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A minha guru coreana
Depois de ter conseguido falar pessoalmente com a guru e marcar nosso encontro, eu estava alegre. Não sou muito chegado à Coreia do Sul, terra de meninas lindas, círculos sociais que mais parecem máfias sem charme nem armas, e uma culinária “mono-sabor” (tudo lá tem gosto de pimenta Kimchi); mas a perspectiva de um encontro com ela é sempre muito empolgante.
Lee S.Y. é uma mulher uns cinco anos mais velha que eu, tem nome de ídolo de K-POP e aparenta ter a mesma idade que eu. Pode-se dizer que ela é bonita, principalmente para a idade dela, e muito jovem também. Desde os seis anos ela dá aconselhamentos, e já desde essa idade a avó dela dizia que ela era uma encarnação da deusa da riqueza (do panteão sino-coreano).
Lee S. Y. quase que não conseguia tempo para estudar, mas era genial em todas as matérias. Na escola havia fila dos pais das colegas para se aconselhar com ela na saída, sempre tratando de prosperidade e dinheiro, e até mesmo decisões importantes de empresa eles tomavam só depois de falar com ela.
Ela consegue fazer previsões incríveis sobre a vida financeira das pessoas, e até mesmo dizer quando alguém começa a prosperar, e algumas pessoas mudaram totalmente a vida financeira alcançando boa fortuna alguns meses após falar com ela. Mas como toda guru de verdade, é muito difícil entrar em contato com ela, e tem milhares de pessoas de toda a Ásia que procuram por essa consultoria todos os dias.
Parece estranho para mim mesmo apresentar assim outra pessoa, já que eu sempre fui dos que dizem que não devemos seguir gurus, nem nos entregar cegamente ao juízo de ninguém, e mantenho essa palavra. É isso mesmo.
Será que a senhorita Lee (ela nunca casou) é mesmo uma mestra? Sem dúvidas.
Será que ela é uma emanação encarnada de uma deusa? Parece que sim. Mas nada disso é motivo para seguir cegamente à ninguém, e neste artigo eu vou te mostrar que sim, existem gurus e seres de alta evolução encarnados, mas que por estarem encarnados são tão humanos quanto qualquer um de nós.
Eles se apaixonam, defecam (desculpa Lee, mas é verdade), adoecem, se cansam, e adoram uma boa comida, como qualquer outro, e há inclusive aqueles que se perdem também. E quando se perdem, vish, se perdem lindamente.
Gurus existem em diversos lugares, pessoas milagrosas também. Eu já vi muitos casos documentados e vídeos de gente curada por Dr. Fritz e outros espíritos em cirurgias espirituais com médiuns milagrosos (que não eram santos).
Conheço gente séria que morou na Índia e viu gurus fazendo milagres físicos incríveis, que não, não eram truques de ilusionismo ou de mágica, envolviam outras pessoas céticas, e não tinham recursos tecnológicos para fazer qualquer coisa nem mesmo de nível circense, quanto mais à nível de multiplicar comida para várias pessoas, tornar o próprio corpo gigante, ou fazer uma estátua sair de dentro da pele do peito de alguém.
Ajarn (Ajarn significa mestre em Tailandês) Best Woraphon, o milagreiro sobre o qual escrevemos aqui, Ajarn Fon e outros magos tailandeses milagrosos não são para mim personagens de livros, mas sim representantes de uma linhagem que eu mesmo pratico, testemunhados pessoalmente por gente séria, gente que depois deles não viu as mesmas coisas acontecendo por aí.
O mestre de meu primeiro mestre, que morou por muito tempo no Japão, foi curado da visão após ser desenganado para a cegueira, isso por uma “guru” chinesa. Uma senhora que se dizia emissária e porta-voz da deusa Guan Yin, muito milagrosa aqui no oriente.
Então sim, existem entidades encarnadas, mestres e pessoas que atingiram um alto nível em alguma área da vida que já é capaz de ajudar aos outros, ser um farol que ilumina o caminho das pessoas, mexer com o sobrenatural, e alguns até a curar. E isso não os torna divinos, mas sim, ainda mais humanos.
Deuses encarnados são humanos
Mesmo um guru milagroso, um sábio ou alguém que já atingiu um grande nível em alguma área da vida está sujeito à todos os erros como qualquer ser humano; desde assédios espirituais até mesmo exageros dos próprios desejos e impressões erradas. É por isso que muitos deles que seguem tradições antigas, especialmente no oriente, costumam se isolar.
Para muitos, o dalai lama é a encarnação do budha tibetano da compaixão, mas isso não impediu que muitas vezes ao longo da vida ele tenha se comportado de uma maneira que escandalizou à outras pessoas e envergonhou aos seus discípulos.
No ano passado mesmo, esteve envolvido em mais uma polêmica quando deixou uma criança bastante constrangida com brincadeiras que careciam de bom senso. Com certeza o budha da compaixão tibetano teria mais empatia.
Independente de ele ser uma emanação ou não (isso vai de quem acredita), ele é em primeiro lugar um ser humano, que teve acesso à determinada cultura e educação, e estará, enquanto aqui estiver, sujeito às limitações dessa educação e das ideias de seu cérebro físico, que recebe influência da idade e de estímulos externos.
Segue outra interessante história ainda falando da reencarnação nos diversos tipos de budismo tibetano (sim, são vários tipos):
O espanhol Osel Torres, foi levado para a Índia quando tinha apenas dois anos. Ele apareceu no sonho de alguns gurus como um ser de elevada evolução, e foi reconhecido inclusive pelo próprio D. Lama como reencarnação do santo monge Lama Yeshe. Ah, assim como o Dalai, ele, criancinha ainda, também foi testado e reconheceu entre outros objetos, os seus objetos de vida passada, inclusive os óculos escuros de Lama Yeshe no meio de outros.
Acontece que Osel cansou dessa vida. Ele não queria ser um monge, muito menos um santo monge, um Lama, ele queria ser um jovem comum, largou tudo e foi bater tambor e balançar a cabeça ao som de trance music em Ibiza. Boa escolha Osel. A entrevista que narra a história dele você encontra nessa matéria, e também nesta aqui, nas palavras do próprio Osel.
Isso pode ter sido um duro golpe dentro de sua tradição tibetana, mas a verdade é que nenhum espírito, de nenhuma forma, é obrigado a agir como agia na outra vida, aliás, não existe nenhum ser humano sequer obrigado à agir de acordo com o espirito que é, do contrário viríamos como o que somos, não como o que estamos agora. Faz parte do jogo da vida.
Ninguém que vem para cá, neste planeta, é “melhor” do que ninguém, assim como eu não sou melhor que Henry Cavill por falar quatro línguas à mais que ele e escrever muito melhor, nem ele é melhor que eu por ser mais bonito (nem tanto assim, vai) e atuar infinitamente melhor que eu. Nem mesmo se ele fosse o super-homem.
O nível de domínio em uma área, ou de riqueza, ou de VALOR que uma pessoa possa ter e compartilhar na terra, não implica necessariamente que este valor seja igual em todas as outras áreas da vida dela (geralmente não é), e nenhum ser encarnado foge disso.
Mesmo que um guru seja incrível para resolver alguma coisa, para curar ou guiar as pessoas, ou ver aquilo que não vemos naturalmente, ele ainda assim é um ser humano com muitas outras áreas da vida, e em algumas delas com sombras para integrar. E quer saber? Tudo bem! É assim mesmo.
Quando o guru erra
Na década de oitenta havia um homem da roça que, de acordo com amigos da época, nunca havia falado de espiritualidade ou mediunidade até então, mas ele estava ficando cada vez mais famoso mundialmente. Do lado de fora de sua casa havia milhares de pessoas para vê-lo, eles vinham em caravanas todos os dias, de todo lugar do mundo.
Este homem tem várias provas em vídeo de mediunidade e de verdadeiros milagres espirituais, que incluem desde luzes envolvendo o corpo durante a “incorporação” até cirurgias sem anestesia com cortes profundos, que diminuiam drasticamente quando ele passava o dedo por cima, como se a pele se regenerasse.
Existem as testemunhas oculares também. Um mestre meu viu, pessoalmente, uma pessoa com as mãos deformadas por um acidente numa fábrica chegar lá e ser totalmente curada pelo médium com uma “massagem nas mãos”, enquanto fumavam um cigarro do lado de fora da casa.
Este homem tinha fama de “santo” e de “mestre”, mas ele era, como todo guru deve ser, apenas um médium. Ele se perverteu na própria fama como tantos outros gurus endeusados pelas pessoas, ele não podia ser um ídolo.
Este homem foi tão idolatrado a ponto de ser chamado João “de Deus”. E sim, a mediunidade dele era real, as testemunhas e os vídeos também, e tanta gente que foi de fato curada em Abadiânia; o que acontece é que o “guru se perverteu”, errou feio muitas vezes e abusou da idolatria e da esperança das pessoas.
Já falamos de “mestres” imperfeitos e que não seguem exatamente as esperanças que projetam neles, mas há mais do que isso…
Quantos outros mestres na Índia, no budismo, e nas mais diversas religiões e vertentes espiritualistas não se pervertem totalmente? Quantos não simplesmente erram aqui e ali, abusando de sua “idolatria” ou posição de poder?
Pelo menos dos “mestres” que eu já conheci, no ocidente e no oriente, é apenas um ou outro que não tenha se aproveitado de alguma forma dessa posição para, pelo menos, conseguir umas transas aqui e ali.
O lugar de nenhum ser humano é no pedestal. O trono da sabedoria é infinito, é o mistério de Salomão. Quanto mais um ser sabe de algo, mais ele se torna capaz de aprender, o que significa que mais ainda tem que aprender!
O mistério infinito garante que ninguém deva se sentar no trono da sabedoria para ali permanecer, e como livros antigos que narram mistérios atestam, é preciso mãos à obra para construir um Templo como Salomão, ou mãos à espada para construir um legado como Davi.
O trono da sabedoria não aceita que se permaneça sentado sobre ele; é um trono de movimentação constante, de mudanças, e nem todas estas mudanças são harmônicas, belas e pacíficas.
Nenhum ser humano pode ser entronado, nem mesmo os mestres. O papel do mestre é ensinar, e enquanto estiver ensinando deve ser venerado, mas pelo que ensina.
A relação com seus mestres deve ser marcada por profundo respeito e admiração enquanto se aprende, e gratidão após aprender. Mais do que isso não apenas o torna fraco e incapaz de absorver qualquer coisa boa do tal mestre, como coloca o “mestre” numa posição igualmente incapaz de ensinar.
Para se comunicar é preciso que as pessoas “falem a mesma língua”. Mas infelizmente não é o que ocorre, e as pessoas idolatram seus mestres, e pior do que isso, ficam profundamente magoadas e iradas quando o mestre mostra as sombras em alguma das áreas da vida dele, sem perceber que a projeção da ilusão foi sua, na maioria das vezes.
Disso surge a noção de “santo”. A maioria das pessoas no ocidente vive marcada pelo maniqueísmo das religiões dominantes na sociedade ao longo da história. Maniqueísmo é a crença em “bem e mal”, “bom ou ruim”; Se você não é bonzinho, você é do mal. No maniqueísmo é impossível ser ruim de alguma forma e bom em outra coisa, de outra forma.
Este pensamento é totalmente diferente do pensamento oriental de Yin e Yang, e do Tao. Este pensamento faz com que as pessoas tentem negar o fato de ter acontecido um milagre óbvio e gravado, simplesmente porque faltou a “santidade” ou a ética no caso, sem se atentar que milagres, o sobrenatural, e o fato de existirem pessoas que os manifestam, pouco tem a ver com ser bom ou mau, nem mesmo com a conduta pessoal de ninguém. Isso existe desde o início dos tempos.
O dedo que aponta a lua não é a lua
Desde o início dos tempos a humanidade cria lendas, mitos e heróis para representar os seus ideais, sentimentos e mistérios abstratos da vida.
A partir do momento em que os heróis e mitos foram projetados dos livros para as telas, se tornaram mais acessíveis e simplificados. Ali começou o frenesi por colocar a imagem de ídolo em pessoas normais com algum talento, simplesmente por estar em evidência na mídia.
O sucesso escandaloso que Elvis fez nos anos 50, e as reações histéricas das meninas da época, não se repetiriam hoje em dia nesta sociedade; aquilo era uma reação nervosa à ter um homem bonito dançando de forma sensual na televisão, numa sociedade em que homens dançavam valsas de forma quadrada, e a repressão sexual ainda era muito forte. Não o sexo, mas o SENSUAL era um tabú imenso na época.
O mesmo ocorria nos anos sessenta com o Beatles e outros ídolos pop; depois isso foi ficando muito mais raro, esta reação histérica e nervosa aos ídolos. As pessoas há pouco tempo começaram a assistir seus “ídolos” mesmo pessoalmente através do celular, mal participam da apresentação, os tempos mudaram e o papel do ídolo também. Mas sempre existem os ídolos.
O ídolo é aquele em quem se projeta alguma esperança ou desejo, e existe em qualquer área, não apenas na mídia de entretenimento. A espiritualidade e o sobrenatural são ainda mais propícios para o surgimento de ídolos, e tudo bem também, é o normal.
O que é inteligente é perceber isso como algo normal na vida, e utilizar isso a nosso favor. Na série Peaky Blinders terceira temporada (minha preferida mas gosto de todas), o protagonista Thomas Shelby que não consegue dormir após a morte da esposa assassinada que o deixou só com o filho, viaja e vai até a cigana sacerdotisa de Gales.
Ele induz conscientemente a cigana a dizer que a jóia que sua esposa usava era de fato amaldiçoada como havia já um rumor sobre isso. A Cigana diz, ele entrega a jóia à Cigana e volta para casa e consegue dormir, enfim. Ele conseguiu projetar a dor e o sentimento de “desgraça” na jóia e se livrar dela.
Lógico que Thomas Shelby é um exagero de racionalidade e é 100% cérebro, ele faz isso totalmente consciente de que ele está projetando e sem nenhum tipo de “fé”, pois não precisa. Essa projeção é o que acontece, subconscientemente, quando temos um ídolo, um guru ou um mestre.
Se soubermos conscientemente que estamos projetando nossa esperança, fé e interesses pessoais naquela pessoa, estaremos seguros pois a partir do momento que algo ruim para nós seja feito, ou que nos tire de nosso objetivo, esperança e fé, então o guru não servirá mais. E mais uma vez, tudo bem. É para isso que servem os ídolos.
É interessante a frase da filosofia chinesa, “O dedo que aponta para a lua, não é a lua”. isso significa simplesmente que o objetivo é ver a lua, e o dedo que pode ter sido essencial para vermos a lua, pois ele que apontou, ainda assim não deve ser confundido com ela.
Concluindo, os mestres não deveriam ser ídolos, mas para a maioria das pessoas isso é inevitável, é até humano que projetemos as coisas em gente de fora. Melhor se for feito de forma consciente.
Outra coisa à se dizer é que não existe guru “para a vida toda”, à menos que sua vida esteja limitada à uma área de sua escolha. Por mais polivalente que seja um mestre, ele sempre tem uma ou duas áreas em que pode de fato ajudar às pessoas, mas com certeza terá uma ou duas áreas em que precisa de ajuda também.
Gurus são guias em pontes. Eles nem sempre nos acompanham após atravessarmos a ponte, por isso a gratidão e o reconhecimento são essenciais para com os mestres, e dignificam essa relação muito mais do que a idolatria.
Gurus são humanos, e por saberem mais de alguma área da humanidade, nos tornam mais humanos também, e é muito bonito ser humano pois é real, e a nossa realidade é a verdade, e a verdade liberta.
Longa vida aos gurus! Um salve aos nossos mestres! Gratidão à todos os meus mestres, do passado, do presente e do futuro.
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