Assim como aqui falamos de Lucifer, Baphomet não é um demônio.
Baphomet é uma das figuras mais controversas do mundo, o que é fácil de entender depois de conhecer a sua simbologia que vamos explicar aqui. Baphomet tem títulos populares como “deus dos templários”, “senhor da alquimia”, “belzebu”, e até mesmo tem seus próprios sigilos e enn (mantra) de invocação, como se fosse de fato um ser-entidade.
É importante lembrar que a primeira vez que a imagem de Baphomet foi revelada como conhecemos foi no livro Dogma e Ritual de Alta Magia, do ex seminarista que desistiu de ser padre e se tornou o maior teórico de magia do século XIX, Eliphas Levi. Não existe qualquer comprovação ou documento, apenas histórias, de que Baphomet teria sido já compreendido na época dos templários como a imagem que foi apresentada por Eliphas Levi e conhecemos hoje. Acreditar nestas histórias é uma questão de escolha e intuição.
Os Templários além de serem extremamente poderosos financeiramente eram uma ordem iniciática que foi se tornando cada vez mais independente da Igreja Católica. Tinham um cristianismo diferente, gnóstico, do qual descendeu a maçonaria, e muitos acreditam, também escolas rosacruzes. O principal neste gnosticismo era a busca pela iluminação pessoal, cabalística, a alquimia interna e conjunção com a própria alma através da sabedoria, que era chamada pelo nome grego de Sophia. Livros gnósticos como a Pistis Sophia seriam estudados por templários que tiveram acesso à escolas iniciáticas independentes da igreja católica e agora criavam a sua própria, deixando de ser a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo para se tornar cada vez mais a Ordem do Templo De Salomão.
A palavra Baphomet sim, é documentada como algo templário pelo Rei Filipe – o Belo, com apoio e aval do Papa Clemente V, que moveu o processo que determinou a perseguição aos Templários e culminou com tortura e execução da maioria, e uma fuga de uns poucos que conseguiram se exilar.
Neste processo o Rei Filipe os acusava de adoração a um demônio, um deus próprio de nome Baphomet. O nome Baphomet constava em estudos da ordem, e ao ser escrito em hebraico, após aplicar o código linguístico cabalista conhecido como cifra Atbash fica Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que se soletra SOPHIA, que é a chave da iluminação na gnose (e a gnose é a chave para se obter SOPHIA, sabedoria, o dom de Salomão). Tudo a ver com o gnosticismo, nada a ver com culto à deidades e muito menos com diabolismo (que era comum na época), mas uma acusação na era medieval era como a fé daquele momento: absoluta, violenta e inquestionável.
Baphomet como revelado por Eliphas Levi séculos depois, era a imagem da criação por excelência, o arquétipo perfeito da magia. E foi assim que ele o apresentou, como uma imagem arquetípica, esotérica, de um simbolismo extremamente rico. Olhe para a imagem original, a de Eliphas, e veja como foi se perdendo ao longo de tantas representações (hoje se encontra até Baphomet com ereção e músculos, na internet). A imagem original é o arquétipo perfeito para hermetistas, alquimistas, gnósticos e iniciados em geral. Vamos observar alguns destes símbolos:
- Baphomet representa os cinco elementos, a quintessência perfeita. Ele está apoiado sobre a terra, o mundo; Ele tem no fundo a água (também presente no sangue solve et coagula e nas escamas do círculo que contém o caduceu de mercúrio); Na cabeça traz o fogo da sabedoria (Sophia), que é o fogo da gnose (iluminação); Nas asas está o elemento ar, que é também o que o eleva acima da terra, elemento de domínio do psicológico e dos pensamentos, e seus dedos apontam para o infinito (o todo).
- Baphomet acima do mundo se senta sobre a pedra filosofal, que é também a pedra imutável, a pedra da construção do templo, das leis imutáveis.
- Baphomet tem cabeça e pés caprinos, o ser que representa o masculino em sua virilidade absoluta, sua capacidade de sacrifício e sucesso (saturno-capricórnio). É também um animal que anda para cima mesmo em solo vertical, ou seja, seu caminho é a ascensão mesmo quando não há chão que o leve até lá.
- Seios femininos e também um símbolo fálico representado por duas serpentes, porque um ser não pode originar por si se não for completo. Ele materializa (terra), reproduz (bode), nutre (seios) e transcende (Sophia).
- O caduceu de mercúrio, as duas serpentes alquímicas entrelaçadas saindo do lugar do falo, como símbolo de criação, o gozo de Baphomet é o que cria a matéria. A criação é dual e une bem-mal, feminino-masculino, material-transcendente. É também símbolo de renovação, regeneração, não à toa variações do caduceu são símbolos que representam a medicina e a psicologia.
- O mudra (posição dos dedos) representa a ligação entre forças (dois dedos juntos com o polegar para fora). Deidades e santos ao redor do mundo são retratados com este mudra, pois significa transição de um lugar para o outro e união entre eles. Baphomet aponta para cima e também para baixo, pois o que não pode compreender e abarcar a dualidade das coisas não pode criar. O que está acima é como o que está abaixo, é a chave esotérica de Hermes Trismegisto.
- As duas luas, uma escura e uma clara tem a mesma simbologia do Yin e Yang. A lua iluminada pelo sol e a lua debaixo escurecida ao lado da terra, indicando a mutação como processo natural.
- Nos braços geralmente se escreve Solve et Coagula. Solve é dissolver, espalhar, e é o braço que aponta para cima, o infinito. Coagula é trazer, intentar, materializar, e é o braço que aponta para baixo, para a terra. Essa é a chave da manifestação para os que entendem. Tudo para se manifestar precisa de uma união entre desejar, criar, prender e soltar, deixar ir, num processo que varia entre solve et coagula. É também o ritmo da respiração, portanto fonte da criação de tudo, até mesmo da nossa vida.
- Os dois chifres da cabeça, com o fogo de Sophia no meio, representam que se alcança a gnose no equilíbrio de dois caminhos. Mão Esquerda e Mão Direita, material e espiritual.
- A estrela de cinco pontas na testa representa a quintessência junta, os cinco elementos ligados e fechados em perfeição, sendo o símbolo da criação, da magia, de vênus e da iluminação. A ponta é para cima, os elementos juntos para o infinito, a ascenção. Quando a ponta está para baixo, indica elementos juntos voltados para a matéria.
Existem mais simbolismos dentro da imagem de Baphomet, e todo um livro poderia ser escrito sobre eles, já que é uma imagem arquetípica perfeita.
As primeiras junções da imagem de Baphomet à deidades ou símbolos de mão esquerda foram feitas pelo grande mago Aleister Crowley, muitos anos depois de Eliphas Levi, e centenas de anos depois de qualquer possibilidade templária. No liber ABA, volume quatro, Crowley diz:
- “O Diabo não existe. É um nome falso inventado (…) para implicar uma unidade na sua confusão ignorante de dispersões. Um diabo que tinha a unidade seria um Deus … ‘O Diabo’ é historicamente o Deus de todos os povos inimigos… Esta serpente, Satanás, não é o inimigo do homem, mas o que fez de nossa raça humana “Deuses”, conhecendo a si mesmo “o bem e o mal”; Ele é encontrado no Livro de Thoth, e Seu emblema é BAPHOMET, o Andrógino que é o hieróglifo da perfeição arcana… Ele é, portanto, a Vida e o Amor. Mas, além disso, sua carta é ayin, o Olho, de modo que ele é Luz; e a sua imagem Zodiacal é Capricórnio, cuja cabra saltando é atributo da liberdade” -.
Após as associações Crowleyrianas, que consideravam Baphomet como perfeito símbolo da iluminação independente e o associavam ao arquétipo satânico (thelêmico, não cristão), como também é concebida no caminho da Mão Esquerda, surgiram a cada vez mais, associações com deidades e entidades. Baphomet começou a ser uma imagem utilizada por seres astrais e físicos para representar a força da liberação, da iluminação e da apoteose; Por isso exus, deidades, sigilos e enns (mantras) foram sendo associados à Baphomet ao longo dos anos pelos mais diversos tipos de culto e de magia.
Dentro de cultos que utilizam imagens de Baphomet para suas representações, quando se está naquela egrégora, utilizando aquele sistema, a imagem de Baphomet tem aquele significado que está sendo dado, mas fora dele não. Baphomet é uma figura arquetípica maior do que cultos e deidades em si.
Para concluir, quando o simbolismo é muito grande ele abarca associações e interpretações, e empresta sua imagem à coisas diversas, como aconteceu com Lúcifer ao longo da história. Baphomet não é o “demônio” dos cristãos, mas muitos cristãos associam seu demônio à ele. Baphomet não é Belzebu, mas muitas quimbandas associam Belzebu à ele. Baphomet não é um ser que possa ser evocado, mas seres poderosos que podem ser evocados na Mão Esquerda se associaram à ele em diversos sistemas de evocação. Estas egrégoras tem sua própria força mágicka criada pelos tantos que as utilizam e os espíritos que nessa energia trabalham, e devem ser respeitadas, mas não são a verdade absoluta, não são a simbologia definitiva de Baphomet.
A imagem de Baphomet não pode ser resumida em um culto, em uma entidade, nem muito menos em motivo de intolerância fundamentalista de quem atira seus próprios demônios na história e nos símbolos que ignorantemente desconhece.
Fique com vídeos de explicação da simbologia de Baphomet:
Conhecimentos da Humanidade sobre Baphomet:
Caciano Camilo Compostela sobre Baphomet