Kurukulla: Aprenda sobre Paixão e Sedução no Budismo Esotérico

Você já sentiu: sedução, paixão, posse, êxtase sexual, sensação de conquista? Já se sentiu bonito (a) e desejado (a) na presença de alguém? Se sentiu aceito (a)?

E ciúme, saudade, nostalgia, empatia exagerada, sentimentalismo em relação à alguem, uma sensação de vazio na ausência da pessoa, você já sentiu?


Se sim, então você já teve um pouquinho de contato com algumas forças selvagens, mas muito humanas, que podem e devem ser compreendidas e utilizadas no seu caminho espiritual.

Você vai descobrir um modo oriental para isso neste artigo-iniciação à Kurukulla: deusa, dakini, anjo, demônio e luz búdica da sabedoria no Budismo Esotérico Tibetano.

A leitura é complexa mas em linguagem simples, portanto leia até o fim e aprenda sobre Kurukulla e o lugar da paixão e sedução no seu próprio caminho espiritual.

Quem é Kurukulla

Origem:

O nome Kukurulla é uma variação de Kurukulle, e se você perguntar a origem linguística correta numa roda de acadêmicos budistas (a pior “roda” que existe junto da roda de sansara e da de samba) vai causar uma baita briga. Isso porque não é exatamente sânscrito, nem muito menos tibetano.

Uma amálgama de palavras indianas antigas, Kuru-Kul-La, significaria em uma junção traduzida “aquela que cria e destrói” e poderia também significar “aquela que tudo conhece” (pois cria e destrói).

O nome de Kurukulla no Tibete, local de seu culto maior e desenvolvimento esotérico é Rigiyedmna (རིག་བྱེད་མ), “a fonte de toda sabedoria”, porém os próprios tibetanos hoje em dia falam Kurukulla e Kurukulle (depende da região).

Também no Tibete ela é conhecida como Tarodbhava Kurukulla, que significa “Kurukulla que vem de Tara”. Isso porque no budismo esotérico tibetano é ensinado há mais de mil de anos que Kurukulla seria a face irada, ou seja, mais intensa, de Tara Vermelha.

Imagem tibetana de Tara Vermelha, a conquistadora

O culto de Kurukulla começou no budismo esotérico com o texto-prática “Arya Tara Kurukulla Kalpa”, que você pode encontrar aqui traduzido em inglês como The Practice Manual of Noble Tara Kurukulla.

Foi Dombi Heruka quem compilou este texto-prática (sadhana) que foi traduzido ao tibetano por Tsultrim Gyewa da tradição Kangyur há mil anos atrás. Dombi Heruka era um grande iniciado nos mistérios da deusa Kurukulla, um mahasidha.

Os mahasiddha são os magos indo-tibetanos que deram origem aos monges feiticeiros que estudavam os dharani (magia mântrica); que por sua vez deram origem ao Vajrayana já que eram motivo de perturbação para outras escolas mais conservadoras de budismo canônico.

Fato que Kurukulla é uma deidade cujos primeiros cultos e imageria vem da lendária terra de Uddyana, ainda bem antes de Dombi Heruka. Um local que ficava mais para a terra “proto tibetana” do que para o que chamamos hoje de Índia, entre o oeste do Tibete e Nordeste da Índia.

Uma terra lendária de localização muito controversa, já que na época a geografia era totalmente diferente do que conhecemos hoje.

Uddyana é também onde Padmasambhava, o Guru Rinpoche, lendária figura introdutora do budismo no Tibete e das escolas esotéricas, o iniciador maior do budismo Vajrayana, atingiu sua iluminação, trazendo todos os seres lendários e deuses de Uddyana (e de toda região tibetana) para o lado do budismo, ou seja, para o serviço à iluminação, para a evolução.

Padmasambhava: O famoso Guru Rinpoche

Uddyana é conhecida como a terra das Dakini. Em alguns tipos de budismo, especialmente esotéricos e da linhagem Vajrayana, a Dakini é um tipo de “deidade”, um ser iniciador em Mistérios, e Kukurukulla é uma Rainha Dakini.

Dakinis: temidas e buscadas, elas representam a obtenção da iluminação através da satisfação do desejo, um caminho que por mais romântico que possa parecer, está longe de ser para todos

Segundo Verónica Rivas do excelente Blog Melong Yeshe, e a melhor autora moderna sobre Kurukulla, Dakini era na antiga Índia uma palavra também para mulheres que trabalhavam com a sexualidade (prostitutas e afins), com sua sensualidade feminina.

Com certeza não é no sentido pejorativo no budismo e no tantra, pois a sexualidade jamais será pejorativa a menos que careça totalmente de compaixão e consciência; mas de fato, as Dakinis são iniciadoras que representam sempre desejos e prazeres.

Assim como os Tengu no Budismo Esotérico do Japão, as Dakini também são criaturas míticas, deidades tanto anjo quanto demônio e humanóides, que iniciam seres humanos em mistérios naturais, magia, enfim, que concedem conhecimentos e poderes.

A diferença é que as Dakinis são bem mais atraentes. Os Tengu também sempre trazem elementos humanóides masculinos, até os narizes muitas vezes em formato fálico, enquanto as Dakini trazem sempre elementos muito femininos como seios fartos e corpo com muitas curvas.

Se me refiro à Kurukulla como deusa é porque as linhagens de budismo às quais eu sou iniciado (tibetano e sino-japonês) e às quais trouxeram sua prática ao longo de milênios, são esotéricas, e descendem diretamente de ensinamentos tântricos.

No budismo tântrico a deidade serve como representação, como um ser que reúne arquétipos e mistérios, e meditar neles, se unir à eles, é uma forma relativamente segura de entrar nestas forças e mistérios, e se familiarizar com elas invocando a força através do símbolo e do som (mantra).

É claro que muita gente ainda pergunta o que é budismo tântrico e budismo esotérico. O budismo esotérico descende do tantra, traz ensinamentos tântricos em si. Explicar mais do que isso é como perguntar qual é a diferença entre “partido alto” e “pagode”. É isso.

Só que mais do que isso…Kurukulla de fato era uma deidade popular daquela região proto-tibetana ou indiana; ela era a personificação da energia primordial: sexualidade, paixão, posse, domínio, entrega e desejo.

À despeito de histórias de algumas linhagens que tentam colocar Kurukulla como uma deusa da nobreza, apesar de ser a Rainha das Dakinis, ela já era há milênios invocada por pessoas do povo mesmo, em magias de amarração, subjugação e até mesmo vingança.

Enquanto deusa tribal era dito que ao se pronunciar algumas palavras mágickas, ou dez mil vezes o seu mantra em cima de flores, frutas e comida em geral, ao oferecer para outra pessoa isso se tornava um “filtro mágico”, podendo seduzir, subjugar e até deixar a pessoa totalmente confusa.

Era dito também que a prática tântrica de Kurukulla (de união pessoal com a deidade), poderia fazer uma pessoa desenvolver os siddhis (poderes) de sedução e magnetismo totais.

Kurukulla é minha Yidam (deidade tantrica) e apesar de, possivelmente por causa disso, eu tenha uma vida afetiva-sexual extraordinariamente rica e bem “Kurukulla”, ainda não seduzi 100% das pessoas que quis. Talvez me falte prática.

As qualidades de Kurukulla são tantas que até mesmo exorcismos e subjugação de outras deidades entram na lista litúrgica dos ritos de Kurukulla naquela região.

Simbologia:

Como é uma dakini e uma rainha, Kurukulla é uma representação totalmente feminina. Todos os seus atributos são da parte feminina do sagrado. Sua sexualidade é muito aflorada, e isso é mostrado, desde os tempos mais antigos da arte daquela região, em seu corpo todo cheio de curvas.

Sim, essas são as curvas na arte daquela época, e não reclame, estão melhores que as do Oscar Niemeyer

Kurukulla tem quatro braços. No budismo esotérico tibetano se diz que isso se deve ao fato de ela trazer na sua movimentação as quatro graças da sabedoria, sendo elas: Amor (apreço, cuidado, satisfação, desejo de bem, ligação profunda), Alegria (felicidades), Compaixão (compreender, captar, sentir, seja para amar ou corrigir) e Equanimidade (equilíbrio em todas as situações, domínio de si).

Kurukulla no entanto traz em seus quatro braços alguns elementos mágickos, como por exemplo o arco de flores e a flecha da paixão.

Do arco brotam flores pois Kurukulla pode fazer brotar e desabrochar sentimentos, suas armas são flores. São sutis, surgem e desabrocham, perfumam e estão em constante mutação. A flecha é o que dispara o desabrochar dos sentimentos.

A flecha de Kurukulla também significa movimentação, mudança, ação. Kurukulla não é uma deidade para “contempladores” e sim para gente que age. Não adianta “pedir” nada para Kurukulla ou praticar a parte esotérica e ficar parado. Kurukulla ajuda um rejeitado, já que isso também faz parte de seu mistério, mas nunca alguém que rejeitou à si mesmo na solidão e desistiu.

Ela dança pois as forças representadas por ela estão sempre em movimento e mutação. Errar um passo não é o fim da dança, pois Kurukulla está lá dançando eternamente, e as coisas estão sempre mudando e se movendo.

A dança é também indício de estado alterado de consciência e intensa sensualidade convidativa.

Seu rosto, no entanto, é irado, o que significa que a energia de Kurukulla contempla o lado positivo e negativo das coisas. Ela significa tanto o desejo quanto o medo; o êxtase e a rejeição; tanto a posse e a sedução quanto a saudade e a morte do que passou para ser vivido novamente, desabrochado como as flores do seu arco.

Aliás flor é o que não falta na imageria de Kurukulla. Em seus outros dois braços você encontra um cetro em forma de gancho, também feito de flores. O cetro é uma forma de poder, de domínio e realeza, em formato de gancho pois Kurukulla é o poder de atração. A rainha da atração. A própria atração.

Em sua outra mão ela traz um laço, também de flores, para subjugação, retenção daquilo que é desejado.

Kurukulla, ao contrário de outras dakinis não dança totalmente nua. Ao contrário de Vajrayogini que expõe todo seu corpo, Kurukulla traz na cintura uma pele de tigre. Nos tantras antigos isso significa domínio sobre toda força animal, terrena, natural do ser humano. Desde ferocidade sexual até domesticação do selvagem.

Quem tem uma roupa feita de tigre também no oriente é Sun Wukong, o famoso Rei Macaco de Journey To The West  (西游记); tão popular na literatura, cultura chinesa e oriental em geral, e no mundo todo por desenhos, games, etc.

Imagem chinesa de Wukong. Ele usa essa roupa pois indica sua preparação e domínio da força animal, tanto no sentido de poder usá-la quanto controlá-la.

Ao contrário do seu companheiro porco, o personagem Zhu Bajie, Wukong utiliza sua parte selvagem e poderes caóticos para o que quer e quando quer, e não é dominado por eles. Mesma coisa com Kurukulla, já que a simbologia oriental vem deste ensinamento tântrico.

Kurukulla traz em volta de si o fogo da iluminação, mas também o fogo do desejo. Seus cabelos apontam para cima também, conectados ao fogo, simbolizando que ela é parte dele. Kurukulla é o fogo do desejo e também da sabedoria.

Kurukulla dança sob o disco solar e a flor de lótus. Ela tem portanto o domínio do que está cima da terra, e do que vem por baixo da mesma.

Na sua coroa existem cinco caveiras, que significam literalmente estar aléms das vidas terrenas, em várias vidas. Alguns associam isso também a sua vitória contra os cinco maiores medos da humanidade (como Tara), e outros com a força de terminar e iniciar as coisas da mesma forma.

Seu colar de cinquenta cabeças humanas indica muito claramente como o desejo, a posse, a paixão e todos os seus atributos bons e ruins, positivos e negativos, dominam o ser humano. Ela tem a cabeça da humanidade no colar.

Kurukulla tem também o domínio sobre deuses. Muitas vezes, a pessoa em que kurukulla está pisando não significa apenas seu poder de subjugação dos outros, mas é representado como o próprio Kamadeva o antigo deus hindu do amor, ou como Rahu, o deus devorador da lua, o eclipse (parte obscura do sagrado).

Kurukulla é por isso aquela que domina o amor na sua expressão mais intensa. É também interpretado como quando transcendemos o corpo e seus medos, anseios, e simplesmente entendemos nossas vivências e emoções, sucessos e fracassos, juntamos isso tudo e vemos Kurukulla dançando sobre nós.

A sabedoria e a sexualidade

O paralelo traçado entre sexualidade e sabedoria não é exclusividade da espiritualidade oriental. O tantra tem este paralelo, assim como o taoísmo e o budismo esotérico também, mas a matéria que estuda a sexualidade ligada à energia vital no ocidente se chama Energética.

Eu aprendi a Energética em diversos cursos com Gasparetto, que sabia muito sobre isso, e não tinha qualquer influência tântrica ou oriental. Aprendi também bastante à respeito da sexualidade na Magia Sexual do esoterismo ocidental.

Uma boa introdução à alguns conceitos de Energética você encontra aqui, sobre quanto tempo ficamos com a energia sexual de quem nos relacionamos, e sobre o ato de beijar na boca de alguém.

A sexualidade é nossa energia vital em expressão. Esta energia vital pessoal pode ser chamada de Prana, Qi, Ki, Energia Ectoplásmica, Orgona, Energia Yin, Energia Yang, Tai Chi, ou como quiser.

Portanto é impossível separar a energia vital da sexualidade, é como tirar o café de um capuccino.

A sexualidade exige um conhecimento para ser expressada com sentido, e este conhecimento inclui o conhecimento de si (consciência) e o conhecimento do outro (compaixão), ou seja consciência e compaixão são o que fazem sua sexualidade espiritualmente saudável, e benéfica para você.

Consciência + Compaixão = Sabedoria no budismo esotérico.

É claro que este caminho de sabedoria (não o único, mas um extremamente valioso) é cheio de perigos, erros, acertos, êxtases e dores, e por isso as Dakinis, iniciadoras no mistério da sabedoria e do conhecimento, são desejadas e temidas ao mesmo tempo.

Kurukulla é a representação deste caminho. De consciência e compaixão através da compreensão do desejo e da paixão. Não é um caminho fácil. Requer paciência, coragem, resiliência e muita nobreza.

Tocar a si é o caminho da consciência, tocar ao outro é o caminho da compaixão, e na sexualidade se envolve estas duas coisas inseparáveis. Isso é Kurukulla.

Kurukulla só tem uma cabeça pois simboliza a dualidade em um único lugar, consciência e compaixão sim, mas também desejo e medo (como toda deidade irada). Ela é o sentimento de conquista, mas também a transmutação da rejeição neste sentimento.

Ela é um ser ígneo, traz o fogo transformador e que apesar de assustadora, traz em si todos os elementos para a conquista. Kurukulla ensina que a rejeição e o medo contidos em sua imagem, são também parte da sexualidade consciente que desemboca no sentimento de vitória e conquista. Ensina que a subjugação pode ser compassiva e nobre.

Colocando em termos práticos, em linguagem de bar como eu gosto: Kurukulla ensina que para você viver a sensação de conquista, deve se entregar à sensação de rejeição, quantas vezes for preciso, e conhecê-la, pois isso é consciência. A consciência da conquista vem da conquista da rejeição.

Kurukulla ensina que subjugar sem se gabar, com respeito e reverência, aceitando o “não”, aproveitando o “sim”, conquistando o “sim”, isso é compaixão. Ela é uma rainha e detesta todo tipo de falta de nobreza neste sentido.

Quem não aceita ou não sabe lidar com rejeições não consegue o sentimento de conquista, desejo e satisfação. Quem não sabe ser nobre e compassivo, perde o seu direito à subjugação, pois se torna tirano e exigente, chato e agressivo. Quem se gaba da conquista, oculta seu medo de rejeição, e perde a consciência e a compaixão.

Kurukulla é portanto a sexualidade observada e trabalhada em suas nuances, prazerosas e dolorosas. Se você fizer um bom “dever de casa”, ela é uma deusa muito solícita para atender seus desejos e te mostrar como conseguir mais do que te faz bem.

Desejo e paixão é onde reina kurukulla.

A diferença, portanto, de invocar kurukulla e colocá-la na sua sexualidade, que é o que a prática dela faz, para uma invocação simples de magia de amarração ou subjugação, é que kurukulla é um trabalho interno, que vai mexer com suas emoções e sua vida.

Isso pode parecer mais perigoso, e é, porém à longo prazo é muito mas muito mais valioso! É colocar a pele do tigre do seu próprio animal interno na sua cintura. É conhecer a sua sexualidade, não ter medo dela nem escondê-la. É não ligar mais sua sexualidade à sujeira, pois ela é limpa, mesmo com o mais “baixo” dos desejos, se ligada à consciência (sua sexualidade) e compaixão (a sexualidade do outro).

A dualidade de uma jovem dakini dançando como quem se oferece, e mirando seu arco de sedução, se mostra no perigo iminente de seu rosto irado, seus cabelos desgrenhados para cima como que prestes a atacar.

Essa dualidade é muito típica do oriente, mas reflete a vida em todas as suas formas em nosso mundo passageiro. Rejeição pode virar sucesso (e vice versa). Amor pode virar saudade, ciúmes podem virar motivação, e da lama nasce o lótus acima do qual dança Kurukulla.

Alguém que se identifica com Kurukulla, que medita e se visualiza como ela, faz seus mantras e emerge em sua simbologia não pode temer ser rejeitado 99 vezes seguidas se na centésima conseguir exatamente o que quer na sua sexualidade, por exemplo. Pois isso é transmutação.

Este alguém vai conhecer conscientemente o êxtase e tocar o espírito dos outros, e sua expressão sexual será de beleza. Mas este alguém não pode evitar a dor da saudade, nem pode entrar no apego exclusivista da paixão por muito tempo, pois a dança de Kurukulla é dinâmica e eterna. Ela não para nunca.

Posso estar falando numa linguagem simbólica, com mensagens nas entrelinhas, mas este é o ensinamento esotérico de Kurukulla mais acessível que você vai receber em qualquer língua. Não é sobre palavras vazias, as palavras aqui fazem sentido e são aplicadas. Não é sobre brincar de “iluminado” sentado confortavelmente, isolado e em ilusão.

Kurukulla é a prática. É a ação, é crua mesmo, selvagem, mas é de uma iluminação verdadeira, e por isso tantos budistas que se sentam para fazer sua masturbação mental em forma de “iluminação” pessoal, coisas que só os distanciam dos outros e deles mesmos, nunca terão acesso.

Por isso Kurukulla continua esotérica, restrita, mesmo que sua imageria esteja em qualquer site e seu mantra em qualquer vídeo. Poucos são os que realmente vão praticar Kurukulla. Poucos são os “iniciados” que a praticam, mesmo entre aqueles que se intitulam como tal.

Iniciação no verdadeiro budismo esotérico oriental não é uma energia que passa de mão em mão; É uma compreensão de um mistério que adquire forma, cores e som, que é aplicado na vida da pessoa, representa as coisas e ensina através destas representações.

Fora do conhecimento não existe iniciação. Encontros, grupos, hierarquias, tudo não passa de ilusão sem um conhecimento prático que o justifique. Não se deixe enganar.

Magia de Sedução é Errado?

Muita gente ainda vê magia como tirada de um filme estilo da antiga “sessão da tarde”. A ilusão de que algumas palavras magickas ditas corretamente podem alterar a matéria imediatamente, se manifestar em luzes e raios contra nossas antipatias e criar dinheiro do prana, são ainda doces na nossa mente.

Cena do filme Jovens Bruxas: “leve como pena, duro como brasileiro após impostos”

O fato é que magia sempre esteve ligada à ciência ao longo da história. Não no sentido de jalecos e academicismo, mas no sentido de ser conhecimento prático de causa e efeito, de tentativa e erro.

A Magia pode ser interpretada como uma influência, como muitos dizem hoje. Mas pode ser também, e eu vou colocar aqui de novo, a definição magistral de Aleister Crowley:

“Todo ato consciente é um ato de Magia” – A. Crowley

Ato consciente não é um ato com “atenção”, é um ato de poder, é um ato de Vontade! Tudo que mexe sua vontade é um ato de poder. É magia.

Se você interpreta a Magia como os filmes, não vai durar muito tempo neste caminho, e nós já vemos o seu futuro louvando ao senhor do lado de quem se travestia de mago, mas que agora assegura sua conversão nos mesmos escritos e crenças que tentava constranger.

Agora, se você interpreta a magia como ato consciente, ato de poder, ou como uma influência (e é tudo isso mesmo), você deve concordar que uma mulher que se maqueie bem está fazendo magia.

Um homem que se vista com sua melhor roupa no dia de um encontro, que tenha um perfume que combina perfeitamente com sua presença, ao passar este perfume está fazendo magia.

Sério, eu tenho um perfume que utilizo há tantos anos que virou o meu cheiro, e é muito mais eficiente em mim para influenciar a atração do que filtros e óleos mágickos de diversas tradições. Acredite eu já testei umas dezenas, sou da turma de Kurukulla.

Não existe qualquer justificativa para tratar a magia de sedução como um ato totalmente alheio ou estranho ao de se maquiar ou ter um perfume atraente, por exemplo.

A magia deve ser um ato consciente conjunto com estes citados. Por isso que não adianta nada fazer trocentas magias de atração se você sai sujo ou demonstra a sua “pior versão” na aparência. Nem adianta ser lindo e falar besteiras, ser agressivo ou ser impositivo em suas ideologias.

Atração é magia. Seja na sua maquiagem, no seu perfume, na sua ritualística, no seu mantra, na sua visualização, na sua respiração. Tudo isso pode ser atração, tudo isso é magia.

Então tire de sua cabeça que qualquer palavra mágicka, qualquer exercício de respiração possa ser mais ou menos poderoso que qualquer outro ato consciente que FUNCIONE para atrair o que você gosta e o que quer. Na atração tudo é justo, e se funciona é bom.

Afinal, o mesmo cara que disse que “todo ato consciente é um ato de magia”, também dizia que “seja o sucesso a tua prova”. E para complementar, advirto: Até lá mantenha o silêncio. Nem a magia nem a atração suportam tagarelice ou demonstrações demais.

Prática de Kurukulla:

Iniciação:

Hora de gerar alguma polêmica, mas eu vou sim, devidamente autorizado, postar a iniciação à Kurukulla, o “empowerment”. É preciso falar no mínimo inglês, claro para entender, e as legendas podem ser ativadas no vídeo.

Para saber se iniciação é “essencial”, por favor leia o capítulo correspondente neste artigo.

São muitos os Lamas que quando perguntados sobre iniciação online dizem imediatamente serem válidas. Esta é uma iniciação de Garchen Rinpoche, que ao ser questionado se iniciação ou “receber o lung” de forma online é válida foi categórico e disse algo mais ou menos assim:

“Os empoderamentos (lungs) foram preservados através de textos, de sutras e ensinamentos escritos. A iniciação dos antigos foi ter acesso a estes documentos. Hoje temos mais do que textos, temos vídeos e sons, que podem ser obtidos de forma mais fácil ainda. A única coisa nestes dias que devem impedir alguém de obter o Lung (empoderamento ou iniciação) deve ser a sua própria mente”. – Garchen Rinpoche, em tradução livre.

Ele está perfeitamente correto. Imagine que todo budismo que floresceu na China e depois foi para o Japão nasceu de um monge que fez sua Jornada ao Ocidente, provavelmente sem o deus macaco a não ser na própria mente, mas esta foi a iniciação dele.

Se os ensinamentos ao serem escritos e passados de geração em geração deram a instrução, e logo a autoridade para ser passados adiante o que dirá a energia gravada em áudio e vídeo? 

Para complementar a resposta de Garchen Rinpoche, e de muitos Lamas famosos que pensam como ele, eu digo que a energia não obedece ao nosso tempo e espaço.

Claro que para alguns o que vale é a instrução, e essa era a forma antiga de empowerment, ou Lung, você recebia as instruções do mestre e então recebia o mantra e escritos sobre a deidade para praticar. Os tibetanos pagavam aos seus mestres em ouro puro há séculos atrás, simplesmente por isso.

Se para você, no entanto o que vale é a “energia”, bem, a energia pode perfeitamente ser passada pela “impressão”. Eu mesmo, morando no oriente há mais de década, me iniciei como Rosacruz de forma online, guiado pelas instruções de monografias “secretas” da Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz – AMORC. E não é só a AMORC que admite isso.

Outras escolas rosa-cruzes e a própria Astrum Argentum de esoterismo Thelêmico admitem e propiciam a experiência da iniciação mesmo à distância.

Se você ainda tem dúvidas em relação à isso, veja que uma prática mediúnica comum no Brasil advém de pontos cantados gravados também, e que também chamam a força de entidades.

Outro dia assistindo à um episódio da KBC – Caçadores de Fantasmas no meu muito raro tempo livre, vi que eles entravam numa casa onde havia ocorrido o homicídio de uma esposa e seu filho criança, por parte do próprio pai.

O fato terrível havia acontecido há anos, mas todos os integrantes da equipe se sentiram mal, com dor de cabeça e a energia extremamente pesada, pois a energia ficou na casa. Não importa se a ação ocorreu há anos, várias energias não obedecem o mesmo tempo e espaço da matéria física, especialmente as mais intensas.

Famoso Palacete Rosa no Ipiranga-SP, comprado por Luiz Gasparetto. Mal assombrado por formas-pensamento

Quando Gasparetto comprou seu “palácio” em São Paulo e pagou para fazerem a restauração, nem os restauradores nem pedreiros queriam ficar lá, porque muitos diziam ver o espírito de uma mulher andando de um lado para o outro.

Ele disse que ao tentar comunicação percebeu que não era um espírito e sim uma forma pensamento intensa que permaneceu naquele local, que andava ainda de um lado para o outro. Com a ajuda de um amigo limparam a casa e a “aparição” parou.

Aqui na China existe toda uma arte de estudo energético de locais chamada Feng Shui (se lê mais ou menos fon chuei em Mandarim); esta ciência estuda exatamente como deslocar, limpar, cobrir ou substituir energias antigas de um local. Estas energias independem do que está acontecendo agora, elas simplesmente ficaram ali.

Quando eu estava estudando magia afro-brasileira, anos atrás, ouvi de um sacerdote sobre o poder do ofó, ou seja, da palavra falada, da magia lançada pela boca, praticamente mantra; ele falava sobre a maldição da mensagem gravada, e como é possível amaldiçoar alguém com um áudio gravado no whatsapp de forma ainda mais selvagem e intensa do que matando galinha e amarrando dentro de um bode. E ele comprovou isso algumas vezes.

É portanto, do ponto de vista esotérico, totalmente possível, para o bem ou para o mal, que a energia seja gravada, enviada e recebida independente do tempo e espaço desde que haja intensidade ou intenção suficiente para isso, de quem envia e de quem recebe.

Limpe portanto sua mente e agradeça a Garchen Rinpoche que muito generosamente, assim como outros Lamas tibetanos, tem disponibilizado recentemente suas iniciações DE GRAÇA, algo totalmente inédito na história e isso sim, nada comum no oriente. Ele apenas recebe doações de quem quiser e se sentir beneficiado.

A iniciação não deve, obviamente, ser pausada, distraída, nem entreouvida.

Bija:

Esta é a sílaba sagrada de onde vem Kurukulla. Meditar ou visualizar o Bija de Kurukulla é como ver a própria ou falar diretamente à sua raiz.

HRIH (se lê RI com sotaque de sulista)

Visualização:

Você pode encontrar imagens em alta resolução e mandar fazer um quadro em qualquer gráfica. Isso era impossível há anos atrás, e para visualizar Kurukulla era preciso receber um Thangka de algum mestre.

Mesmo em 2012, quando comecei a praticar era muito difícil achar imagens dela na internet, sendo a maioria pequena demais ou em baixa resolução, e tive literalmente que esperar ir para à China em 2013 para obter meu primeiro Thangka de Kurukulla. Hoje é MUITO mais fácil.

Mantra:

O mantra de Kurukulla, ou mantra principal dela é

OM KURUKULLE HRIH SO HA

Como já explicado o HRIH se pronuncia com sotaque sulista como se ouve bem no vídeo abaixo:

A pronúncia do Hrih em tibetano pode variar. Em algumas tradições se pronuncia shri, mas na maioria é Hrih (com R gaúcho) mesmo. Quando eu aprendi o mantra eu falava Om Kurukulle Shih Soha, isso porque em chinês é assim que se pronuncia.

Chineses não conseguem, em geral, falar o R tremido, e isso explica a raiva da minha esposa quando eu peço que ela diga “arara” ou “aranha”, por exemplo. Por isso eles falam “SHI” ao invés de Hrih. Apesar da pronúncia estar errada, ela funciona.

No Japão, a maior parte dos mantras do budismo esotérico são pronúncias ajaponesadas dos mantras em sânscrito, e funciona também por mais de mil anos.

Fui delicadamente corrigido durante minha iniciação formal em 2017 (iniciação pode ser opcional, mas ter um iniciador-instrutor é ESSENCIAL no budismo esotérico), e desde então que comecei a pronunciar o mantra corretamente.

Dito isso, para praticar o mantra siga o vídeo pois tem exatamente 108 repetições, mas lembre-se de adquirir um Japamala.

Japamala são aqueles rosários orientais de 108 contas geralmente, para fazer mantras. Existem também os de 18, 28, 12…depende da tradição de budismo e da prática, mas o tradicional e multi-uso é o de 108 contas.

Você não precisa adquirir um japamala caro, e eu mesmo comecei com um de plástico devido à péssima condição financeira da época; hoje tenho uma coleção de japamalas de cristal, madeira, ônix e sementes. Comece com o que pode.

O que eu aprendi no budismo esotérico Japonês e no Majutsu, é que especialmente com deidades iradas, devemos fazer, por auto-iniciação, o mantra dez mil vezes como introdução à prática.

Parece muito mas não é, especialmente se você dividir em dez dias. Cada dia, sentadinho, você faz dez malas de 108 contas (1080 repetições), e já é mais que suficiente.

Esta é uma prática japonesa e não tibetana, mas como eu pratico ambos, fiz também há vários anos para Kurukulla após minha iniciação formal em 2017. Lembrando que eu já praticava Kurukulla sem iniciação desde 2012, e tive apenas benefícios.

Mudra:

O mudra de Kurukulla tem origem chinesa e não tibetana nem hindu. Eu coloco aqui à nível de estudo e também para que experimente recitar o mantra enquanto faz o mudra e sinta a diferença.

Na China, Kurukulla é muito popular, é conhecida como 作明佛母 (zuo ming fo mu), ou mãe buddha da sabedoria em tradução livre.

No templo Yonghegong (雍和宫), o Lama Temple em Beijing, existe um Thangka de Kurukulla que já data uns 600 anos, e é lindo, com uma energia bem forte.

Mudra de Kurukulla

Mãos juntas, o dedo anelar que é o dedo do amor, conhecido por dedo de vênus de ambas as mãos é abaixado e eles se encontram dentro das mãos que formam uma concha.

No vídeo abaixo é possível ver (no fim do vídeo, após um monte de propaganda), como se junta as mãos no mudra de Kurukulla. A tradição chinesa de Kurukulla é totalmente voltada para seu poder de sedução e resolver “a vida afetiva” das pessoas, mas é muito forte.

Bem, você aprendeu muito sobre Kurukulla neste artigo-iniciação à ela. Ele está bem mastigadinho, então agora cotribua com a sua fidelidade. Compartilhe este artigo, indique e lembre de nos seguir e engajar no INSTA do Mente Magicka.

O nosso instagram é novo, passou por uma reforma onde foram excluídas mais de 2900 pessoas para dar espaço apenas aqueles que querem aprender magia oriental, budismo esotérico, Energética e espiritualidade em geral…você que chegou aqui é uma presença bem vinda.

Conto com você neste começo de trabalho, já que escrevo no meio do expediente ao longo de vários dias, entre planilhas, emails, contas e um mooooonte de afazeres que ficam “para depois”, até que eu possa me dedicar apenas à ensinar espiritualidade.  

Que nossas almas se encontrem em nossos esforços,

FIAT LUX!

2 thoughts on “Kurukulla: Aprenda sobre Paixão e Sedução no Budismo Esotérico”

  1. Após a realização das 10.000 repetições do mantra caso não se sinta afinidade com a energia da deidade é só simplesmente seguir a vida ou é necessário algum tipo de desconexão ?

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    • Olá Jônaco, não é preciso qualquer tipo de desconexão. A conexão só acontece quando se sente afinidade, é um requisito básico. Agora o arquétipo que representa a deidade, este sim, é algo com o qual você pode estar ligado, mas existem outras deidades no Oriente e no Ocidente que podem representar isso da mesma forma.

      Reply

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