preciso ter consciência, e isso é espiritualidade.
Para terminar este capítulo, deixe-me lhe dizer que além da energia da prosperidade, que é sim, parte da espiritualidade, essencial se você escolheu permanecer no mundo, tem ainda outra energia que nos impede da obrigação de dar de graça: A energia de troca.
Energia de troca:
Não só no meio espiritualista, mas tudo que é valorizado é investido. Investimento existe na forma financeira, intelectual e afetiva. A mais barata é a forma financeira.
Por isso a energia de troca por dinheiro é não apenas justa, mas a mais indicada para o nosso mundo, para a maioria das transações. Quando existe a falta desta energia, não existe investimento de uma das partes, imediatamente é quebrada a conexão. Isso vale para um conteúdo, uma iniciação e até para um relacionamento. A energia de troca é o que sustenta um laço energético.
Se você, como eu, já trabalhou com marketing, cursos e afins, já deve saber que geralmente os problemas vem justamente nas promoções do mais barato, ou nos sorteios dos gratuitos. Quem investiu sempre se esforça, coloca energia na coisa, e tem muito mais possibilidade de fazer acontecer e se conectar com o que é ensinado.
O ato de comprar é não só valorizar o que é consumido, é entrar na energia do mesmo e se comprometer com ela. Quanto mais caro o produto comprado, no sentido de curso e de treinamento, mais costuma ter resultados, devido ao compromisso daquele que investe.
Quem quer conteúdo deve estar disposto a pagar por ele de alguma forma, e quem tem conteúdo deve vendê-lo para viver bem na terra e justificar sua espiritualidade, que seja útil para sua vida no mundo, ou que vire monge.
E é por isso que NÃO, espiritualidade NÃO DEVE SER GRATUITA, mas sim, espiritualidade TEM QUE TER GRATUIDADE também.
O caminho do meio:
Como praticante do budismo esotérico o caminho que aprendo e ensino, é o caminho do meio. Isso não significa ficar em cima do muro, o caminho do meio muitas vezes depende diretamente do meio em que se está, e não significa ficar no meio do caminho.
O caminho do meio exige o conhecimento de dois extremos: a união de um tanto de ambos (não significa metade-metade), e algumas vezes a negação de ambos.

Alguns princípios importantes do que considero o caminho meio na espiritualidade:
– Não usar marketing que faça as pessoas de idiota através de técnicas de manipulação da dor alheia.
– Construir seus seguidores, mostrando o que tem e então entregar isso, de fato.
– Não mentir nem enganar as pessoas.
– Não se misturar com política. Quando alguém fala que espiritualidade tem sim, tudo a ver com política, a pessoa está querendo dizer que a espiritualidade tem tudo a ver com o posicionamento político DELA. Só isso.
– Não deixar de promover a gratuidade dos ensinamentos, pois muita gente pode estar passando por um momento difícil financeiramente, o que no mundo de hoje é totalmente compreensível.
– Valorizar seu conhecimento. A pessoa que não valoriza seu conteúdo espiritual, continua trabalhando CLT ou em coisas para o mundo, e não pode se dedicar a ter ainda mais conteúdo e prover ainda mais espiritualidade para o mundo. Você TEM que ter produtos para vender e vendê-los bem.
– Cobre com equilíbrio, nem muito caro nem barato demais. Uma pessoa que trabalha normalmente deveria poder comprar com algum esforço o seu conteúdo.
– Conceito Saulino: De acordo com uma enquete do Saulo Calderon em seu canal, 72% das pessoas não podem comprar um curso de mais de duzentos reais à vista.
Não dê de graça seu produto, mas deixe um cantinho, nem que seja a cada dez cursos vendidos, ou algo do tipo, para entregar um à quem não pode pagar mas que tem interesse em ter. Assim, pelo menos o seu produto é valorizado, afinal existe uma espera, e ele é dado em cada tantas compras, numa lista de interesse.
Sim, o MMM também terá em breve seus cursos e conteúdos exclusivos, mas nunca deixaremos de entregar o conteúdo do site, conteúdo que não é pago com dinheiro mas com o esforço intelectual de chegar até aqui, no final, e a fidelidade de nos SEGUIR NO INSTAGRAM.
É importante que você nos siga neste começo de trabalho onde primeiro estamos nos estabilizando, sem propagandas, marketing digital, nem fazendo parte de nenhum grupinho gratiluz. Assim nosso trabalho continuará, cada vez com mais presença e conteúdo.
Conto com você que conta comigo,
Fiat Lux!