Estudo do aulão do dia 30 de Agosto de 2025.
Matéria do Aulão
O que são os deuses?
Existem duas versões importantes sobre a origem dos deuses, uma que é metafísica e outra que é evolutiva. Você pode escolher uma das duas, acreditar em ambas, ou mesmo em nenhuma.
Na versão da Psicologia Evolutiva, acreditamos que desde as eras tribais de cada povo, onde a humanidade se dividia em clãs, famílias ou grupos nômades, a percepção de forças que estavam fora do controle da humanidade ganharam personificação, para serem compreendidas e manipuladas de alguma forma.
Assim, tudo que estava fora do controle da humanidade como trovões, sol, o destino das colheitas, o resultado de guerras e batalhas, a proteção contra animais selvagens, o fogo, a água, o ar, estrelas, e tudo que não poderia ser tocado ou explicado ganhou uma personificação em forma de ritualística numa tentativa de se obter algum controle sobre estas forças “terríveis” e fantásticas.

Nesta versão, os deuses não seriam astronautas, mas sim a necessidade humana histórica e natural de compreender e tentar influenciar o inexplicável.
Esta versão pode parecer a mais racional, mas ela fica tão simplista diante da complexidade de nossa evolução que é preciso ser cínico para ser cético e a apoiar totalmente; Carece de explicação quando começa a dar espaço para dúvidas transcendentais como: “Quem nos criou? Para onde vamos, de onde viemos? O que esteve aqui antes, e o que virá?”
Ela fica ainda mais insustentável diante de relatos do sobrenatural, tão presentes em culturas antigas. É tão difícil sustentar esta visão cética quanto acreditar em tudo que se era narrado e documentado no passado.
A outra versão é de que xamãs, pajés, sacerdotes, profetas, de fato teriam acessado realidades que só poderiam ser explicadas (assim como nossa origem) de forma metafísica, ou seja, espiritual.
Estas visões e canalizações seriam confirmadas pelas vivências de seu povo na prática, e a partir disso se criava uma ritualística para aquela personificação, com nomes e símbolos próprios.
Nesta versão, os deuses desta terra se misturam com deuses de outros planos, outras realidades e universos, pois todos são sobrenaturais. Eles seriam percepções ou experiências extrafísicas, e assim a ritualística seria um resultado desta percepção e vivências dos antigos.
Os deuses seriam descobertas, não invenções. A ritualística tem a função de nos fazer interagir com forças maiores do que nós e, em vários casos, INVOCÁ-LAS a nós, com o intuito de nos juntarmos com elas, interagirmos e sermos beneficiados de alguma forma.
No Mente Magicka, não vemos contradição entre estas duas versões, mas sim um complemento. Os deuses são isso tudo, uma percepção extra-física, e uma necessidade de personificação de poderes e arquétipos que não podemos compreender, controlar ou explicar.
Isso porque mesmo explicando cientificamente um trovão, ele não deixa de existir nem se toma controle sobre ele. Mesmo fazendo fogo com isqueiros, temos a percepção do fogo sobre nossa própria personalidade, como um elemento, o que não nos permite o desprezo deste ou de qualquer um dos outros elementos naturais.
É possível estudar o grau de acidez de uma chuva, mas é impossível cientificamente evitar que se chova, ou fazer chover. Mesmo que na China o controle do tempo mais avançado do mundo empurre nuvens com aviões gigantescos para limpar o tempo de um local, ainda assim chove e muitas vezes de forma até pior, com enchentes, devido a esta prática.
Os poderes e principalmente a sorte, continuam tão independentes e fantásticos, misteriosos e terríveis quanto em qualquer outra época da humanidade. Podemos escrever livros sobre sucesso nos negócios, mas não podemos garantir o sucesso de nenhum empreendimento.
Medimos hormônios, conhecemos os efeitos da paixão e da sexualidade como nunca antes, mas de forma alguma temos mais controle sobre nossa vida afetiva, sexual ou sobre nosso próprio contentamento nesta área do que se havia nas gerações anteriores.
A vida continua tão imprevisível como em qualquer outra época, e mesmo aqueles que se consideram mais modernos e evoluídos por terem, como Nietzsche, martelado os deuses, continuam surpreendidos pelo desconhecido em suas vidas, amargurados por períodos de azar, beneficiados pela sincronicidade e admirados pela coincidência, guiados e empurrados por forças alheias às suas escolhas e ao meio.

Negar o significado metafísico das deidades é tentar dar uma explicação simplista e racional demais, para um ser tão confuso e complexo como o ser humano, e pior ainda, por algo tão gigante, contraditório e imprevisível como o Universo do qual fazemos parte.
Seguindo esta lógica, temos outra contradição, desta vez dentro do universo magísticko.
Quem São os Deuses?
Agora isso fica mais confuso, mas vou resumir para não ficar chato. Os deuses são personas, personificações de coisas maiores.
Para alguns, estas coisas maiores são Poderes personificados, e eles dizem então que os deuses realmente existem, independentes da humanidade.
Para outros, tome-se estes outros como Magos Caoístas que jogam mais no lado da Magia Mental, os deuses são personificações de arquétipos, e por isso, nós também podemos incorporar estes arquétipos, ou mesmo um objeto o poderia, desde que seu significado fosse mágicko o suficiente para nós.
Na visão caoísta um deus não precisa existir, ele só precisa representar o arquétipo de forma que nós possamos compreender e acessar para trazer ele para nossas vidas.
Na visão de magia tradicional, feitiçaria e outras tantas, os deuses como seres alheios à nós, precisam ser chamados através de uma ritualística e nomes específicos e insubstituíveis para que possam ser acessados.
Na visão caoísta, um deus não precisa ter consciência, pois seus devotos, seus rituais, criaram uma egrégora em volta do nome e da forma, e esta egrégora tem mais ou menos força, dependendo da intensidade deste culto (não da quantidade). Os deuses seriam como super servidores movidos por egrégoras que os dão poder.
Na visão tradicional o que importa é de fato conseguir acessar aquela deidade e fazer com que ela trabalhe com você, mesmo que para isso seja necessário fazer vários rituais, pactos e conjurações.
Em qual acreditar?
Bem, mais uma vez, no Mente Magicka acreditamos em ambas, pois não vemos contradição entre as mesmas.

No Oriente não existe a diferença do que está dentro e fora em sentido metafísico, ou seja, para existir dentro tem que existir fora, e para existir fora só vai nos influenciar ou se tornar real para nós, quando também passa a existir dentro.
Na Magia Oriental ao invés de “o que está acima é igual o que está abaixo”, se acredita que o que está dentro é igual o que está fora, pois não sabemos o que está acima até percebe-lo dentro de nossas vidas.
Caoístas mais experientes bem como magistas cerimoniais e feiticeiros que já tiveram sucesso vão concordar que a egrégora, a origem, o nome e a forma importam menos do que a real ligação daquela personificação (Deidade) com o subconsciente de quem a chama.
Eles também já perceberam que o que está dentro será igual o que está fora, e o que está fora vai ser igual ao que está dentro, seguindo a lei do mais forte, ou da consistência, assim as coisas se tornam.
De qualquer forma, recomendo pessoalmente que sempre que trabalhar com uma deidade evite a experientização seca como fazemos muitas vezes na Magia do Caos, pois por experência (eu sou caoísta), a devoção e a crença em determinada personificação (deidade) são muito importantes para acessar este Poder no que pode ser a sua própria parte nele.
Portanto, recomendamos chamar uma personificação de poder (deidade) para sua vida como um ser independente que tem algo que é seu, dentro e fora, pois sabemos historicamente que é mais eficiente assim.
É como criar um filho na imagem de pai, ou na imagem de irmão mais velho. Ambos podem ser, mas eu que sou pai e irmão mais velho, posso te garantir que nos momentos de fricção, é melhor ser pai do que ser irmão, sob risco de ter os ônus sem os bônus da autoridade.
E uma coisa muito importante ao lidar com o desconhecido é a autoridade. De que vale a devoção de quem não tem autoridade sobre o que quer e o que está fazendo?
Saber o nome, símbolos e ter a coragem de utilizar isso tudo para falar com um ser maior, alheio e que possivelmente tem soluções e elementos do que está dentro de nós, é um ato de poder, é magia, um ato de autoridade dentro de nosso universo particular.
Afinal o culto aos deuses sempre foi sobre isso, autoridade, não no sentido de comandar ou constranger, mas no sentido de autoria, de retomar (criar) algo cujo controle se perdeu ou jamais se teve.
A fagulha Divina em Você
Você tem medo de traição, de humilhação, se confia menos do que gostaria, não se banca em algumas situações em que seria essencial estar do seu próprio lado, gostaria de ser mais leve e de se expressar melhor.
Isso significa que você é parte de um seleto grupo de seres no universo, seres capazes de receber almas no caminho de evolução (Dharma) em diversas dimensões diferentes com corpos diferentes, os seres humanos.
Você também possui desejos e segredos que não ousaria revelar a ninguém, pois seria alvo de um cancelamento imediato caso a sinceridade lhe tomasse de ataque. O desejo, por isso, é um privilégio da nossa intimidade, ou de determinados momentos em que podemos realizá-los sem escandalizar os outros.
É uma falsidade em que você se obriga a viver, mas entendemos. Quando escolher uma deidade para chamar, especialmente se forem os famosos demônios que explicaremos aqui, saiba que estará em contato com seus desejos, mas por um prisma amoral e particular, por isso os demônios são sempre seu espelho, e terão sempre a sua cara.

Os seres “trevosos” costumam ser esteticamente mais “atraentes” do que os do caminho da mão direita, pois representam desejos e ambições.
Mas você também tem algo de especial, e sabe disso. Uma fagulha divina, grandiosidade e generosidade, um sentimento estelar, um pertencimento à um cosmo, um algo maior universal, algo muito belo. Um senso artístico, algo que joga beleza e brilho particular através de coisas simples até.
É da junção destas três coisas, seus defeitos, desejos e realidade divina que surge a força para a junção com qualquer deidade, anjo ou demônio. E essa junção é, por sua vez, uma das três moedas de troca que vamos te explicar também mais à frente.
Demônios e Anjos
O conceito de Anjos e Demônios no Ocidente só foi surgir mesmo no fim do primeiro milênio da época cristã e só foi se tornar popular na idade média, pré-cruzadas.
Havia nesta época, dentro da religião esmagadoramente dominante (Católicos eram os cristãos, o resto eram “hereges”) uma forma crescente de práticas ritualísticas.
Uma mistura inevitável de culturas, deidades e práticas mágickas existia mesmo dentro das igrejas; não era, no princípio, algo popular já que o povo era constantemente “apavorado” com ameaças de tortura eterna por ter sido concebido após uma relação sexual e subornado com promessas do paraíso e perdão por seu “pecado” incluso na própria natureza.
Eram tipos de magia e práticas que vinham do popularismo pagão, de deuses e arquétipos de povos diferentes, convertidos (como os celtas), mas que agora encontravam uma nova forma de expressão.
Não tardou para que estas formas de expressão se alastrassem por dentro do clero e da nobreza absolutista com seu direito à viver melhor, e a “mão esquerda” oficial do Clero foi criada.
É claro que esta ritualística pervertia nomes de deidades, suas histórias e poderes, deformando-os para caber na imagem de deuses “menores”, subjugados ao deus maior (com D maíusculo) que era o punitivo deus cristão.
Estes deuses eram chamados vulgarmente de “espíritos” agora, com uma corruptela do grego para o latim, fonte da primeira bíblia popular que fora muito mal traduzida por um linguista e monge eremita chamado Jerônimo, que morreria com fama de santo por isso.
A corruptela para espíritos vinha do grego “δαίμων”, que em grego pode se pronunciar por Daemon, Daemono, ou Daimonion, e virou o Daemonium em Latim (que em português dizemos demônio).
Δαίμων (Daemon), no entanto, significava em grego simplesmente “espírito”. Sócrates era guiado por um “Daemon” ou espírito, e este espírito poderia ser entendido tanto no sentido de entidade ou no sentido de uma voz da própria consciência, isto não era importante para o gregos.
O importante era ouvir a voz do espírito (daemon) e alcançar os estados de eudaimonia, “inspiração boa”, “união com o espírito” ou “divino”; um estado que no Oriente se conhece muito bem por “iluminação”.
Os gregos dividiam também os espíritos malignos, ou más influências metafísicas, e eram chamados de Kako Daemonos, que poderíamos traduzir literalmente por “espírito prejudicial”.
A palavra δαίμων Daemono portanto nunca significou algo ruim na língua grega, mas o latim daemonium ignorava o qualificador adjetivo “kako” e simplesmente utilizava o termo “daemonium” adquirido do grego para definir qualquer deidade, influência ou consciência espiritual de fora do catecismo católico, e por isso potencialmente prejudicial.
Os daemons portanto surgiram na idade média. Os demônios (em português) eram “todos os deuses que não o meu”, eram por isso temidos e evitados pelo povo, proibidos, difamados, mas ainda assim eram muito utilizados no clero e na nobreza, que não contavam apenas com rituais cristãos para ganhar e manter poder.

Já os deuses principais dos pagãos (todos os não cristãos), os portadores da Luz, os “Luciferes” eram encaixados na imagem de algo pior que um demônio, mas sim como seu chefe, ou seja Satanás (termo em hebraico pronunciado “ha satan” para a palavra “adversário”) virou Lúcifer, o portador da luz (em latim “lux ferre”), pois qualquer luz que não venha do meu deus, mesmo que seja do sol, é uma luz proibida.
Para este ser foi dado o nome em latim de “Diabolos” (Diabo em português só passou a ser utilizado no séc XVIII), que é o contrário de Symbolum (símbolo: o que une), significa “o que divide”, o divisor. Ele era a divisão entre o deus em voga, as ideias de sagrado daquele momento e todo o resto.
É claro que “todo o resto” não soa bem, e não era chamado assim. Era chamado de diabólico, ruim, prejudicial, divisor, pervertedor, infernal e muito anunciado e temido, sendo realmente apresentado para o povo e se tornado uma imensa impressão no inconsciente coletivo.
É por isso que o diabo e seus demônios sempre eram representados deformados, hediondos, assustadores. A arte nesta época era sacra, e qualquer artista para aparecer tinha que seguir os ditames da arte sacra, e isso permaneceu até a era do “Renascentismo”, onde se tem as primeiras imagens humanizadas ou “angelizadas” de Lucifer, do diabo, e de demônios.

Espero que já tenha entendido que no Ocidente você ainda vive num lugar dominado por conceitos pré-medievais quando se fala do Sagrado. Mas isso está mudando! Eu sou parte desta mudança, e por isso me deram o nome de Aquarius, e espero que você esteja aprendendo a mensagem, a verdade, pois “a verdade vos libertará”.
Anjos: A beleza medieval
Anjos eram o contrário dos demônios para o medieval. Esta palavra surgiu um pouco antes dos demônios, no entanto, se tornando popular durante o período medieval pelo contraste com seu “oposto”.
A palavra vem da mesma origem de nossa inspiração linguística ocidental (hebraico-grego-latim). A palavra Malakh (מלאך) significa mensageiro, e seu plural é Malachim.
A igreja grega com seus primeiros cristãos já substitui o termo Malachim no plural em hebraico por Aggelos (ἄγγελος), “mensageiros” no mesmo sentido de representantes, “delegados” no sentido de agir em nome de algo.
Nesta época, sem demônios e diabo, os Malachim ou Aggelos eram todas as figuras que vinham do “céu” para agir com uma força sobrenatural maior (inclusive Satanás), e que vinham trazer mensagens, destruição, bênçãos ou maldições. Os representantes do Sagrado, autores diretos na criação.
Na idade média o termo grego Aggelos foi traduzido para o latim como “Angelus” (que em português é anjo), e tomou contornos ainda mais claros. Agora não eram apenas os mensageiros ou delegados de tarefas divinas relacionadas à criação do universo e da forma maior criadora, mas sim os “representantes do meu deus, o deus verdadeiro”.
Eles eram representados a partir de então com os ideais de beleza medievais. Cabelos claros, feições delicadas, corpos fortes e geralmente muito bonitos, o exato oposto dos demônios, que eram as forças ou deuses que não faziam parte do “meu deus”, e por isso se deformaram (eram representados deformados).

Fora do catecismo cristão, e de seu modo impositivo de pensar, os anjos não são opostos nem são mais bonitos que os demônios (até pelo contrário), mas muitos demônios (deuses antigos) são também anjos (tem parte na criação e leis do universo), e diversos seres tidos por anjos são na verdade demônios (personificação de desejos e mistérios).
Lidar com deuses antigos e seus resultados em invocação é sempre mais fácil que lidar com as potências de criação (anjos requerem mais força de vontade e estudo), e para diferenciá-las NÃO PODEMOS utilizar o pensamento padrão medieval, mas pesquisar a origem do ser que será invocado ou cultuado.
Vários anjos são presentes e tidos por demônios na chamada Goetia. Astaroth (que é também uma deusa), Seere, Asmodeus, Belial…
Se uma deidade representa um mistério, um anjo é alguem que cria o mistério na existência, permite que exista no cosmos, é a origem.
É por isso que quando vejo aberrações como a “Goétia do Dr Rudd” e sistemas de chamada de anjos para controlar demônios passando por “livros de invocação de daemons” sinto uma mistura de sarcamo e desprezo.
Um sistema que chama anjos para controlar demônios, só numa mente medieval pode dar certo (e como tudo que atinge a mente do mago pode sim trazer resultados!). A ironia é que muitos dos que utilizam assim suas invocações seriam condenados à fogueira pelos mesmos criadores das crenças que tomam emprestado para fazer sua magia.
Então anjos e demônios são nomenclaturas cristãs, e para você descobrir se o demônio ou anjo que você está chamando se trata de uma deidade antiga ou de uma potência criativa, você terá que ir fundo em sua origem, muito além dos grimórios escritos pela mesma galera que seguia as crenças que estamos expondo aqui.
Hoje em dia, na Magia Cerimonial os anjos são os seres que tem a ver com criações de universo, ações de criar e destruir direto na matriz cósmica, na realidade das coisas; já demônios são os deuses que regem ou personificam a criação, dão personalidade para estas coisas, as representam, não apenas agem nelas, eles tem personalidade, paixões e preferências. Nenhum é maior que o outro, eles não brigam nem sequer se cruzam em seus caminhos, são funções diferentes num universo infinito.
A Goetia, como a maioria dos grimórios cristãos, é uma mistureba de anjos e demônios. É preciso ir além do texto medieval para realmente se conectar com algum deles, ou se limitar aos efeitos ali escritos como “fazer alguem se apresentar nu a você” (o que pode acontecer em qualquer site de consolo da internet), “descobrir tesouros” (que pode ser a mera inspiração de “eu bem que poderia fazer isso e ganhar muito dinheiro”), ou manjar mais de “ciências humanas” (sem precisar da faculdade)…
Os resultados da goetia são limitados para a maioria dos praticantes por causa disso. Mas se você se dá bem com o pensamento medieval, e consegue, mesmo que por um momento (o do ritual) entrar na “brincadeira”, e de fato permitir que o universo seja dividido entre anjos e demônios, você é um dos poucos que podem fazer isso funcionar, então o faça, teste. Eu não sou.
Só mais um adendo sobre anjos:
Trabalhar com anjos, as potências universais de criação, pode trazer resultados violentos e mais disruptivos do que trabalhar com demônios, inclusive é essa a minha experiência; no entanto eles respondem menos aos seres humanos que os demônios, afinal eles não tem as mesmas emoções que nós, não são como deuses, e é preciso usar as emoções como linguagem clara e objetiva, o que é bem difícil e requer treinamento.
Diabolismo
Claro que o clero e a nobreza passavam a visão de feiúra e periculosidade dos demônios para o povo, que não podia mexer com magia (nem ler a própria bíblia), mas era um culto muito presente entre os nobres e os membros das igrejas.
Os primeiros invocadores de “demônios” não eram magos negros, pessoas revoltadas com a opressão, bruxas e pessoas “anti-cristo”; ao contrário, eram frades, bispos e membros de ordens esotéricas dentro da própria cristandade.
Nos séculos XIII e XIV, especialmente frades Carmelitas e Franciscanos, que eram os que gozavam de maior prestígio (junto com os dominicanos) na Europa, começaram uma série de pequenos círculos de estudo e ritualística “paralela”, muitas das quais utilizando os deuses antigos e de outros povos os chamando de demônios e procurando subjugá-los com “a força de seu deus” para obter sua vontade.

O contato com os árabes (que se juntavam de diversos países), os israelitas do incrível e místico reino de Beduíno (o anjo leproso), e a junção de povos europeus de diferentes etnias e culturas para as cruzadas, bem como o início de diversas ordens esotéricas (como os mais famosos Templários) criou uma miscelânea cultural que expandiu (ainda que sem querer) os horizontes e pensamentos da época.
Qualquer contato com o desconhecido sempre muda a gente, de alguma forma, e por isso é tão temido. Mas disso que é feita a história.
Estes contatos criaram no clero e na nobreza da época a vontade de testar e criar ritualísticas (ainda que utilizando suas próprias regras e narrativas) para usar diferentes poderes e interagir com o universo que se expandia à sua frente.
Estes experimentos aconteciam, como tudo que provoca mudança no mundo em qualquer época, de forma simultânea e em diferentes países, por diferentes pessoas, mas de forma muito semelhante, como que por algo que “estava no ar”, uma nuvem chovendo no inconsciente coletivo de então.
Mais particularmente na Italia, França e Espanha é que surgiram os cultos mais fortes do que conhecemos hoje por Diabolismo, ou o culto ao diabo e a tentativa de subjugar demônios e ganhar seus tesouros.

O fato de que este culto e rituais funcionavam (mais que as missas) para ganhos mundanos fez com que se expandissem muito rápido, e muitos populares o procuravam aprender com os próprios frades, e assim surgiram magos independentes, frades renegados e pequenos covens.
Isto não era restrito à homens, muitas bruxas apareceram nesta época invocando o diabo com nomes diferentes como “mestre leonardo”, “Deus cornudo”, “O Bode”, etc. Muitas das quais aprendiam com religiosos também, outras que já traziam de suas ancestrais os cultos pagãos e misturavam o antigo com o moderno (na época).
Este tempo de culto equivocado e de alto apelo emocional (poucas coisas mexem mais com o subconsciente do que interagir com seus medos) logo chamou a atenção de autoridades eclesiásticas e políticas da época, pois estava “saindo de controle” e se tornando uma ameaça para seu poder absoluto.
Ordens Esotéricas tinham material “secreto” que nem igreja nem nobres sabiam do que se tratava, os Templários criaram o primeiro banco do mundo e dizia-se, eram mais ricos que a própria igreja; pessoas do povo deixavam de ir à missa e ouvir os sermões que garantiam obediência num tempo em que ler era um privilégio de uma pequena galera.
A simpatia pelo Diabo crescia, e tudo isso resultou numa das páginas mais feias da história, pincelada pelos mesmos que criaram as formas demoníacas: A “santa” Inquisição.
Como tudo que é vantajoso quando se torna proibido fica imediatamente mais atrativo, pois se junta à possibilidade o apelo do desafio, o diabolismo cresceu marginalmente e dentro das igrejas.

Os famosos Templários foram um dos principais alvos e exemplo do início deste período obscuro. Os poucos que conseguiram fugir da perseguição foram para a Escócia, França ou Portugal (que criaria as caravelas, maior tecnologia da época, com o símbolo Templário) onde tiveram papel essencial no período das grandes descobertas.
Desta época nos sobram algumas coisas: simpatia pelo Diabo, conceitos equivocados que já são parte da cultura ocidental e não mera religião, uma curiosidade conquistadora pelo desconhecido (mais que outros povos), e vários grimórios esquisitos com algumas daquelas práticas antigas que hoje em dia alguns insistem em emular.
Adendo:
As informações que trago aqui não foram simplesmente deduzidas, tiradas de livros escritos por espiritualistas canalizando golfinhos, nem fontes que trabalham com caminho da mão esquerda ou “adoradores do diabo”, pelo contrário, e eu provo.
Se algum dia você quiser ir mais fundo nisso saiba que é possível, pois minhas fontes são acadêmicas, pesquisas e estudos avaliados por bancadas de historiadores mais renomados da Europa (onde tudo aconteceu).
Para estudos históricos do Ocultismo eu sempre adquiro livros na biblioteca da Cambridge University (uma das maiores bibliotecas acadêmicas do mundo) e se você pode ler em inglês e estiver disposto a pagar, tem em versão de leitura online e eu recomendo veementemente que o faça com os links:
“Demons and The Friars” (uma pesquisa acadêmica de Tamar Herzig com dezenas de fontes históricas apresentadas, entre documentos de arquivos do Vaticano e de bibliotecas de antiguidades italianas)
“Magic, Science and Religion in Early Modern Europe” – Mark Wadell – Michigan State University (um livro acadêmico sobre os inícios da demonologia, o culto aos demônios e adoração ao diabo na Europa medieval e renascentista)
PROHIBITION, CONDEMNATION, AND PROSECUTION – Richard Kieckhefer (Capítulo oitavo do livro Magic In Middle Ages, um projeto acadêmico da Cambridge University Press de 2014)
Magic, Mysticism, and Heresy in the Early Fourteenth Century – (Um estudo sobre diferentes formas de ritualística na era medieval, feito pelo pesquisador e historiador Michael D. Bailey).
Fórmula de invocação que funciona: Invocação Ocidental
Agora que já falamos da parte teórica, vamos à parte prática, mais curta e dinâmica.
Os grimórios medievais trazem fórmulas universais, baseadas em magia antiga de todas as eras, apenas floreadas com seus dogmas e preocupações.
É como aquele tio que tem mania de lavar as mãos a cada vez que passa pelo banheiro, ou como a pessoa que usa máscara para se livrar dos folículos de poeira no ar, não é que estejam de todo errados, apenas estão problematicamente exagerados.
Estes grimórios codificados em alegorias esotéricas e religiosas da época, não são peças “erradas”, nem ineficientes. Eles trazem a fórmula oficial de invocação que vou destrinchar aqui para você em seis passos simples.
Após o estudo destes seis passo e sua compreensão é que você pode pensar em montar um pequeno altar para colocar mãos à obra, por isso as outras informações seguem depois destes seis passos essenciais, presentes em todos os grimórios.
Primeiro Passo: A escolha
A primeira parte dos grimórios sempre é a apresentação de uma série de espíritos, mitos sobre eles, avisos e cuidados. Geralmente existe também a descrição da aparência destes seres para que a pessoa que chama tenha já uma base para imaginar algo (muito importante), bem como seus sigilos (símbolos recheados de energia que representam o ser chamado).
Os grimórios sempre citam as áreas de atuação destes seres, de forma que através de uma possível descrição dos poderes você tenha mais clareza na sua escolha, portanto a primeira metade de todo grimório (a parte maior em relação às outras) é toda voltada para o primeiro passo, a decisão de fazer o ritual e chamar determinado ser.
Esta decisão de “quem chamar” vai determinar o resultado que você terá, mais do que qualquer outro passo. Isso porque quando você chama uma deidade que tem “simpatia” por você e sua causa (por isso se limitavam as deidades a seus possíveis efeitos), você tem uma alta chance de ter sua Vontade potencializada na sua realidade presente, e a realidade começará a mudar.
Já quando você chama uma deidade que pode ter simpatia por sua causa, mas não tem por você, ou quando você chama um ser que tem simpatia por você, mas nenhuma ligação com a causa da chamada (chamar um deus da guerra para um trabalho de adoçamento por exemplo), os resultados costumam ser neutros ou pequenos.
Quando você chama um ser que não tem qualquer simpatia por você, nem recebe sua causa como verdadeira (não vê ardor, força de vontade o suficiente) é que costumam acontecer coisas esquisitas, e até mesmo um sentimento de que algo não está legal.
Por isso é importante consultar um oráculo de confiança (ou até mesmo um oraculista), seguir sua intuição se ela se mostrar forte, estudar aquilo que será chamado e seguir uma estrutura como esta, que pode ser repetida depois para agradecer e até para retirar as influências dessa energia na sua vida.
Segundo Passo: A limpeza
Este segundo passo, sempre presente na magia ocidental, nos grimórios medievais costuma aparecer como “Confissão”, arrependimento de seus pecados, algo que te coloque limpo novamente.
As fórmulas para isso vão desde uma confissão literal até banhos especiais, práticas como jejum e abstinência, coisas assim.
Não ignore este passo, no entanto. O “limpar-se” é importante, pois é preparação.
Este passo modernamente e sem dogmas pode ser preparar todos os materiais que você acha necessário (velas de determinada cor, determinado incenso, pequena oferta, o horário e o espaço), e claro, “entrar no clima” para isso.
Pode ser observar seus erros durante um momento logo antes do ritual, deixar que eles passem; se perdoar, e pode ser realmente tomar um banho de alecrim ou manjericão para tirar energias negativas, ou de Louros para trazer vitória sobre as situações do momento.
Este segundo passo faz parte da preparação do subconsciente, pois avisa a realidade presente e sua própria mente de que você está cruzando o limiar das realidades, permitindo que uma coisa entre na outra.
Outro detalhe importante é que este passo termina na construção de um círculo magicko que inicia o trabalho. Nos grimorios cristãos ele aparece para proteger o magista dos que são chamados.
Na nossa consciência magicka, no entanto, sabemos que o círculo serve para isolar um local de uma determinada realidade, servindo de portal para o que é chamado e cordão de isolamento contra o que não tem a ver com as energias do ritual ou que poderiam nos prejudicar.
Círculo Mágicko de Proteção
Tome um tempo para respirar de olhos fechados, apenas pelo nariz. Respire 8 vezes da seguinte forma: inspira por 5 segundos, prende por 8 segundos, expira por 5 segundos, prende por 8 segundos. Essa é a respiração 5-8-5-8, e estes quatro passos são uma respiração. Faça 8 vezes.
Terminado seu exercício normalize a respiração, e imagine um círculo de luz azul em volta de você.
Permita que a luz do círculo vá se transformando em luz líquida, até que se torne água, e logo um turbilhão de água que circula a você no espaço determinado.
Diga: Eu crio meu círculo mágicko e me envolvo na força do elemento água.
Dito isto, permita que o turbilhão de água gire cada vez mais forte, a água esbranquiçando até que pareça um tornado e se transforme em ar, um círculo de ar que te envolve como um furacão.
Diga: Eu crio meu círculo mágicko e me envolvo na força do elemento ar.
Deixe que o tornado à sua volta fique empoeirado e cheio de terra como que vindo do solo e levantando tudo, os ventos cada vez mais escuros até que se transforme num círculo todo de terra voando à sua volta. Veja e sinta as partículas de terra, os pedaços de barro, grãos, solo e folha voando em volta de você no espaço que delimita o círculo.
Diga: Eu crio meu círculo mágicko e me envolvo na força do elemento terra.
Agora permita que a terra gire cada vez mais rápido a sua volta, friccionando, se chocando e gerando faíscas. Veja as faíscas incendiando cada grão de terra levantado e formando um círculo de fogo à sua volta. Sinta o calor, sinta a luz que emana deste círculo de puro fogo.
Diga: Eu crio meu círculo mágicko e me envolvo na força do elemento fogo.
Observe agora os quatro elementos juntos tomando a forma de quatro linhas diferentes que te circulam, uma em cima da outra, levante as palmas das mãos em direção ao teto (ou ao céu) e diga:
Eu Sou Uma Estrela! (x8)
Enquanto diz essa frase visualize a estrela que desce dos céus, cor de violeta muito brilhante, ela vem de cima, entra por cima do círculo, entra na sua cabeça pelo chakra coronário, e por dentro de você chega até seus pés, sai pela sola dos pés e colore todo o círculo magicko por dentro a partir do solo.
Junte as mãos na posição de prece (mudra de junção de energias), uma palma tocando a outra; abra os olhos e sopre as mãos antes de separá-las, permitindo que se abram, e siga o seu ritual, você está dentro de um circulo magicko que nenhum material pode fazer e replicar no astral.
Terceiro Passo: Autoridade
É aqui que começa o seu ritual. O objetivo neste passo é convencer em primeiro lugar a você, e então só depois mostrar para o espírito a sua força magisticka e direito de interagir com ele.
Nos grimórios isso aparece como: “Oh Senhor, eu sou Fulano de tal, filho de deus, da virgem…”
Passava rapidamente para os salmos e exaltações do nome em que se chamava e quando menos se esperava já estava em: “Em nome de Adonai, Elohim…eu te conjuro oh espírito!!”.
Você não precisa utilizar nomes em hebraico nem latim, nem em chinês, a menos que tenha ligação com forças ligadas a estas línguas.
Para este passo, tudo que tem a fazer é realmente invocar a sua força divina. O sagrado em você. Caso tenha deidades ou seres a quem seja devoto, que te assistem nas coisas da vida, pode exaltar seus nomes e chamar suas forças, do contrário evoque seu próprio divino.
“Pela junção dos magos, bruxos e bruxas, poderosos buscadores vivos e mortos dos quais descendo em egrégora, eu clamo o poder dos mestres na senda da divina Sophia, pelos portadores da luz e guardiões de mistérios, eu te invoco….”
Aqui você pode entoar com força o nome do ser para chamá-lo, no mínimo três vezes. Tem gente que gosta de utilizar enns (mantras daemonicos) aqui, outros de repetir o nome do ser até sentirem mudança no ambiente; outros de chamarem olhando para o sigilo ou a imagem do ser. Você pode fazer tudo isso, ou apenas o que sentir que é necessário (você vai saber na hora).
Quarto Passo: O diálogo
O mais importante é saber que em magia, na maior parte das vezes, o ritual que funciona não produz grandes efeitos físicos, nada muito aparente. Enquanto que a maioria dos rituais que produzem arrepios, efeitos físicos e alteram claramente a atmosfera do local falham miseravelmente em trazer mudanças ou os resultados que os motivaram.
Por isso você deve, após o sentimento de estar numa presença maior ou em contato com alguma consciência, prosseguir de imediato com seu diálogo mental com o ser e seus requerimentos, explicando a sua vontade em detalhes, sentindo o que for, mesmo que seja agonia pela situação presente, para logo depois terminar declarando e imaginando sua Vontade realizada.
Fale no tempo que quiser, pode até desabafar, mas o ideal mesmo é que diga sua vontade de forma sucinta, com o máximo de sentimento que conseguir, mesmo que dramaticamente.
Você pode falar como algo já realizado, mas se você se sentir idiota fazendo isso (eu me sinto) simplesmente diga no tempo presente, “É minha Vontade que(explica o vontade)…pois (explica a situação)…utilize tuas forças para me ajudar e fazer que isso ocorra”,
Tenha sinceridade e humildade. Humildade não é se humilhar, nem se dizer menor, nem deixar de se valorizar. É ser sincero (a), consciente.
É importante pedir um sinal se você estiver trabalhando com o invocado sem querer criar um caminho devocional antes de “testar as aguas”; geralmente se pede um sinal em duas semanas, mas para casos mais complicados, realidades a serem mudadas, dizemos que queremos o sinal dentro de mais tempo, como vinte e um dias, ou até mesmo um mês.
Em magia mudanças totais que acontecem em três meses significam rapidez! As mudanças de realidades totais costumam acontecer entre seis meses e um ano.
Quinto passo: Partida da Força
Aqui os antigos grimórios ocidentais são quase unânimes em requerir um banimento. Quanto mais “limpo” for o ambiente, quanto menos resquícios do ser em questão sobrarem, melhor.

Erro no quinto ou no primeiro passo?
Agora, nós sabemos que se virmos os seres invocados como “prejudiciais”, em primeiro lugar seria melhor nem nos darmos o trabalho de chamá-los. Sabemos mais ainda que, se alguém nos fizer um requerimento, o modo como faz determina a forma como vamos executar.
Se seu amigo te chama na casa dele, ou até para tomar um chopp e ouvir sobre uma questão delicada da vida dele, pede ajuda com uma mudança e depois simplesmente te manda embora dizendo “agora vá, e faça”, você com certeza não se sentiria bem. Se fizesse, não faria com esforço ou gosto por ajudar.
Mesmo que seja seu chefe que te chame numa sala, passe um novo trabalho, te mande embora e bata a porta atrás de você enquanto borrifa um desinfetante na cadeira em que você sentou, com certeza você também não se sentiria bem.
Por que diabos fazemos coisas numa invocação que não tem qualquer sentido na vida real?
Porque fazemos numa mentalidade cristã de submissão, desprezo e MUITO MEDO.
Se estiver com pavor de determinada força, deidade ou demônio, por favor não mexa com isso, não será benéfico. Magia costuma amplificar as coisas, e uma mente que esteja obsediada vai manifestar obessões.
O banimento, no entanto, tem fundamento. Ele é a dispersão, o aterramento da força. Sem o aterramento da força, como você vai voltar ao “normal”, e enviar esta força para que ela reproduza no universo e na sua vida?
Então sim, é necessário aterrar a força, e eu vou te ensinar, de uma forma que você não precise agir como um padre cristão.
Ao terminar seu diálogo, agradeça por ter sido ouvido (a). Agradeça pela oportunidade, e diga:
“Há paz entre nós. Eu envio esta força agora, e permito que ela se reproduza, te agradeço por ter vindo, que seja feita a minha vontade, que a minha vontade seja a tua, e que esta força seja aterrada. Eu fecho este espaço no plano da manifestação, e permito que esta energia se vá, para que seja realizado e terminado este ritual.”
Pegue a força do ritual, de todo o espaço, imagine com firmeza o seu círculo interno de proteção, cor violeta brilhante como um vórtice que puxa a energia pela sola dos seus pés e descarrega no solo, mesmo que de um apartamento, pois está ligado à terra em seu fundamento.
Permita que a energia seja jogada para a terra, para o fundo do solo, do planeta. Sinta o corpo, respire, deixe sair. Jogue a energia para a terra.
Agora diga: “Eu Sou, fechando o espaço e o enviando!”, sinta as forças do ritual juntamente com seu círculo magicko todos saindo para o fundo da terra. É ali que se descarregam as energias e é por ali que isso pode frutificar. Você plantou uma semente da sua Vontade.
Sexto Passo: Volte a si
Ficar pensando no ritual, se deu certo, se foi ouvido, se o espírito está ali ou em outro lugar, se você fez tudo direito, se não ofendeu, se foi suficiente, se não está imaginando…
Tudo isso faz parte da ansiedade de resultado, que é uma forma de super-intenção. A super-intenção é uma maldição que nos desconecta do meio e nos obriga a falhar.
Temos um artigo todo sobre Super-Intenção no site, e ainda vamos nos aprofundar nisso, mas saiba que neste instante, tudo que você deve fazer é deixar ir.
Não é fácil deixar ir. Este passo é muito importante, e os antigos grimórios não o mencionam, pois eles foram criados por “homens de fé”, pessoas que acreditavam piamente numa terra plana, um sol girando em torno dela, um deus observando o tempo todo.
Você não precisa ter fé, mas é essencial que saiba deixar o seu querer se manifestar sem ficar cutucando cada ação que você faz por isso. Você plantou uma semente, deixa ela ir, agora foque nas outras ações para atingir seu objetivo, pois elas SEMPRE existem.
Deixa acontecer, deixe o ritual, ele foi fechado, já foi. Volte-se para os próximos passos, mas também não finja que o ritual não acontecer. Agradeça quando lembrar dele, pois você está aprendendo magia.
Aprender magia não é como em Harry Potter. As coisas não são fantásticas de princípio. É algo que você terá que repetir (especialmente se seu sinal não for dado no tempo requerido), e a repetição desta fórmula é o que dá o treinamento que vai fazer as coisas funcionarem.
Não tenha pressa! Quando você manifesta com magia é como ganhar um jackpot. Não importa quantas bolas você tenha lançado, quando você manifesta, é o que você manifestou, é perfeito, é a SUA VONTADE, o seu resultado, é o seu poder, e isso é mais satisfatório que o resultado em si, pode acreditar.
Perseverança no deixar ir é a chave para encerrar a fórmula ocidental de invocação.
Neste passo vá ouvir música, faça um lanche, ou tome um banho (normal) e cante no chuveiro. Saia mentalmente do ritual ou o ritual não vai sair de você, e consequentemente não vai se realizar.
Diferenças na invocação Oriental: se apresentando aos deuses
Agora que você sabe a fórmula de invocação em cinco passos, deixe eu lhe dizer que aqui no Oriente é diferente.
Aqui não existem grimórios ameaçadores, nem conceitos de bem e mal em relação às deidades.
Aqui os deuses-demônios não são os deuses antigos dos outros, mas os seres que dominam (guardiões) os mistérios criados pelos criadores da realidade (que chamamos de anjos no ocidente).

Os deuses demônios são tão cultuados quanto os deuses da criação e regentes do dharma. Portanto não existe a invocação grimórica com tantos cuidados, círculos mágickos e drama.
As invocações no Oriente envolvem incenso para gerar um ambiente propício, mantras para atingir a própria autoridade divina e influência sobre as coisas chamadas; imagens para representar as forças, diálogo como na invocação ocidental, mas algo em especial que tem um enorme poder: Uma oferenda.
Há muitos anos atrás, um mestre meu de invocação veio para o Tibet, direto dos Estados Unidos. Ele estava muito empolgado, mas voltou doente e depressivo para casa. Não conseguia entender o que aconteceu.
Depois de algum tempo ele descobriu, falando com o mestre tibetano de seu sistema de magia oriental, que ele havia, durante a viagem e sem querer, pisado numa poça d’agua magicka, que era na verdade uma casa elemental de espíritos Naga (espíritos cobra).
Ele estava sendo obsediado mesmo com todos os seus banimentos, hexagramas e nomes ocidentais. A solução? Muito simples. Velas amarelas e cachaça chinesa.
Como que num passe de mágica (sem k), a situação dele não apenas voltou ao normal como melhorou, dinheiro começou a entrar mais do que antes, a esposa começou a tratar ele melhor.
Ele até hoje cultua os Nagas, tem várias imagens destes espíritos em seu altar, e à cada quinze dias oferenda velas amarelas e cachaça.
Aqui no Oriente, o conceito de “dar respeito” ou “dar face” é muito importante, é essencial, e eles dizem que isso vem dos deuses destes lados; os deuses demônios, elementais e celestes não são diferentes por aqui.
Quando visitamos alguém importante ou mais velho aqui nestas bandas, sempre levamos algo para oferecer, independente se formos pedir um favor (mas se formos, levamos algo ainda melhor), e independente de se este alguém for nos conceder este favor.
É uma etiqueta, um respeito, sem o qual as pessoas (e as deidades) ficam realmente ofendidas.
Estas são as diferenças entre a invocação Ocidental e Oriental, e como a minha vida é uma mistura de ambas, eu coloco este costume importante (como aquele mestre me ensinou) em TODAS as minhas invocações.
Eu coloco uma oferenda ainda que pequena para me apresentar para a deidade, demônio ou anjo, logo no primeiro ritual que faço. Esta oferenda potencializa e muito o relacionamento com o ser invocado.
Não precisa e nem deve ser algo grandioso, pois o que vale é o respeito e a intenção, magia é etérea, qualquer coisa física só vai ter valor em magia se tiver valor energético.
Recomendo que o faça também, e antes de iniciar o passo do diálogo com o ser invocado, apresente uma pequena oferenda.
Para demônios: Ovo (cru), fruta, um sigilo bonito, um quadro com sua imagem, um copo de alcool (bebida), uma gota de sangue, vela.
OBS: UMA GOTA DE SANGUE APENAS PARA AQUELES QUE VOCÊ JÁ TRABALHA. PASSO MUITO AVANÇADO, NÃO FAÇA EM SUAS PRIMEIRAS INVOCAÇÕES, NEM PARA TODAS AS DEIDADES, APENAS AS QUE REGEM SUA VIDA.
Para anjos: Flor, fruta, incensos mais “nobres”, taça com agua, cristais, vela.
Para deuses: Todos os anteriores, dependendo da energia mais densa ou mais etérea.
A oferenda tem duas formas de ser dada: Você consumindo ou bebendo em nome do ser, ou você deixando no altar durante o ritual.
A mais fácil é deixar no altar por pelo menos sete horas. Consumir algo com a mente toda no sigilo ou imagem do ser invocado, acredite, é um exercício de concentração bastante cansativo.
Veja o que funciona melhor para você.
Criando seu Ritual
O objetivo desta aula é que você crie o seu próprio ritual de invocação. Agora que você entende o que são deidades, demônios e anjos, é preciso que crie uma forma de falar com eles, com base nos antigos grimórios, pois funcionam.
Isso deve ter ficado fácil agora, pois os grimórios com sua fórmula de invocação já foram destrinchados, e você vai aplicar os seis passos como foi ensinado aqui.
Como já falado, recomendo que coloque a parte de oferenda no quarto passo, como eu faço, pois fica mais eficiente, mas é algo opcional, você pode seguir minha recomendação, ou fazer como no Ocidente e só oferendar após ser atendido, seja como for fazer deixe isso claro para o espírito chamado durante o quarto passo (diálogo).
Algumas coisas que eu quero te ensinar fora dos seis passos e da oferenda é a montagem do altar e do ambiente para que você faça seu próprio ritual.
Essencial será uma representação do ser chamado, uma imagem, sigilo ou símbolo que o represente.
O ritual será mais eficiente se tiver os QUATRO ELEMENTOS, para ter força de materialização.
Agua, fogo, terra e ar. Por isso pode ser importante adquirir algo que represente estes quatro elementos, pois os quatro elementos é que permitem a vida e a materialização do quinto elemento, o éter (ou Vazio no Japão), que é infinito.
Nosso corpo é feito em maioria de água, o resto da matéria volta para a terra quando partimos, funciona através da respiração (ar) que o mantém, e é animado pelos instintos (fogo).
Tudo vem na matéria neste mundo através dos quatro elementos, por isso quando for fazer um altar para sua invocação junte os elementos e será mais eficiente.
Não é nada difícil. Um incenso traz o ar, um simples cristal mesmo que pequeno traz a terra, uma vela traz o fogo e uma taça com água ou mesmo bebida alcóolica traz o elemento água.
O mais básico do altar é ter estes quatro elementos, e em magia cerimonial eles o fazem através de varinha (fogo), espada (ar), taça (água) e pantáculo (terra). Estes quatro elementos estão presentes em todas as ritualísticas de magia do mundo.
Adquira portanto materiais que representem estes quatro elementos, e o mais básico são os que mencionei, e funcionam. Coloque em seu altar, mesmo que seja um altar temporário, quando for fazer a invocação.
Com os seis passos para invocação e um altar preparado com os quatro elementos você só precisa se atentar em mais uma coisa para fazer seu ritual:
A troca de energia
Toda comunicação é uma troca energética, e nenhum ser de outro plano que tenha aquilo que você quer manifestar vai voltar os olhos para você sem que você tenha energia suficiente para atingi-lo.
Esta energia vem através de três moedas de troca:
A sua natureza (a tríplice junção que é o que conecta com a persona da deidade), a sua devoção (o ato de chamar ou de oferecer um presente, se apresentar) e a sua Vontade (sem a qual você só perturba as deidades).
A natureza vem da sinceridade, de estar totalmente ali, sem medos espúrios, sem fantasias de grandeza, mas justificando a sua propria natureza. Ela se resume aos seus defeitos, seus desejos e sua origem divina.
Devoção: Mesmo falando com um “demônio”, você está falando com alguém que pode lhe ajudar (ou não teria feito o ritual), portanto não adore esta força, mas ofereça de antemão o respeito total (como quem visita um governador), a gratidão, a oferenda, e o reconhecimento quando acontecer o que você quer.
Vontade: É a essência, o principal. Não importa quem você é, nem se vai trazer devoção para aquele espírito, se a sua Vontade não for forte o suficiente, justificada pelo seu desejo e o seu caminho neste mundo, o resultado por ser de neutro até obsediador.
Conclusão:
Utilize os seis passos, oferende a princípio e depois (ou só depois), lembre da tríplice moeda que é o que te dá valor para fazer a invocação, monte um altar simples, um espaço com os quatro elementos, confie em seu círculo magicko e mãos à obra.
Você tem todos os elementos básicos agora para começar a praticar a arte da invocação livre de dogmas e do desrespeito dos grimórios antigos (que fazem tudo ficar mais perigoso), e tem também o conhecimento teórico deste curso para que não procure uma nova obsessão em sua vida, mas sim a manifestação da sua Vontade, e alguns aliados mágickos.
A prática faz a eficiência, perseverança pode ser essencial, e a constância no uso deste método é que o faz cada vez mais forte.
Certo de que algo te foi acrescentado, de uma perspectiva única, esta missão está cumprida, a instrução está repassada, e ela custou MUITO para eu aprender, em diversos tipos de valores: tempo, dinheiro, experiências equivocadas, uma ou outra obsessão, iniciações e decepções.
Compartilhamos este valor com alegria, a vós confio, em tudo dai graças,
Martin,
Frater Aquarius
