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Simbologia
Fudo myo é uma das deidades mais famosas e cultuadas do budismo esotérico sino-japonês. É o grande removedor de obstáculos e também o introdutor à outras deidades e à Luz esotérica do oriente. É um guardião poderoso, e você vai conhecer mais sobre ele neste artigo, o mais completo sobre Fudo-Myo em língua portuguesa.
Assistindo à um storie do mestre de tantra Otávio Leal no Instagram do Humaniamor, de quem eu acompanho o trabalho em produtos online (não conheci ainda pessoalmente), tive a ideia de fazer este artigo, acrescentando à nossa sessão de magia oriental que está em construção.
No tal vídeo, Otávio fala que na experiência dele entre servitors, entidades e deidades do mundo todo, as do budismo esotérico são as mais poderosas. Não é o primeiro a dizer isso.
Ouvi o mesmo há mais de doze anos atrás, quando estava iniciando meus estudos do Budismo Esotérico Sino-Japonês: Um mestre que se iniciou no Palo de Cuba, a poderosa macumba cubana, que por sua vez ouviu a mesma resposta pessoalmente de seu mestre Pallero.
Falaremos mais do Budismo Esotérico Sino-Japonês (porque se desenvolveu na China e no Japão) aqui no Mente Magicka, e para isto, começo com a deidade do portal, o guardião primeiro do Budismo Esotérico, Fudo Myo.
Fudo Myo é uma deidade “guia”, um introdutor à outras entidades do budismo esotérico; ele é o guardião do primeiro dos nove portais místicos do Kuji In (magia do budismo e taoísmo esotéricos), o portal Rin, e também é a própria representação do portal Kai, o quinto portal (do poder).
O culto de Fudo Myo existe na feitiçaria indiana, no taoísmo chinês antigo, no Onmyodoo, no budismo esotérico e no Majutsu (magia japonesa).
Mas o que é um Myo?
Existem diversos Myo (明王)no budismo esotérico, eles são os guardiões da Luz. 明 é o caractere que significa luz, ele é formado por dois radicais, pelo sol (日) e a lua (月) juntos. Significa portanto a luz do dia e a luz da noite, a iluminação, o que é claro, lógico, resplandecente. Já 王 é literalmente Rei ou soberano, por isso Myo-O em Japonês, Ming Wang em Chinês (明王) são os soberanos da iluminação, a fonte de luz no budismo esotérico.
O que é interessante é que numa tradução para o latim, alguém poderia facilmente traduzir 明王 para Lucifer; algo que já aconteceu mais de uma vez na história do ocidente e do cristianismo.
Dentro desta classe de deidade 明王 (guardiões ou portadores da luz), Fudo Myo é um dos cinco grandes Myo (五大明王). Os cinco grandes Myo são cinco deidades que representam a luz de todas as direções, os cinco maiorais dentre os Myo.
Fudo Myo é o primeiro destes cinco maiores Myo e fica no meio deles; eles guardam as quatro direções e o meio. O meio, região mais importante, é a representação da montanha. A montanha significa literalmente a escalada espiritual para a iluminação, libertação.
Por isso você tem cinco myo (明王) que introduzem à todos os outros myo (明王), pois eles são os quardiões e portadores da luz das quatro direções, e também do centro, da montanha, do início da jornada.
Fudo Myo (不动明王)significa o Myo irremovível, ou “que não se move”. No budismo tudo é impermanência, menos Fudo Myo. Ele é a montanha imóvel, por isso geralmente está sentado ou em pé sobre pedras. Ele é a pedra fundamental da existência, sem a qual não existe matéria nem consciência.
Fudo Myo está no centro dos outros cinco Myo porque sem forma não existe consciência nos mundos, tudo seria vazio, e o vazio seria tudo. Ele é portanto a materialização das coisas, a luz tomando forma.
Os olhos de fudo myo, bem como seus dentes são alternados, um para cima e um para baixo. Essa iconografia se perde no tempo, sendo que algumas de suas imagens primitivas, quando na Índia ainda era chamado de Acalanatha Vidyaraja, não possuem essa simbologia.
No entanto, logo ao chegar na China e antes de ir para o Japão, Fudo Myo passou a ser sempre representando com um olho para cima e outro para baixo, o que em chinês se chama 天地眼 (olho para o céu, olho para a terra). Isso simboliza exatamente a dualidade, cima e baixo, divino e humano, luz e matéria.
Os dentes de Fudo Myo são presas afiadas que seguem o mesmo padrão, um para cima e um para baixo. A boca e os olhos são por onde entram e saem as coisas. Tudo que entra e sai de Fudo Myo equilibra a dualidade entre matéria e luz, entre o humano e o sagrado, por isso ele é uma mistura de deidade com humano, ou o que chamam no oriente de deus demônio.
Muito diferente do ocidente e das religiões monoteístas, na espiritualidade oriental em geral, um demônio é um ser que está entre o humano e a deidade, um ser natural. Enquanto que no cristianismo isso é um mal sinal, pois obrigatoriamente todos estes seres deveriam ser maldosos, caóticos e inimigos, na espiritualidade oriental existem demônios bons e demônios perigosos.
Nem seguer existe, na verdade, a palavra “demônio” em chinês ou japonês, sendo necessário fazer a tradução assim pois não existe nenhum outro termo, por isso preferiria dizer deidade ou entidade.
Fudo-Myo é uma das deidades iradas do budismo esotérico sino-japonês, existindo também no budismo esotérico tibetano. As deidades iradas no oriente são os deuses-demônios, são aqueles que regem o lado mais visceral e potente da natureza. São potências, poderes tomando forma.
Existem muitas versões para a origem de Fudo Myo. Na Índia era Acalanatha Vidyaraja, e há quem ligue suas origens à Shiva. No budismo esotérico tibetano, no entanto, ele é uma emanação de Buddha Aksobhya, enquanto que no Nepal é uma emanação do Boddisatva Manjushri. Já no Budismo Esotérico Sino-Japonês de diversas escolas (Shingon, Tendai, Shugendo) ele é sempre tratado como uma emanação do buddha-sol, o grande Dainichi Nyorai, um dos 28 buddhas maiores.
A verdade é que, como não podemos entrevistar Fudo Myo, é impossível dizer com precisão a origem ou de quem Fudo Myo seria a emanação, e nem importa. As informações se perdem no tempo, se misturam em diferentes países e culturas, cultos e sectos. O que importa é que ele É. Simples assim.
É a mesma discussão sobre a quantidade de Buddhas, sendo alguns budistas insistentes que há apenas um (geralmente budistas ocidentais), mas a maioria das tradições budistas orientais discorda disso. Existem tradições que apontam 88, outras 28 e até 388. Quem sabe?
Até que alguém se dê o trabalho de chegar à iluminação apenas para ir contar o número de Buddhas (sem se confundir com os Boddisatvas) e voltar para dizer que ganhou a discussão, não haverá prova conclusiva. Tradição começa com respeito e termina com respeito, como dizia meu primeiro mestre. Então cada um que mantenha a informação que melhor lhe aprouver.
Quem perde tempo com discussões para ter “razão histórica” de alguma coisa, já está longe do primeiro portal, já não está subindo a montanha nem trilhando o caminho de Fudo Myo.
É bom lembrar que Fudo Myo, o imóvel, também significa a não movimentação mental, ou seja, foco. É interessante que a deidade da materialização, do que está em cima é como o que está embaixo (como mostram seus olhos e dentes), seja justamente a deidade do foco. Por isso ele é o removedor dos obstáculos contra seus objetivos e seu caminho, desde que o caminho tenha Verdade.
Então Fudo Myo é a deidade guardiã do primeiro portal e é a primeira montanha da realização, porque o foco é essencial, como explicamos aqui neste artigo de mentalismo oriental, este conceito difere da lei da atração no ocidente.
Fudo Myo também é um dos treze guardiões da morte. Ele é o guardião número sete, por isso, ele é a primeira deidade vista pelo praticante do budismo esotérico no pós vida, quando no sétimo dia, uma deidade vem para lhe esclarecer sobre a sua atual situação e possibilidades do futuro.
Outra curiosidade simbólica é que Fudo Myo é constantemente simbolizado com dois meninos ao seu lado. Eles são os 童子, Doji em Japonês ou Tong Zi em Chinês, palavra que significa literalmente “crianças”.
Para algumas escolas budistas, Fudo Myo teria vários Doji (crianças discípulas) em seu reino, sendo que estes dois seriam os principais: Seitaka (o vermelho) e Kongara (o branco).
No entanto, nas tradições se diz que os dois jovens são emanações do próprio Fudo Myo em uma forma mais “aceitável” e menos assustadora, para lidar com assuntos deste mundo em que vivemos, em nosso plano. É por isso que muitas imagens mostram Fudo Myo salvando alguém de chamas ou águas turbulentas através exatamente de seus dois ajudantes, os doji.
Seitaka, o vermelho, seria a intervenção de Fudo Myo em assuntos de guerra, ira, subjugação e vitória; enquanto Kongara, o branco, seria a intervenção de Fudo Myo na paz, purificação, na limpeza do que é impuro e estabilização do que é irregular. Mas geralmente eles agem juntos.
A cachoeira é o “ponto de força” de Fudo Myo no Japão, e isso vem das tradições do Shingon, Tendai e do Shugendo. A visita à cachoeiras no Japão, inclusive, é uma das principais atividades do turismo religioso do país, e existem diversas cachoeiras consideradas sagradas, sendo que as mais famosas são as dedicadas à Fudo Myo.
A cachoeira, no budismo esotérico é um local de purificação, de expurgação do mal e também de renascimento. Tem a mesma simbologia que o bastimo, por exemplo. Fudo Myo batiza nas cachoeiras com águas que vem de montanhas, afinal Fudo Myo é a montanha.
Um destes pontos é o templo da cachoeira Katsuragawa Sokusho Myououin, em Osaka. É fonte da famosa história do monge Sou-ou, que teve uma visão de Fudo Myo nesta cachoeira e quando correu para abraça-lo, se tratava de um tronco de árvore. Ele cortou o tronco e esculpiu três imagens de Fudo Myo, veneradas no templo aos pés da cachoeira.
Outro aspecto importante é o cabelo de Fudo Myo. Ele tem o cabelo preso em sete nós, escorregando pelo lado esquerdo do corpo, e isso tem simbologia também.
Os sete nós no cabelo simbolizam os sete passos para a iluminação no budismo esotérico, e também o fato de Fudo Myo ser o guardião do sétimo dia, o dia da “salvação” ou encaminhamento da alma de quem faz a passagem. O cabelo de Fudo Myo é também considerado a corda da salvação.
O fato do cabelo de Fudo Myo cair para o lado esquerdo se explica: no budismo esotérico, o lado esquerdo é o lado do início da ação e da natureza real do ser humano. É por isso que muitos praticantes do budismo esotérico quando bebem, brindam com a mão esquerda, e quando entram em um local sagrado ou importante, o fazem com o pé esquerdo.
Existem outras simbologias de Fudo Myo, várias na verdade, e que são introduzidas por sectos e práticas especiais do budismo esotérico.
Temos a forma tibetana de Fudo Myo, de joelho no chão, simbolizando a materialização, o que vem de cima se manifestando embaixo; temos na China o Fudo Myo todo preto, que significa basicamente o medo.
Na tradição de Budismo Esotérico Tendai temos o Fudo Myo Vermelho chamado de Aka-Fudo; Fudo Myo é a deidade do fogo e dizem que por isso foi pintado pelo grande mestre Enchi com seu próprio sangue, vermelho. Desde então, muitas imagens da tradição Tendai trazem um Fudo Myo vermelho flamejante.
Existe também o KI-FUDO que é Fudo Myo amarelo. Ele faz parte de um culto secreto à Fudo Myo, e tem pouquíssimas imagens nesta cor. Geralmente de pé, ele é uma representação mais marcial, agressiva e com cultos próprios. Só há um templo no Japão, chamado Nagara-san Onjo-ji (Mii-dera Temple) que promove o culto à Ki-Fudo, e restrito apenas à iniciados.
Outra variante do culto de Fudo Myo, é o Fudo Myo de duas cabeças. Nesta manifestação ele está fundido com Aizen-Myo, deidade do amor.
Pode ser que você, assim como eu, tenha ouvido falar pela primeira vez sobre fusão no desenho “Dragon Ball Z”. Tudo bem. Mas saiba que este é um conceito muito comum no budismo esotérico.
Já viu aquelas imagens do budismo esotérico tibetano onde as deidades estão transando? Pois é, ali é uma representação de duas deidades em fusão tântrica. No budismo esotérico sino-japonês as imagens de deidades transando são raras, então geralmente unem os símbolos de duas deidades em uma só.
Isso é curioso, e algumas deidades aparecem com várias cabeças com cores diferentes, este é o caso de Ryoto Aizen, que é a fusão de Fudo Myo com Aizen Myo (o Myo do amor, paixão e da sedução). Esta é uma deidade complexa, pouco venerada, já que Aizen e Fudo são tão diferentes, mas existem sectos que os unem, especialmente para simbolizar a paixão-imóvel, o amor-imutável, ou a subjugação que não tem remédio.
Destruidor de demônios
Uma outra simbologia que merece um capítulo à parte é o que define Fudo Myo como o grande eliminador de demônios malignos.
Na mão esquerda de Fudo Myo existe uma corda. Essa corda é chamada de Kenjaku. O Kenjaku é utilizado tanto no Budismo Esotérico sino-japonês como também tibetano; é uma corda sagrada, feita da junção de fios de cinco cores diferentes.
O Kenjaku representa as cinco forças unidas, e pode ser usado tanto para ataque (destruição) como para defesa (subjugação), amarrando entidades malignas. É portanto uma arma mágica do budismo esotérico.
Outra deidade famosa do budismo esotérico, e que também traz um Kenjaku nas mãos é 千手观音, ou Kannon (Guan Yin) dos mil braços.
Um “crossover” muito interessante que eu vi sobre isso foi na Tailândia, que tem seu próprio tipo de budismo esotérico diferente do sino-japonês, mas onde várias deidades são iguais, e mais ligado à feitiçaria. Conheci um monge que fazia, há muitos anos atrás, potentes guardiões astrais, servitors ou Tulpas, os famosos Hoon Payon com cordas de Kenjaku tibetano. Uma arte rara que não se encontra mais.
Voltando à Fudo Myo, ele traz um Kenjaku na mão esquerda, a mão da ação, para subjugar entidades malignas, e também para ataque. O próprio mantra de fudo myo pede ataque aos nossos inimigos. Isso fez com que muita gente considerasse Fudo Myo o “deus da guerra”, apesar de não ser.
Fudo Myo é uma deidade guerreira, mas não é a deidade da guerra. Fudo Myo não é violento, na verdade, ele ODEIA a violência, sendo o finalizador da mesma e de seus motivos, mesmo que para isso utilize a própria violência; afinal violência impede a violência, a violência devora a si mesma. E é daí que vem a simbologia da mão direita de Fudo Myo.
Em sua mão direita Fudo Myo traz uma espada de lâmina dupla, é a famosa espada Tsurugi; uma forma de espada chinesa, primeiramente feita de madeira de pessegueiro no taoísmo, que se diz ser capaz de atingir espíritos, de cortar o etéreo.
Fudo Myo, como outras deidades guerreiras de qualquer panteão, também travou batalhas com outros deuses. Uma vez lutou contra um demônio muito poderoso. Era uma entidade maligna capaz de moldar qualquer forma no universo e se passar por qualquer coisa ou pessoa.
Como o demônio imitava a mesma forma de Fudo Myo e a luta se prolongava, então este reduziu sua forma à sua espada apenas e se transformou em uma Tsurugi, ao que o demônio rival fez o mesmo.
Era, na verdade, uma estratégia, pois tão logo o demônio se transformou numa Tsurugi (espada) igual, Fudo Myo revelou sua forma como o dragão Kurikara, o devorador de lâminas, e sem dar tempo para o demônio, enrolou-se na espada e a devorou.
É por isso que em muitas representações, Fudo Myo traz o dragão dourado Kurikara na sua espada, pois é uma manifestação do próprio Fudo Myo, que devorou o demônio mais poderoso, o demônio da ilusão.
O dragão dourado Kurikara é também o dragão do fogo e do trovão, que representa o primeiro Kuji na magia oriental, a força do trovão e do fogo, que é Fudo Myo.
Kurikara-Fudo, o fogo que derrete o metal é o dragão dourado do oriente, é a beleza que vence a violência, mas o faz a devorando, ou seja, absorvendo a sua essência.
Fudo Myo não é o deus da guerra, mas está longe da passividade pacifista ou da mansidão. É um deus guerreiro com capacidade de destruição ímpar.
Mais um símbolo de Fudo Myo é a Fenix. Esta simbologia foi descoberta na China primeiramente. Acalanatha Vidyaraja trazia na cabeça o Garuda, o grande pássaro-deus do budismo esotérico de todo oriente (deidade universal por aqui sobre a qual escreveremos também).
Na China, como Fudo Myo é um dos oito deuses protetores da humanidade, que são regentes do horóscopo chinês, ele é o protetor do signo de ave, do galo. A junção de Garuda, galo e as chamas de Fudo Myo, rapidamente se transformaram na simbologia da Fenix.
Fudo Myo é a deidade do batismo, do renascimento por fogo ou água, ou seja é de fato a deidade fênix, e por isso, principalmente na China, ele é frequentemente simbolizado com as chamas em forma de fênix acima de sua cabeça.
Choque de egrégoras:
Aqui no MMM não escondemos o jogo, e eu vou expor o que estudo ao longo de anos, afinal estamos na era da informação, e a espiritualidade verdadeira precisa ser exposta em forma de conteúdo.
Neste artigo sobre Fudo Myo, você tem informações de simbolismo secreto do budismo esotérico e de Fudo Myo. Informações que demoram anos para se juntar e exigem a fluência em pelo menos três idiomas.
Infelizmente, no entanto, existe muita desinformação e “viagem na maionese” quando se trata de budismo esotérico e suas deidades. A dificuldade de acesso à informação, seja pela restrição aos iniciados ou pelas diferenças linguísticas, faz com que muita gente traga informações superficiais, falsas ou até mesmo tiradas de outras tradições mais acessíveis como forma de sincretismo.
Entre estes absurdos já ouvi falar de Fudo Myo como o deus da guerra, que não é. Já ouvi falar de Fudo Myo como uma forma de Enlil (irmão de Enki).
Já ouvimos falar de Fudo Myo como uma deidade perigosa e não é, mas a energia intensa de Fudo Myo pode ser bastante disruptiva quando se choca com outras egrégoras, especialmente que ignoram totalmente a simbologia do sistema magicko onde ele se manifesta.
Já vi associações de Fudo Myo com Exu, à qual eu mesmo associava devido à ser um guardião e ao número sete. Já vi associações com o Arcanjo Miguel, com Lúcifer, e apesar de Fudo Myo ter sim semelhanças energéticas com estes seres, pois as forças do universo são forças universais, ainda assim, eu aviso que se respeite, e se restrinja o culto de Fudo Myo à egrégora das tradições orientais.
Fudo Myo surgiu numa egrégora de feitiçaria hindu, se desenvolveu na China com o taoísmo, foi para o budismo esotérico tibetano e também se tornou a deidade mais popular do budismo esotérico no Japão. Não há qualquer problema ter uma imagem ou cultuar Fudo Myo antes ou depois de deuses de outras tradições, ele está acostumado à mudanças.
No entanto, mesmo que Fudo Myo seja a manifestação de uma energia que também se manifesta em arcanjos e deuses, enquanto ele é Fudo Myo, ele está dentro de egrégoras X, e seu culto é seguro e eficiente dentro destas egrégoras X. Não é inteligente misturar.
Cada egrégora é como um idioma em si, com símbolos, sons e significados próprios. Eu falo cinco línguas, e não é por isso que eu posso falar português com minha esposa chinesa, mandarim com meus amigos eslavos, nem inglês com meus irmãos do Brasil. A capacidade de comunicação requer bom senso para ser entendido, e na espiritualidade não é diferente.
Cultos e linhagens
Enquanto ainda era Acalanatha Vidyaraja, Fudo Myo era uma deidade “menor” na Índia. Seu culto não era popular, nem mesmo era muito citado fora do aspecto mais “mágico e xamânico” das práticas hindus.
Ao chegar na China, no entanto, já incorporado ao budismo, Fudo Myo que em chinês se pronuncia Bu Dong Ming Wang, foi reconhecido como um dos oito deuses guardiões da humanidade, muito cultuado na feitiçaria do taoísmo popular, que também se juntou ao budismo, criando o budismo esotérico chinês, que viajaria para o Japão através do Monge Kukai.
Kukai era um japonês que falava diversas línguas, inclusive o chinês, e foi para a China onde se dedicou à aprender e traduzir todo material do budismo esotérico chinês. Ele estudou com o grande mestre chinês Hui Guo antes de voltar ao Japão.
Ele particularmente gostava do culto às deidades e das práticas esotéricas. Sendo elas o Kuji In (os nove segredos esotéricos chineses) e Sanmitsu 三密 que é a prática mágica oriental consistindo em mantra (palavra), mudra (gesto) e mandala (visualização). Lembrando que o guardião do primeiro Kuji, o Kuji do medo e da força é justamente Fudo Myo.
Foi no Japão que o culto de Fudo Myo prosperou. Mestres famosos do budismo esotérico como Kūkai, Kakuban, Ennin, Enchin e Sōō (Sou-ou), eram devotos fervorosos de Fudo Myo após terem praticado e confirmado a eficiência de seu culto.
Muitas personalidades, nobres, guerreiros e personalidades do Japão antigo se tornaram devotos de Fudo Myo, e histórias sobrenaturais e milagres cresciam a seu respeito. Ele se tornou logo a deidade mais popular do budismo esotérico japonês, juntamente com Kannon (Guan Yin), outra deidade que também veio da China para o Japão, e em português chamamos de Kuan Yin.
Fudo Myo também é a deidade mais venerada pelos praticantes do Shugendo, onde Fudo Myo é considerado o desenvolvedor dos poderes psíquicos no ser humano. O Shugendo considera Fudo Myo como o culto mais eficaz para se atingir o sobrenatural e desenvovler a própria energia.
O Glossário Teosófico de Helena Blavatsky cita o Shugendo quando fala da prática de seus monges, os Yamabushi. Ela os cita como uma muito respeitável e verdadeira escola esotérica. Ela teria presenciado(sic) em Kyoto rituais de Fudo Myo através dos Yamabushi e ficado impressionada.
No budismo esotérico tibetano, Fudo Myo não é muito popular, mas é extremamente importante e poderoso, requerendo um “empoderamento-iniciação” para ser chamado por seu mantra.
Todos estes cultos citados são os mais famosos. Aqui no oriente existem diversos pequenos sectos de magia e feitiçaria, onde Fudo Myo também é popular e bastante utilizado. Muitos praticantes do majutsu (magia popular japonesa) tem seu próprio culto e invocações à Fudo Myo.
Um dos poderes principais que Fudo Myo desenvolve no praticante é uma força sobre-humana, especialmente em momentos de necessidade. Força protetiva que pode se manifestar no espírito, na mente e até mesmo na força física.
No livro Ninja Mind de Kevin Keitoshi, ele narra como a prática de Fudo Myo no Shugendo o fez testemunhar episódios incríveis de força descomunal e proteção no mundo físico. Relatos como os dele não são historinhas, e especialmente no Japão, são muito populares e respeitados.
Mantras e práticas
Aqui é onde vou apresentar os mantras principais e forma de culto particular de Fudo Myo. Já logo no começo, um aviso. NÃO É PARA TODOS!
Fudo-myo não é uma entidade universal, é uma entidade “secreta”, restrita para aqueles que se identificam com ele, que entendem e sentem conexão, e não para curiosos nem desesperados.
Magia muitas vezes é experimentação, e por isso ser mago também não é para todos. Muitas vezes a experimentação tem efeitos colaterais, ou indesejáveis. O mago é quem prova dos elementos para fazer a sua alquimia. O mago solve e coagula, e isso nem sempre é agradável. Se não tiver a disposição do mago não mexa com magia, muito menos magia oriental!
Fazer uma prática sem o auxílio, pelo menos a introdução, de um mestre, alguém que tenha aprendido antes, é como tomar remédio psiquiátrico sem receita nem acompanhamento.
Eu sei que muita gente faz isso, na verdade a maioria das pessoas que conheço que fazem uso de remédios psiquiátricos, não estão em terapia nem sendo acompanhadas por médicos.
O fato de não ter um médico dizendo a dosagem e o tempo para tomar o remédio, não faz com que o remédio seja ineficaz, nem que perca suas propriedades, mas faz com que seja perigoso.
Se você deseja praticar para saber se tem ligação com Fudo Myo, o faça como um mago ou sacerdotisa, por própria conta e assumindo total responsabilidade.
Fudo Myo não é uma entidade que ataca nem dá rebote em quem o chama, mas é uma energia muito forte, que pode se chocar com outras energias em movimento na vida da pessoa, ou energias contrárias, já que Fudo Myo expurga ilusões e erros que afastam o praticante da sua verdade e da sua Vontade.
Quais energias que se chocam com Fudo Myo? Não sei. É algo que cabe a cada um descobrir, sentir e adaptar.
Muitos dizem que o culto é secreto, mas essa secreticidade tem matado as práticas antigas. O primeiro motivo é por estarem sumindo, morrendo com antigos praticantes vaidosos que “não revelam seus segredos”, ou que os utilizam para subir no trono da autoridade do “mestre”.
Alguns conhecedores passam também o conhecimento para mãos erradas. – “Vou passar para meu filho” – é a maior piada no mundo esotérico. Lembrando que a filha de Aleister Crowley, DOOU, não vendeu, DOOU sua biblioteca após a sua morte, para se livrar “daquele entulho”.
O segundo motivo, é que tem gente que se aproveita disso para vender informações rasas sem qualquer tipo de explicação ou aprofundamento, se dizendo conhecedores. Você encontra fácil mantras de Fudo Myo, mudras e imagens para meditar na internet, especialmente se procurar em japonês ou chinês. Mas sem a simbologia e a pronúncia não servem de nada.
Para mim, errado é massificar, marketizar em cima, tornar fútil. Organizar, explicar e expor é meu trabalho. Praticar é a SUA responsabilidade.
Avisados que estamos, continuamos. A prática no budismo esotérico consiste nos três segredos, como já citamos: visualização (mandala ou bija), gestos (mudras) e vocalização (mantras).
O bija de fudo myo:
O bija é o símbolo, a raiz. Serve para a visualização. Quando você vê o bija é como se visse a essência da deidade; é também como tratamos os sigils em magia ocidental, a essência escrita daquele ser.
Os Mudras de fudo myo:
Os mudras são importantes. São gestos de mão que envolvem energia. Geralmente quando fazemos um mudra, recitamos o mantra dez vezes para chamar a energia relacionada àquele mudra.
Existem diversos mudras de Fudo Myo, eu ensino aqui os dois mais populares, e que são bem eficazes.
Mantras:
Para praticar mantras você vai precisar de um Nian Zhu, ou Japamala como se diz na Índia e no Brasil. Existem japamalas de 12, 18, 28, 90 e 108 contas, sendo o de 108 o mais tradicional e popular. Você encontra em lojas de artigos esotéricos e pode comprar na Internet.
No budismo esotérico utilizamos mais o japamala de 108 contas e o de 28.
Aqui na China, o preço de um Nian Zhu (japamala) varia desde dez reais até dez mil reais. Depende da madeira e do material que é feito.
Meu primeiro japamala comprei há treze anos atrás, era feito de plástico, era rosa, foi extremamente barato, e manifestei diversas coisas com ele (antes de dá-lo para uma namorada). Por isso, é uma questão estética, e o importante é combinar com você.
Quando eu estudei o mantra de Fudo Myo me foi dito para fazer 10.000 repetições para começar o culto, e eu repasso aqui para você este ensinamento. É importante para uma “iniciação” segura à deidade.
Para mostrar sinceridade aos espíritos do budismo esotérico, e simplesmente para desenvolver o mantra em você, uma forma mais segura de sentir a energia. Depois dos 10.000 mantras você pode meditar no Bija, enquanto faz um mudra e recita o mantra, até lá, não recomendo.
Parece muito, mas não é. Um japamala de 108 contas se mantrado cem vezes já alcança os dez mil mantras para iniciar no culto. Quando eu fiz, dividi em dez dias. Cada dia mantrava o japamala dez vezes. Eu não recomendo iniciar qualquer prática de Fudo Myo sem antes realizar esta prática dos 10.000 mantras.
O mantra:
“Nōmaku sanmanda bazarada(n) senda(n) makaroshada sowataya un tarata kan man”
Ou
南莫 NOMAKU 三満多 SANMANDA 嚩日囉赧 BAZARADAN 戦拏 SENDA 摩訶路灑拏 MAKAROSHADA 娑破吒也 SOWATAYA 吽 UN 怛羅吒 TARATA 悍漫 KANMAN
Segue vídeo do mantra sendo recitado em Japonês:
Este é o mantra mais tradicional de Fudo Myo, e é o que você deve praticar 10.000 vezes para começar a cultua-lo. Existe uma diferença de pronúncia, sendo este que eu aprendi primeiro, o do culto Shingon.
No culto Tendai, e em algumas escolas de Shugendo, a palavra Makaroshada é pronunciada Makaroshana ou Makarosyana, e tudo bem. Isso é muito comum no oriente, onde cidades diferentes tem variações linguísticas muito grandes.
Para lhe acompanhar na prática das 10.000 recitações eu recomendo este vídeo longo que reza o mantra em forma de meditação longa, para uma música de fundo e concentração, e um ambiente propício.
Após recitar este mantra dez mil vezes, sentir a energia de Fudo Myo, então se você achar que deve, pode ir mais fundo e começar a unir a visualização do Bija ou da própria imagem de Fudo Myo, os mudras e o mantra.
Mantra avançado:
Um outro mantra de Fudo Myo, que é um mantra restrito (para não dizer secreto) é o mantra do Reino de Fogo de Fudo Myo. Não recomendo para iniciantes! Coloco aqui à título de estudo, e porque sei que praticantes vão ler este artigo, que seria incompleto sem esta informação.
Este mantra clama pela intervenção do reino de fogo de Fudo Myo, e pode ser utlizado antes de uma comunhão em meditação com Fudo Myo em seu próprio reino.
“Nōmaku saraba tatagyateibyaku saraba bokkeibyaku sarabata tarata senda makaroshada ken gyaki gyaki saraba bikinan un tarata kan man”
Este mantra se pronuncia assim:
É um mantra avançado para quem pratica Fudo Myo. A pronúncia, mais uma vez, é a que eu aprendi, da linhagem Shingon, tendo diferenças na pronúncia da linhagem Tendai e outras linhagens de budismo esotérico.
Mantra chinês:
Este mantra chinês de Fudo Myo, pode ser utilizado recitado por qualquer pessoa, usado como música de fundo para limpeza energética, e nem de longe tem a mesma energia que o mantra em japonês. Se trata de um mantra de Fudo Myo em sua forma de deidade protetora da humanidade (uma das oito); traz paz e equilíbrio:
“Na Mo Samanduo Wajra Nai Ham!”
Se pronuncia assim:
Mantra do Kuji In:
Este mantra também é um mantra restrito e eu não recomendo a prática, mais uma vez, colocando aqui a nível de estudo. Para praticar este mantra é preciso receber de um mestre de Kuji In, juntamente com o mudra e o corte dos Kuji Kiri.
Eu não falo mais de Kuji Kiri ou Kuji In aqui, porque o artigo é sobre Fudo Myo e se estenderia demais; faremos um artigo só sobre Kuji In para introduzir esta prática mágica.
O mantra do primeiro Kuji, o kuji RIN 臨, é o mantra da morada de força de Fudo Myo, (Om Baishira Mantaya Sowaka) e só deve ser feito durante a prática do Kuji Kiri, ou para quem conhece os mudras e os cortes do Kuji, já que se trata também do mantra do deus da guerra, Bishamonten.
Já o mantra do quinto Kuji, 皆 (Kai), é o mantra de Fudo Myo no sistema Kuji, e é assim:
“On nōmaku sanmanda basaradan kan!”
Estes mantras trazem a força do sistema dos nove cortes (kuji kiri) e precisam ser praticados após instrução básica, pois são mantras de limpeza e até mesmo de ataque, projeção energética.
Para conhecer mais sobre o sistema Kuji Kiri de magia oriental, fique ligado em nosso site e nosso instagram.
Encerramos este artigo com a certeza de que ele é longo, e de que falamos demais. Tudo bem. Fudo Myo merece um artigo completo sobre sua prática após tantos anos de enganos, superficialidades e baboseiras na internet.
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Fiat Lux
Namo Samanduo Wajra Nai Ham!!